São raros os filmes de ficção cientifica que causam um certo medo em nós como Interestelar. Além de medo, lança aos nossos olhos questionamentos que nos assombram desde o limiar da história do homem sobre a terra: Quem somos? Por que e por quem fomos criados? Para onde iremos? E ainda de quebra, fala sobre vida e morte e o pior: do tempo e suas consequências sobre a nossa medíocre existência. Pois é, o filme dirigido por Chistopher Nolan, estrelado por Matthew McConaughay, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Matt Damon e Mackenzie Foy, lançado em 2014, passou um tanto despercebido pelo grande público, que talvez não tenha entendido a dimensão e a grandiosidade dessa obra. Claro que não chega a ser um clássico, mas com o tempo pode vir a se tornar; como aconteceu com o futurista noir Blade Runner – Caçador de Androides de Ridley Scott, que virou Cult e é até hoje reverenciado por cinéfilos.
Interestelar é daqueles raros filmes que você sai do cinema e o leva para casa, em sua mente, pensando sobre tudo o que viu ou, assiste em casa e vai dormir pensando nele e na história de seus personagens. É intrigante, quente, humano e que traz relações de afeto entre pais e filhos e familiares e que hoje em dia não damos às devidas importâncias a esses sentimentos tão primitivos e tão fundamentais para nossa existência.
No roteiro, a Terra está morrendo, deixando de ser fértil e os alimentos estão cada vez mais escassos; isso porque estranhas tempestades de areia assolam as regiões agrícolas – as vegetações crescem, mas não geram frutos. Cooper (Matthew MacConaughay) é um ex-astronauta da NASA, que virou fazendeiro e mora numa dessas fazendas castigadas pelas ações climáticas e, que por razões a princípio estranhas que acontecem no quarto da filha Murphy (Mackenzie Foy), o conduz para uma base secreta e o coloca em colisão ao seu terrível destino: enfrentar o espaço e o tempo. Nolan chega a ser um tanto didático quanto a assuntos como: buraco de minhoca, lapso temporal, velocidade da luz, buracos negros, o tempo interligado com a gravidade, dimensões espaciais, tempo e espaço – teorias saídas de mentes tão brilhantes como de Albert Einstein e Stephen Hawking. Mas isto não faz com que o filme se perca com a preocupação apenas de fazer o público entender o que está acontecendo durante a aventura e os dilemas de seus personagens.
Mas o que Interestelar nos mostra é a fragilidade do homem diante do tempo. Como Cooper, o personagem de Matthew MacConaughay, quando encara seu desafio de ir para um outro espaço, outra dimensão, viajando através de um buraco de minhoca para salvar nosso planeta de seu destino cruel, deixando a família e principalmente os filhos. O elo que os unem a partir desse momento é o amor. Os diálogos entre eles, no monitor da nave, chegam a nos assustar e ao mesmo tempo, nos comovem, quando vemos que o tempo está passando e não há muito que se fazer. Seus filhos crescem, ele vira avô, as pessoas vão envelhecendo, outras morrem e a vida segue para eles, enquanto a de Cooper é “paralisada”. Isto é salientado quando o astronauta, desesperado, traça um pequeno diálogo com Amélia Brand (Anne Hathaway) em que a questiona se há alguma possibilidade de fazer o tempo voltar e Amélia diz que não existe maneira alguma de fazê-lo. Então, o que lhes restam, senão seguir com a viagem à procura de um planeta para repovoamento da espécie humana? A vida deve seguir até na solidão do espaço sideral.
É um filme contagiante, que mistura de forma inteligente drama humano, ficção científica, colapso climático, teorias que fogem do nosso entendimento e que, ao mesmo tempo, ressalta as relações de afeto tanto para quem está na Terra ou para quem está no espaço. O amor que sentimos uns ao outros é presente e é capaz de vencer distancias e transcender o próprio tempo.
Interestelar pode ser apenas mais um filme para alguns, mas isto não é verdade; ele é inquietante e pode virar Cult quando entendermos profundamente sua gama de significados e isto é somente uma questão de tempo.
Por Wilson Roque Basso
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