Que It – A Coisa, vem fazendo um sucesso estrondoso pelo mundo, isso todo mundo sabe. Mas se você assistiu ao filme em versão dublada, deve ter escutado a voz de Andreas Avancini, o dublador de Pennywise.
Ele, que tem em seu currículo trabalhos como Peeta de Jogos Vorazes, Cole Sear, o garotinho vivido por Haley Joel Osment em O Sexto Sentido e Leonardo da animação As Tartarugas Ninja, e conversou conosco sobre todo o processo de construção do palhaço e muito mais! Confira a entrevista na íntegra logo abaixo:
Cinema e Pipoca: Como surgiu a oportunidade de dublar o palhaço Pennywise em It – A Coisa? E como encontrar o timbre de voz ideal para dubla-lo?
Andreas Avancini: Eu já havia dublado o ator Bill Skarsgård em outros trabalhos dele, começando por Hemlock Groove, que é uma série da Netflix. Além disso, também dublei o ator no filme da série Divergente: Convergente e no filme Atômica, que também está no cinema agora. Sobre a o timbre do Pennywise, eu confiei muito no trabalho do ator. Ele é muito bom e eu quis manter o máximo do original. Tentei fazer o mais próximo possível do tom original. Nossas vozes são relativamente parecidas e eu aproveitei isso pra brincar com a minha voz, fazendo tudo que o Bill propunha, os tons, as risadas, as reações e os sentimentos. Tudo que ele faz alí é muito bem pensado e acaba deixando tudo muito mastigado pra faz a dublagem. Foi bem gostoso dublar esse personagem, pois pude sair bastante da zona de conforto.
CP: Você conhecia o material original ou já tinha assistido ao filme da década de 90? Tentou pegar alguns detalhes deles para inserir em sua dublagem?
AA: Eu já tinha visto algumas partes do filme original, por ser muito clássico. Mas como descobri que iria dublar o filme pouco tempo antes de realmente dublar, não consegui ler o livro nem ver o filme/série original. O que fiz foi dar uma procurada sobre a história e entender melhor o personagem, pois sabia que era algo bem fora do comum. Ajudou bastante a entender as motivações dele, já que no filme ele tem poucas falas, mas todas tem vários detalhes difíceis de entender a primeira vista.
CP: O processo de preparação para um personagem com uma carga de terror/tensão tão forte quanto ele é diferente de outros personagens?
AA: Em dublagem, é bem raro se ter uma preparação propriamente dita, a gente já está acostumado a chegar e ter que entender e captar tudo na hora de fazer o trabalho. Faz parte da profissão. O que acontece muito, pelo menos comigo, é ao saber que vou dublar, procurar sobre o personagem pra já ir mais preparado. Quando dá tempo, eu leio algo ou procuro sobre. Existem casos especiais, como quando dublei (com 12 anos) O Sexto Sentido, e a diretora, Marlene Costa, me passou a fita (é… faz tempo) e eu assisti o filme antes da gravação, pra já entrar no personagem.
CP: Qual personagem mais empolgante para dublar?
AA: Sempre que aparece um personagem fora da nossa zona de conforto, é muito empolgante. Outro caso é quando você descobre que vai dublar alguma coisa que você já gosta muito, como foi com o Luke de Star Wars ou o Leonardo das Tartarugas Ninja.
CP: Você prefere dublar um filme ou um seriado? Quais as principais diferenças nestes formatos?
AA: O que mais gosto de dublar na verdade, são desenhos animados. Como eu faço muito pouco esse tipo de trabalho, sempre que aparece, eu fico bem feliz e me divirto bastante. Acho que a única diferença entre os filmes e seriados é que no seriado a gente acaba tendo mais tempo pra conhecer o personagem e acaba ficando mais a vontade com ele, quando num filme, a não ser que tenham várias continuações, você faz seu trabalho e é isso… Não tem outra chance de melhorar.
CP: O público já não reclama tanto quanto antes ao assistir um filme dublado. Você acredita que a dublagem nacional melhorou ou que os espectadores compreenderam melhor o trabalho de vocês?
AA: Acho que sempre vai ter gente que não gosta de dublagem. Sempre vai ter aquela pessoa que entra no trailer do filme no Youtube só pra falar que a dublagem é uma porcaria e que vai assistir legendado (por que ele entrou pra ver o dublado, eu não sei). O gosto é de cada um e isso, a gente não discute. O que importa pra mim, é fazer o melhor trabalho possível e sempre saber entender onde melhorar. Críticas construtivas e embasadas são sempre bem vindas, ódio irracional, não.
CP: Para quem quer começar na dublagem, qual é a dica fundamental?
AA: Corra atras de um curso bom de dublagem, com quem sabe. Entenda como funciona nosso trabalho, aprenda e se profissionalize. Com talento e força de vontade, tudo é possível.
Agradecemos imensamente a Andreas Avancini, o dublador de Pennywise, por toda a atenção.