Dirigido por Philippe Bastos e Gleyson Spadetti, Milagre Maldito é um curta metragem que está no processo de finalização e sairá em breve. Os diretores nos deram a oportunidade de assistí-lo em primeira mão e ainda bater um papo conosco.
Na sinopse, após receber uma fotografia reveladora, Maria provoca uma reação em cadeia de contornos inesperados.
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Cinema e Pipoca: Milagre Maldito é um filme bastante violento. Acredita que teria saído desta mesma forma, caso não fosse um filme independente?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: Em relação ao público achamos que sim, pois existe uma parcela dele que demanda esse tipo de filme e o cinema brasileiro tem investido em filmes de terror recentemente, tornando o espectador mais receptivo a esse tipo de estética, de história. Mas, apesar do nosso público estar mais aberto para experimentar esses temas, se pensarmos nos distribuidores teríamos problemas. Existe muita resistência no mercado exibidor quanto ao que eles acham que o público deseja ou não assistir. E esse é o maior gargalo na hora de lançar o filme.
Poderíamos até manter uma atmosfera violenta no ar, mas, dificilmente, com as atuais imposições de mercado e pesquisas de audiência que o movem – baseadas no momento do politicamente correto em que vivemos -, teríamos tamanha liberdade para expor, graficamente, a violência em si.
CP: Pelo menos para mim, o personagem principal tinha ares demoníacos. Isso foi intencional?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: Sim, pois para convencer as pessoas a fazer o mal primeiro é preciso ter domínio sobre suas vítimas. Partimos da ideia de que o verdadeiro mal, os maiores demônios, surgem e se escondem atrás de uma aparência boa, redentora, inofensiva. Assim, ele teria que aparentar certa bondade para conquistar os outros personagens.
O mote central do filme é mostrar como uma pessoa injustiçada, vítima de um crime, pode ser capaz de atos ainda mais inescrupulosos e cruéis quando decide fazer justiça com as próprias mãos. Dessa forma a atmosfera demoníaca em torno do protagonista é intencional, pois mostra como é fácil perder a razão e se transformar num monstro. Para o público seu lado real é inteiramente demoníaco.
CP: A entrega dos atores é outro detalhe a ser destacado. Como foi a preparação para as cenas mais difíceis?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: Nossos atores são a razão do filme existir, em primeiro lugar. “Milagre Maldito” nasceu de um processo de estudo e pesquisa sobre o método das “Ações Físicas”, ministrado por nosso coach particular Davi Giordano, com a colaboração de seis brilhantes jovens atores voluntários – Duda Caro, Pedro Wolmeister, João Paulo Alves, Mário Meireles, Vinicius Coelho e Jéssica De Oliveira.
O filme foi inteiramente desenvolvido, do argumento ao roteiro, a partir de exercícios criativos e improvisações sobre o tema “O Complô”. Foram dez encontros semanais, de quatro horas cada, onde, durante as seis primeiras semanas, criamos juntos o plot central do filme e os personagens. As quatro últimas semanas foram voltadas para o ensaio e finalização das cenas. Essa entrega do elenco ao processo criativo é a grande responsável pelo vigor das cenas, das mais fáceis às mais difíceis.
CP: A caixa é também um personagem importante, pois lança uma questão de suspense, assim como ocorre em ‘Pulp Fiction’, por exemplo. Existem outras referências aqui?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: A caixa – cujo “Pulp Fiction” é sim a referência principal -, surgiu nos exercícios criativos onde uma das atrizes, a Duda Caro, sugeriu que um objeto fosse movendo a história de núcleo a núcleo. A partir da escolha da caixa fomos adicionando outros elementos, como a foto, para criar intriga e suspense; mantendo a tensão. A idéia era que, a cada cena, um novo personagem surgisse, adicionando novos elementos à trama, e passasse a história adiante. A cada cena uma virada, a cada cena um novo rumo.
CP: Vocês dividem os trabalhos ou fazem tudo juntos?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: Existe em nosso trabalho uma divisão natural, orgânica dos processos criativos. Criamos tudo juntos, mas cada um tem áreas de interesse e expertise mais especificas na hora de por a mão na massa, e a divisão se dá sem a gente nem perceber em que hora ela acontece direito. O Philippe Bastos é mais ligado à edição de imagens, à estética visual, principalmente a arte; já eu, Gleyson, me dedico mais aos roteiros e aos atores. Mas tudo é decidido pelos dois, cada pequeno aspecto. Por isso existe uma química, não apenas criativa, mas de dinâmica de trabalho.
CP: O corte final será de 17 minutos mesmo ou ainda irão fazer outros cortes na ilha de edição?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: O corte final terá 17 minutos.
CP: O que fazer para que os curtas nacionais sejam mais vistos pelos espectadores convencionais?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: Os curtas são a porta de entrada dos jovens cineastas no mercado profissional, comercial. Hoje, graças à internet e a TV a Cabo – principalmente após a Lei da TV por Assinatura -, as vias de acesso do público convencional aos curtas tem aumentado significativamente. Mas, creio que algo ainda precisa ser feito em relação à TV Aberta e ao Mercado Exibidor, via lei de cotas. Antigamente, nas décadas de 70 e 80, havia a Lei do Curta, que vinculava a exibição prévia de um curta nacional a um longa-metragem estrangeiro – algo que foi extinto no Governo Collor e que, certamente, deveria ser reformulado e aplicado ao mercado atual como forma de fomento à indústria cinematográfica brasileira.
CP: Pretendem lançar quando? E tentarão fazer uma carreira em festivais com ‘Milagre Maldito’?
Philippe Bastos e Gleyson Spadetti: “Milagre Maldito” será lançado em novembro de 2016 e planejamos levá-lo ao maior número possível de festivais no Brasil e no exterior. O filme só está completo com o público, e nossa meta é fazer com que ele chegue ao maior número possível de espectadores.
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