Sim minha gente! Fizemos uma entrevista com o dublador de Pantera Negra, Rodrigo Oliveira. Ele nos contou sobre o início de carreira, o processo de escolha para ele ser a voz de Tchalla, o ‘mimimi’ por conta de serem dubladores brancos a trabalhar no filme da Marvel e muito mais.
Em início de carreira conta que “os primeiros foram vozerio, como todo dublador começa. Até ganhar a primeira falinha (que alegria!!!). O primeiro vozerio foi no filme “Operação Sol Nascente“, com Steven Seagal e o segundo foi em “xXx – State of Union“, ambos na Cinevídeo, com direção do Dário de Castro. O primeiro personagem foi na Delart sob a direção do Mário Monjardim no seriado “Mork & Mindy“
Rodrigo deu um alô e uma palhinha de alguns de seus trabalhos neste vídeo abaixo!
Cinema e Pipoca: Você sempre quis ser dublador ou este sonho amadureceu aos poucos? Conte-nos essa trajetória.
Rodrigo Oliveira: Quando criança eu realmente achava que os desenhos e os filmes eram em português. Não fazia ideia de que existia dublagem! Depois, por volta de oito ou nove anos, ao saber que um certo ator era americano, falei que ele falava tão bem português e aí me disseram que era uma outra pessoa que falava em português no lugar do ator. Achei muito legal mas não dei muita bola, porém só gostava de assistir tudo dublado.
Já na adolescência, comecei a fazer teatro e ali que redescobri a dublagem. Conheci uma pessoa que fazia curso de dublagem e pensei, eu acho muito legal, faço várias vozes e imitações, acho que pode ser uma boa utilização dessa minha qualidade vocal.
Com 17 anos fui fazer o curso de dublagem do já falecido Hamilton Ricardo. Me apaixonei de vez, tive a certeza de que dublagem era o que eu mais queria enquanto ator. Mas eu ainda era muito inexperiente como ator, não me sentia de fato preparado pra encarar a bancada profissionalmente, mas já era ator profissional com registro e mais de quinze peças de teatro no currículo.
Resolvi fazer um curso de formação de atores pra me tornar um ator melhor, com mais embasamento, mais técnica, e o foco lá… na dublagem. Nesse meio tempo, acabei fazendo alguns espetáculos em que dubladores também faziam parte do elenco, como Ronaldo Júlio, Mariangela Cantú, Carla Pompílio, entre outros. Com 23 anos, fiz outro curso de dublagem e agora, já me sentindo bem mais preparado pra responsabilidade da bancada, fui atrás do sonho e hoje tô aqui, vivendo do sonho e sendo muito feliz!!!
CP: E hoje em dia, ainda pega personagens que te deixam nervosos por conta da responsabilidade de dublá-los? Quais seriam?
RO: O Pantera Negra deu um nervosinho sim, confesso. A responsabilidade de um herói da Marvel, num filme muito aguardado pelo público dá uma acelerada no coraçãozinho. O Macaco Louco no novo desenho “As Meninas Superpoderosas” também deu um certo nervoso e era um personagem que eu gostava muito desde moleque e o Jorge Vasconcellos fazia o personagem magistralmente. O personagem estava no consciente coletivo das pessoas. Eu fiz o teste e até hoje eu gravo tendo como referência o Jorge Vasconcellos. Foi a minha forma de tentar manter as características que o Jorge já havia moldado no personagem pro público e homenagear o Jorge ao mesmo tempo.
CP: O processo para emprestar a voz ao Pantera Negra foi muito difícil? Como se deu?
RO: Fui convocado pra um teste de voz pro Pantera Negra pro filme do Capitão América: Guerra Civil. No teste, às vezes, não dá pra ter muita noção de como é realmente o personagem, porque são trechos curtos, de diferentes partes do filme.
Já pro filme Pantera Negra foi mais tranquilo. Já conhecia melhor ator, personagem e história, e claro, com a ajuda do Sérgio Cantú na direção me conduzindo com muito carinho. Trabalhamos com cuidado e conseguimos chegar num match voice entre mim e o Chadwick Boseman tão bacana que, gravando, não havia diferença de voz na transição entre as falas na língua africana (que ficaram no som original) e a minha voz em português.
CP: Você já era fã de Pantera Negra? Existe alguma semelhança sua com as características de T’Challa?
RO: Eu conhecia, mas acho que sou um pouco mais chegado na DC do que na Marvel. Da Marvel eu era mais ligado nos X-Men. Mas eu fui ler sobre, fui estudar e saber quem era T’Challa. O Guilherme Briggs me emprestou um livro contando a história dele, livro este que eu preciso devolver ao Guilherme (risos).
Acho que a semelhança maior entre T’Challa e eu está no senso de justiça e moralidade e a capacidade de se solidarizar com o outro.
CP: Como você se posiciona a respeito da polêmica que houve em relação aos dubladores de Pantera Negra serem, em sua maioria, brancos? E você recebeu muita pressão do público?
RO: A melhor resposta foi do Guilherme Briggs em relação a isso: a dublagem não tem cor. A voz não tem cor. Somos escolhidos pela interpretação e adequação ao personagem. Em momento algum eu me manifestei, pois achei que era um discurso de segregação, de ódio e a esse tipo de postura eu não dou voz, não rebato a discussão pra não dar força ao ódio e a segregação.
Eu sou branco, mas nas minhas veias corre sangue negro, sangue escravo, minha bisavó por parte materna foi escrava, foi mucama. Meu avô materno era miscigenado também, minha avó paterna era negra. Poder representá-los com um personagem tão emblemático é super bacana. Mas em momento algum, até agora pelo menos, ninguém veio diretamente a mim, por e-mail, facebook ou qualquer outra rede social dizer que eu não poderia fazer o personagem por ser branco.
O que acho válido enquanto discussão é a busca para sabermos os motivos que levam a diferença de quantidade de artistas negros, e se é tão díspar assim essa quantidade ou apenas não temos um censo real de artistas negros e a razão de, na dublagem, essa balança pender a um lado também. Mas isso é uma questão muito profunda, ligada a educação e oportunidades.
CP: Animação, filme live action, seriado ou novela, qual você prefere dublar?
RO: Animação tem sempre um gostinho especial. Mas eu adoro um personagem em live action mais maluquinho que sai gritando e de repente fala baixo, cheio de nuances e os personagens mais “malandros” e engraçados. Eu gosto muito de comédias.
CP: O preconceito, que antes era presente no público em relação a filmes dublados parece ter diminuído. Você concorda? Se sim, a que se deve esta mudança, na sua opinião?
RO: Eu acho que quem tinha preconceito ainda tem! O que acontece hoje em dia é que muito mais gente tem acesso e precisa ter acesso aos filmes na versão dublada. As redes sociais e a mídia televisiva deram cara pras vozes brasileiras, tornando nosso trabalho e nós dubladores mais conhecidos. Isso fez com que muita gente soubesse um pouquinho de como é nosso dia a dia e passou a dar valor e entender que é um trabalho sério e que exige preparo especializado e é feito com muito amor, entrega e dedicação.
E aí, o que achou da entrevista com o dublador de Pantera Negra? Comente conosco!