E os contatos feitos na Anime Friends 2018 continuam rendendo frutos. Desta vez consegui bater um papo com J. P. Schimidt, autor da fantasia Guardiões do Pecado, que também esteve presente no evento, expondo estes e outros trabalhos de sua autoria. E ele nos conta um pouco sobre o processo de criação, a questão do financiamento coletivo e muito mais! Confira!
Cinema e Pipoca: Como é seu processo de criação de personagens e de mundo?
J. P. Schimidt: Nunca surgem de modo homogêneo. Às vezes tenho apenas uma ideia, um argumento ou meramente um fim. Os personagens são como pilastras, vigas ou candelabros bonitinhos. Os personagens (por mais que os ame) precisam atender a seu propósito maior que é: Contar e/ou ajudar a contar a história. Se a personagem tem de morrer, eu dou um beijo de noite e desço o machado sem dó (risos).
Quanto ao mundo eu geralmente produzo páginas e páginas com uma devotada densidade, ou seja, estrutura social, política, econômica, religiosa e estranhamentos entre tais aspectos. No entanto, apresento só uma parte. Uma pincelada suave. No fim, apenas o suficiente para situar o leitor e não travar a história.
CP: Como é ser um autor independente no Brasil? Financiamento coletivo ainda é a melhor opção?
J. P. Schimidt: Ser multitarefa e ter resiliência são pré e pós-requisitos. Afinal, no Brasil alguns hábitos de consumo têm mudado e a leitura vem perdendo terreno para mídias audiovisuais. No entanto, dificuldade não é sinônimo de impossibilidade.
O financiamento coletivo eu diria que depende. Aqui é bom separar as crianças dos adultos (sorry guys)! No F.C. você está prometendo um produto com uma qualidade X, condição Y e prazo de entrega Z. Mesmo se você calculou errado o frete, se um item sofre variação do dólar e esqueceu disso ou se os Correios/gráfica entra em greve você se deu mal e terá de tirar do bolso, dar um jeito de entregar. Se prometeu cumpra.
Entretanto, você está na outra ponta. É compromissado, responsável, já tem um público que preencha ao menos 50% do valor do projeto e calculou tudo direitinho… bom… vá em frente.
CP: Você levou na Anime Friends 3 títulos: Guardiões do Pecado, O Adereço da Estranha Árvore e Maus Valores. Apresente um pouco de cada um deles.
J. P. Schimidt: Vou fugir das sinopses (risos). GDP e MV são livros de fantasia medieval produzidos a partir de minhas antigas campanhas de RPG. O suspense é um elemento recorrente, mas a aventura e a ação na narrativa tentei dar a mesma de sessões de RPG de mesa. Para quem joga há uma identificação direta com cenas, personagens e atitudes. E é claro, quem nunca jogou acaba se divertindo do mesmo jeito.
No caso do O Adereço da Estranha Árvore, remete a um cenário fantástico um pouco mais pesado. Fala, talvez, sobre assumir posturas éticas sobre a nossa besta inferior e as consequências disto.
CP: Se você for comparar o J P Schimidt do primeiro livro para o terceiro, quais foram as principais evoluções e mudanças neste caminho?
J. P. Schimidt: Um cara mais velho e ainda por cima narigudo? Brincadeiras à parte, penso que a escrita é a soma do constante estudo de técnicas de narrativa, construções de diálogo, estilos narrativos, leituras de mundo e experiências pessoais. Mas tais mudanças, no meu caso, vêm também do feedback dado pelos amigos leitores. Do que gostaram, do que odiaram, do que amaram odiar e da discussão de pontos fortes e fracos. Cresço muito com isso.
CP: Existe muito de RPG nas aventuras. Como é a recepção dos próprios jogadores de RPG quando se deparam com seus livros? É muito difícil conseguir agradá-los?
J. P. Schimidt: Tem sim. Nos três. Guardiões do Pecado e Maus Valores são o resultado de campanhas jogadas ao longo de 10 anos. Eu compilei os melhores trechos, o que inclui as trágicas e as cômicas jogadas com erro crítico. A reação mais presente dos jogadores de RPG está na surpresa de ter títulos com aventuras realmente jogadas e instantes antes da compra (ou nos relatos pós leitura) tentam antever quais serão suas ações dos personagens como se fossem os seus PC’s. Os comentários posteriores foram sempre muito bacanas e positivos. Nunca tive de devolver o dinheiro (risos).
CP: Você também é roteirista de HQ. Quais as diferenças na hora de criar algo para os quadrinhos e para livros?
J. P. Schimidt: O entrosamento que tenho com o artista. Vou citar duas possíveis interações. Na primeira eu apenas descrevo em tópicos o que cada cena ou diálogo deve possuir deixando a(o) artista livre para criar; No segundo caso, geralmente por uma questão de prazo a cumprir, posso meramente impor ao(s) ilustrador(es) os detalhes fundamentais na construção da personagem, os ângulos de câmera, o que há em primeiro plano e etc. Isso embora pareça rude, ajuda a dar mais celeridade na produção.
CP: Se Maus Valores se transformasse em um filme nacional de aventura. Conte para gente, quais atores principais e qual diretor você gostaria que fosse escalado?
J. P. Schimidt: Huuuumm tentador. Bom vamos lá.
Caco Ciocler, Caio Platt ou Marcos Pasquim para Stanislaw Hanverovich;
Mariana Ximenes, Luana Piovani ou Daniela Winits para a elfa filha do vento;
O anão precisaria de CGI, mas fico com Humberto Martins ou André Mattos;
O Pequenino Hans se for usar CGI indico Tadeu Mello ou Luiz Carlos Tourinho;
A direção por ser um livro dividido entre suspense, ação e aventura acho que Fernando Meirelles levaria o pódio.
CP: Você acredita que exista, nos dias de hoje, uma formação de futuros leitores nacionais? E o que faria para que este número aumentasse e mais pessoas tivessem o hábito da leitura?
J. P. Schimidt: Como sempre o mundo depende das pessoas. E há profissionais incríveis na área da educação. Professores, formadores de opinião (incluindo alguns youtubers). Todos em prol da formação de novos leitores. Para aumentar as fileiras de novos leitores deve-se incluir livros Young adult, incluir Harry Potter e outros blockbusters juvenis sem obviamente declinar dos autores nacionais. Ensinar que o Brasil não perde em nada quanto a talento e qualidade. Abrir espaços nas escolas para troca de ideias, workshops e entrevistas com autores nacionais. Estreitar os laços.
CP: Quais seus próximos projetos para o futuro? Poderia nos contar um pouco?
J. P. Schimidt: Tenho dois em andamento que ainda não posso revelar, mas em paralelo os livros Guardiões do pecado e Maus valores ganharam quadrinhos para engrossar ainda mais o universo.
Serão HQs com as histórias pregressas dos personagens e cada uma delas termina no ponto exato em que o personagem entra na história do livro. Para saber mais convido todos para curtirem as páginas oficiais no facebook para receber as novidades.
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Éder faltou contar onde o pessoal pode encontrar meus livros. Todos pela Amazon e em breve pela Dungeonist.com
E você, já conhecia J. P. Schimidt, autor da fantasia Guardiões do Pecado? Se sim, conte-nos um pouco sobre o que achou de suas obras!
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