O Exorcismo de Emily Rose | Vale a pena assistir?
Lançado em 2005, O Exorcismo de Emily Rose, dirigido por Scott Derrickson, é um suspense que trafega com equilíbrio entre o drama de tribunal e o horror sobrenatural. Inspirado no caso real da alemã Anneliese Michel — jovem que morreu em 1976 após passar por dezenas de rituais de exorcismo —, o filme propõe uma abordagem mais sóbria e reflexiva do que os tradicionais longas do gênero.
O roteiro, coescrito por Derrickson e Paul Harris Boardman, estabelece sua narrativa a partir do julgamento do padre Richard Moore (Tom Wilkinson), acusado de negligência após a morte de Emily Rose (Jennifer Carpenter). Ela era uma jovem universitária que, segundo os médicos, sofria de epilepsia e transtornos psicóticos, mas que, segundo o padre, estava possuída por forças demoníacas. Esse embate entre ciência e fé é o verdadeiro núcleo do filme — e o que o diferencia de tantos outros “irmãos menores” de O Exorcista.
A escolha do formato jurídico para conduzir o enredo permite uma estrutura interessante. O filme se organiza em flashbacks apresentados como evidência no tribunal, enquanto a promotoria e a defesa tentam convencer o júri (e o espectador) de suas versões dos fatos.
O grande elenco de O Exorcismo de Emily Rose
Laura Linney interpreta Erin Bruner, advogada de defesa que aceita o caso inicialmente por razões profissionais, mas que, aos poucos, se vê desafiada pelas complexidades do julgamento — e pelas consequências espirituais de defendê-lo. Linney conduz a personagem com inteligência e sobriedade, tornando crível a transição de uma mulher pragmática para alguém que passa a questionar a própria realidade. Do outro lado, Colm Feore, como o promotor Ethan Thomas, representa a lógica fria da ciência e do ceticismo judicial. Ambos oferecem interpretações sólidas que sustentam a tensão narrativa.
Já Tom Wilkinson, embora um ator experiente e talentoso, carrega um personagem que parece preso a certos estereótipos. O padre Moore é construído com traços previsíveis: fala pausada, olhar sofrido, frases enigmáticas. Falta-lhe nuance.
O grande destaque do elenco, no entanto, é Jennifer Carpenter. Sua entrega física e emocional como Emily é impressionante. A atriz mergulha de corpo e alma nas cenas de possessão, que, mesmo não sendo constantes, são perturbadoras o suficiente para marcar o espectador. Seu desempenho consegue despertar empatia e horror na mesma medida, sendo essencial para que o filme funcione emocionalmente.
O visual e as belas locações
Visualmente, O Exorcismo de Emily Rose se beneficia de belas locações e de uma fotografia que aposta na sobriedade e no contraste. O uso das sombras, dos espaços vazios e dos ambientes opressivos reforça a sensação de isolamento e medo. A direção de arte evita o exagero, criando um ambiente que parece possível, real — o que só aumenta o impacto das cenas sobrenaturais.
Scott Derrickson, que mais tarde dirigiria A Entidade e Doutor Estranho, mostra aqui um controle maduro do ritmo e do tom. Ele sabe dosar o drama e o horror sem permitir que um sobreponha o outro. Outro ponto a favor do filme é sua recusa em oferecer respostas definitivas. O roteiro não fecha a questão sobre o que, de fato, aconteceu com Emily. Teria sido uma condição médica mal interpretada pela religião? Ou uma possessão real ignorada pela ciência? A decisão é deixada para o espectador, o que confere ao longa uma ambiguidade interessante — e rara em produções do gênero.
Ainda assim, o filme tem seus tropeços. Em alguns momentos, a narrativa jurídica se alonga demais e quebra o ritmo da tensão e certas falas são expositivas. Mesmo com essas pequenas falhas, O Exorcismo de Emily Rose é eficaz e instigante. Em tempos em que o terror muitas vezes se rende ao barulho e à pressa, é louvável ver um filme que aposta na reflexão, na dúvida e na inquietação.
Mais do que um relato de possessão, é um drama sobre a forma como interpretamos o mundo — seja pela ciência, pela fé, ou por algo entre os dois. E, nesse sentido, ele assombra não apenas pelo que mostra, mas pelo que sugere.
Onde assistir a O Exorcismo de Emily Rose
- Stream: HBO Max | Prime Video
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Sinopse de O Exorcismo de Emily Rose
Na década de 70, num dos poucos casos de possessão reconhecidos pela Igreja Católica, um padre é acusado da morte de uma garota de 23 anos. Entra então no caso a advogada Erin Bruner para defendê-lo, mesmo sem acreditar em possessões demoníacas ou coisas similares.
Nota: ★★★★
Título Original: The Exorcism of Emily Rose
Ano Lançamento: 2005
Dir.: Scott Derrickson
Elenco: Laura Linney, Tom Wilkinson, Jennifer Carpenter, Campbel Scott, Clon Feore, Mary Black, Joshua Close, Duncan Fraser
Curiosidades de O Exorcismo de Emily Rose
- A audição de Jennifer Carpenter foi tão convincente e assustadora que o diretor decidiu escalá-la imediatamente.
- Para se preparar para o papel, Jennifer Carpenter passou horas em uma sala cheia de espelhos, testando diferentes posições corporais e expressões faciais para descobrir o que causava mais medo.
- O filme é baseado na história real de Anneliese Michel, uma jovem alemã dos anos 1970, cujo exorcismo levou seus pais e dois padres a serem processados por homicídio culposo.
- O júri no filme não recebeu o roteiro completo, para que não soubessem o desfecho do julgamento.
- O quarto de Emily e os arranhões na parede foram inspirados por uma pintura de Francis Bacon.
- Foram construídos dois bonecos para O Exorcismo de Emily Rose, mas o diretor optou por não usá-los porque Jennifer Carpenter conseguia contorcer seu corpo de forma mais assustadora.
- Laura Linney recomendou Jennifer Carpenter para o papel, dizendo que era a melhor jovem atriz que já viu.
- O diretor planejava usar muitos efeitos visuais, mas desistiu após ver a habilidade de Jennifer em se contorcer naturalmente.
- A equipe de filmagem criou a “string cam” — uma câmera pendurada em uma corda — para capturar ângulos estranhos.
- O filme Rashomon (1950) foi uma grande influência, com sua narrativa baseada em múltiplos pontos de vista no tribunal.
- Na vida real, durante as gravações, a TV de Laura Linney ligava sozinha no meio da noite.
- Dario Argento, mestre do horror italiano, foi uma das principais influências visuais do diretor.
- Jennifer contou que, durante as filmagens, seu rádio ligava sozinho de madrugada e tocava repetidamente “I’m Still Alive” do Pearl Jam.
- A equipe estudou clássicos de tribunal como O Veredito (1982) e Anatomia de um Crime (1959) para preparar o filme.
- Scott Derrickson pediu que Jennifer assistisse a O Martírio de Joana D’Arc (1928) para se inspirar em uma cena específica.
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