Perceber a relevância na carreira do maior cineasta brasileiro da atualidade é curioso e nos faz voltar alguns anos, quando colocou inúmeros atores desconhecidos numa trama complexa, cheia de reviravoltas e montagem entrecortada no Oscar. ‘Cidade de Deus’ virou sinônimo pop, ultrapassando as fronteiras imagináveis no início das gravações. Logo, Fernando Meirelles injetou sua alma no primeiro trabalho internacional que foi ‘O Jardineiro Fiel’, com Rachel Weisz e Ralph Fiennes, num thriller impactante.
Seria fácil produzir alguns blockbusters e faturar milhões dali em diante, mas ele escolheu ir para outra difícil adaptação. ‘Ensaio sobre a Cegueira’ (baseado no livro escrito por José Saramago), fala sobre uma epidemia contagiosa que assola várias pessoas. Há inúmeras camadas e visões no contexto geral, cita racismo, incapacidade governamental, despreparo da sociedade atual para algo desconhecido, percepção sobre a nossa fragilidade em relação ao mundo, tudo colocado acertadamente nos 120 minutos aproximadamente. Ponto positivo vai para a fotografia esbranquiçada, provando quão inovadoras e precisas são as câmeras do diretor.
Juliane Moore (‘Evolução’) recupera o fôlego na carreira, dando ritmo dinâmico numa personagem que poderia cair naquele melodrama boboca. Já Mark Ruffalo (‘Zodíaco’) e Danny Glover (‘Jogos Mortais’) começam tímidos, mas crescem no desfecho, Gael Garcia Bernal (‘Babel’) é competente até a medula e Alice Braga (‘Cidade Baixa’) reafirma a condição de ótima atriz.
Num país lotado de diversas racial, povos e credos, ‘Ensaio sobre a Cegueira’ desfere um soco no estômago e abre nossos olhos para as tais “enfermidades sociais”. Saí do cinema praticamente renovado. A única coisa estranha é que alguns críticos não assistiram a mesma obra que eu, ou então, a “cegueira branca” tenha afetado suas visões, algo nitidamente preocupante.
NOTA: 9,0
ORÇAMENTO: 25 Milhões de Dólares
10 Comments