Um dos grandes, senão o maior documentarista de sua geração, esta é a nossa homenagem a Eduardo Coutinho, que foi brutalmente assassinado a facadas por seu filho Daniel Coutinho em em 2 de fevereiro de 2014. Simbora então para um resumão de sua incrível carreira.
Nascido em São Paulo no ano de 1933, Coutinho poderia ter sido advogado, mas não terminou seu curso simplesmente porque sua vocação era o cinema. Teve seu primeiro contato com a Sétima Arte aos 21 anos, num Seminário realizado no MASP e no mesmo ano de 1954, trabalhou em uma revista e dirigiu peças teatrais.
Foi para a França e estudou direção e montagem no IDHEC, realizando ali seus primeiro experimentos com documentários. Retornou ao Brasil e logo em seguida entrou no Centro Popular de Cultura da UNE e trabalhou em montagens de peças como Multirão em Nosso Sol e geriu a produção do filme Cinco Vezes Favela em 1962.
Depois foi convidado para dirigir um projeto que falaria sobre o assassinato de um líder camponês por volta de 1960. O interessante é que os próprios camponeses fariam a dramatização do longa, mas por conta da ditadura militar as filmagens foram bruscamente interrompidas, alguns profissionais foram presos e O Cabra Marcado para Morrer não sairia (pelo menos por enquanto!).
Em 1965 roteirizou o longa A Falecida e em 1966, juntamente com mais dois sócios, abriu a produtora Saga e ainda dirigiu um dos episódios do longa ABC do Amor. Dali dois anos trabalhou em O Homem que Comprou o Mundo, que fala sobre um funcionário que recebe uma bolada em dinheiro de uma hora para outra, mas acaba ficando sob as guardas da ditadura militar. Mais dois anos até constituir Faustão, uma aventura no cangaço, baseada no conto The Merry Wives of Windsor de Shakespeare.
Antes de ir para a Rede Globo, atuou no filme de Glauber Rocha chamado Câncer. Na emissora carioca, fez parte da equipe do Globo Repórter a partir de 1975. No período ainda roteiriza o drama Lição de Amor, estrelado por Irene Ravache e trabalha também em Dona Flor e seus Dois Maridos, ao lado de Bruno Barreto e Leopoldo Serran.
Ainda se aventurou nos documentários em média metragem O Pistoleiro da Serra Talhada e Seis Dias em Ouricuri, ambos de 1976, seguido de Teodorico, o Imperador do Sertão (1978), Exu, uma Tragédia Sangrenta (1979), Portinari, o Menino de Brodosqui (1980), além de voltar a trabalhar num drama de Bruno Barreto, intitulado Índia, a Filha do Sol (1982).
Em 1984 sai da Rede Globo e no ano seguinte consegue reencontrar os negativos de O Cabra Marcado para Morrer, que haviam sido apreendidos pela polícia e decide retomar o projeto. Reencontra a viúva do tal cabra marcado e faz uma reflexão da sociedade pós regime militar. Consegue diversos prêmios, dentre os quais se destacam o Festival de Paris e de Berlim.
Com uma postura sempre crítica e defendendo a questão social, volta aos médias-metragens com Santa Marta – Duas Semanas no Morro (1987), Volta Redonda, o Memorial da Greve (1989) e O Jogo da Dívida (1989). O Fio da Memória (1991) é um longa que comenta sobre as diferenças culturais e o preconceito que os negros sofrem diariamente, sendo que para finalizar o projeto, precisou da ajuda das emissoras La Sept e Channel Four.
Outros três médias foram lançados: Boca de Lixo (1993) e após cinco anos longe das telas retorna em Santo Forte, onde dirige, roteiriza e atua no meio dos moradores de uma favela carioca, tentando entender suas crenças e valores no meio das religiões.
Já Edifício Master (2002), fatura o prêmio de Melhor Documentário na Mostra de São Paulo, além do Kikito em Gramado. Com um roteiro cheio de questões pertinentes e importantes, Coutinho entrevista os moradores do tal edifício que está localizado em Copacabana, mas que não tem absolutamente nada de luxuoso.
Em 2004 faz Peões e 2006 finaliza O Fim e o Princípio, mas renova-se novamente com Jogo de Cena, um misto de ficção e realidade, onde cerca de vinte mulheres contavam suas histórias de vida e ganhavam momentos pontuais interpretados por famosas atrizes como Andrea Beltrão e Marília Pêra. O documentário foi selecionado para o Festival de Paulínia.
Com Moscou (2008), também exibido no Festival de Paulínia, volta a questionar até onde o cinema pode nos mostrar o que é verdadeiro ou não, mas o corte final é cansativo.
Nos dois últimos filmes Um Dia na Vida (2010) e As Canções (2011), faz um experimento incrível com os programas e as propagandas nas emissoras abertas nacionais e coloca na balança o quanto temos de lixo e de inteligente na programação e ainda dá a oportunidade das pessoas comentarem como a música influenciou suas vidas.
E esta nossa homenagem a Eduardo Coutinho é singela e muito menor do que ele merece. Mas com certeza o diretor estará sempre nos corações dos cinéfilos nacionais e internacionais.