Sean Baker é um profissional que despontou para o mundo no ótimo Projeto Flórida e conquistou os louros máximos do cinema por Anora, que é um filme que foi taxado por ser ‘aquele que tirou o Oscar do Brasil’, que é um pouco superestimado, mas tem seus pontos positivos. Agora, sai da cadeira da direção e senta na cadeira de produtor com A Garota Canhota, um drama produzido em Taiwan, que foi o escolhido do país para tentar uma vaga de Melhor Filme Internacional em diversos festivais pelo mundo.
O comando vai para Shih-Ching Tsou e, em seu segundo longa metragem (o primeiro foi Take Out, também ao lado de Baker), ela prova que aprendeu como manejar uma câmera de mão para que a estética documental se mantenha em boa parte do filme. Já vimos isso antes? Com certeza! Essa é uma emulação dos premiados títulos citados acima e isso é bom e ruim.
Bom, pois estamos em um ‘terreno que já conhecemos’ (a fotografia, suas cores fortes e um zoom in no rosto das atrizes), mas ruim porque, às vezes, a diretora parece se escorar nesse tipo de ferramenta mais do que o necessário. Tirando isso, há três protagonistas e cada uma delas (independente da idade) batalha para tentar encontrar seu lugar ao sol e para expulsar alguns demônios que as atormentam.
Falando no elenco, a pequena e fofíssima Nina Ye, vive I-Jing e é a alma do projeto, Shih-Yuan Ma é sua irmã mais velha, I-Ann e a mãe, Shu-Fen, é interpretada por Janel Tsai. Todas desconhecidas por aqui, mas extremamente talentosas.
A Garota Canhota: conhecemos uma cultura diferente, mas notamos que o machismo estrutural também está lá
O centro de Taipei é um personagem vívido na trama. Existe um caos poético, onde pessoas humildes convivem em harmonia. E mesmo para quem nunca esteve naquela cidade – o que é meu caso – quase sente os cheiros das comidas ou se vê andando por aqueles corredores apertados. O problema? O machismo estrutural vive e se faz fortemente presente, seja em relação a um pai pouco presente, no dia a dia entre patrão e empregada ou em pequenos costumes antigos que mais prejudicam do que ajudam o dia a dia.
Entenda: ninguém aqui é 100% bom ou 100% mal. As discussões ocorrem e, às vezes, em locais onde menos se espera – o terço final é prova do quanto Shih-Ching Tsou pode entregar como diretora. Se você já escutou aquela frase que ‘família é tudo igual’, A Garota Canhota vem para corroborar isso. Mesmo assim, no fim do dia, é possível que encontre alguém que irá acalmar seu coração e dar um sentido para o futuro.
Onde assistir A Garota Canhota?
Sinopse de A Garota Canhota
Uma mãe solteira e suas duas filhas se mudam para Taipei para abrir uma barraca de mercado noturno, cada uma enfrentando os desafios de se adaptar ao novo ambiente e, ao mesmo tempo, se esforçando para manter a união familiar.
Nota: ★★★½
Título Original: Zuopiezi nuhai
Ano Lançamento: 2025 (Taiwan | França | Estados Unidos | Reino Unido)
Dir.: Shih-Ching Tsou
Elenco: Janel Tsai, Shih-Yuan Ma, Nina Ye, Brando Huang, Akio Chen, Xin-Yan Chao
Curiosidades sobre A Garota Canhota
- Assim como Tangerina (2015), de Sean Baker, A Garota Canhota foi gravado 100% com um iPhone, durante o verão de 2022, em Taipei, Taiwan.
- O longa foi o escolhido de Taiwan para ser o participante na disputa da categoria Melhor Filme Internacional do 98º Oscar, que acontece em 2026.
- A jovem Nina Ye (I-Jing), que interpreta a protagonista, tinha apenas 6 anos, mas atua desde os 3, principalmente em comerciais de TV. Sua mãe, que também é sua preparadora de elenco e esteve no set diariamente.
- A diretora Shih-Ching Tsou ficou aliviada ao descobrir que a mãe de Nina conseguia fazê-la chorar usando músicas tristes e histórias emocionantes.
- A ideia do longa surgiu em 2012, mas só ganhou financiamento anos depois. A produção só avançou quando a empresa Le Pacte assistiu a Red Rocket (2021), de Sean Baker, em Cannes, e decidiu apostar no roteiro.
- A inspiração da história veio de uma lembrança marcante da diretora: seu avô dizia que ela não deveria usar a mão esquerda, chamando-a de “a mão do diabo”. Esse trauma infantil serviu como ponto de partida para toda a narrativa.
- A barraca de macarrão administrada pela família no filme é real e fica no mercado noturno de Tonghua (Linjiang), no distrito de Da’An, um dos locais mais tradicionais da capital taiwanesa.
- Apesar de já ter codirigido Take Out (2004) com Sean Baker, este é o primeiro filme solo de Shih-Ching Tsou. Baker, por sua vez, participa como co-roteirista, produtor e editor.
- A diretora encontrou a atriz Shih-Yuan Ma (I-Ann) fazendo uma busca simples no Instagram, procurando modelos dentro da faixa etária ideal para a personagem.
