O Cinema e Pipoca entrevista Marcos de Brito e André de Campos Mello, diretores do terror nacional ‘Condado Macabro’, que conta a história de cinco adolescentes que a alugaram uma casa e se vêem diante de uma chacina, onde um palhaço é o principal suspeito. Confira o bate papo logo abaixo.
Cinema e Pipoca: Falem um pouco sobre a carreira de vocês, até chegarem em ‘Condado Macabro’.
Marcos De Brito: O André e eu nos formamos em cinema pela FAAP. Nos conhecemos no curso e mantivemos a parceria até hoje. Eu segui mais o rumo da direção e roteiro para ficção, enquanto o André se especializou em documentários e montagem. Ele montou praticamente todos os curtas que dirigi e resolvemos retomar para este longa a mesma parceria que tivemos ainda no primeiro ano da faculdade, quando dirigimos juntos o curta “Condado Macabro”.
Apesar de eu ter me formado em 2003, considero que estou no ramo do cinema desde 2001, quando meu primeiro curta em película ganhou um kikito em Gramado. A partir daí comecei a frequentar festivais, participar dos editais de incentivo à cultura e enquadrar projetos na Ancine. Foram vários curtas durante esses anos todos, alguns muito premiados, para finalmente estar preparado para realizar um longa como o “Condado Macabro”. Precisamos nos desdobrar para dar conta, pois a equipe técnica era muito reduzida, mas felizmente formada por pessoas de cinema que conheciam todas as áreas e estava dispostas a exercer funções extras.
André de Campos Mello: Já durante a faculdade e depois de formado eu comecei a me envolver com a produção de documentários. Fui sócio durante 6 anos da Turner Imagem e Comunicação e neste período me envolvi com montagem, direção de fotografia e direção. Essa bagagem de documentarista foi fundamental para a realização de “Condado Macabro” pois tínhamos uma estrutura muito reduzida e uma necessidade de abraçar muitas funções no set durante os 40 dias que passamos filmando.
CP: É fato que existem referências a ‘O Massacre da Serra Elétrica’ e outros tantos filmes de terror. Como fazer para o projeto ser uma homenagem e não uma cópia?
MB: Basta ter um roteiro criativo. Nada mais nos dias de hoje é 100% original. Até mesmo os grandes mestres usam de referência para criar suas obras, seja em outros filmes, ou em quadros, músicas e livros. O que fizemos foi partir da premissa dos jovens que alugam uma casa no meio do mato e acabam morrendo de forma violenta para, na verdade, retrabalhar clichês do cinema de terror e fazer uma reverência aos filmes que tanto adoramos. Nossos assassinos são visualmente parecidos com coisas que você já viu, mas ao mesmo tempo únicos, brasileiros, com suas histórias. Temos elementos novos adicionados à velha fórmula slasher, com personagens perversos de uma complexidade psicológica maior do que normalmente é visto nesse gênero.
ACM: Tivemos o cuidado de deixar bem explícito o que queríamos homenagear e ao mesmo tempo trouxemos elementos bem brasileiros como a dupla de palhaços de rua, a casa dos sádicos e o gosto musical da Vanessa que funciona como eixo musical do filme.
CP: Como surgiu a ideia do roteiro e em quanto tempo ele foi escrito?
MB: Nós sempre tivemos a vontade de reviver o projeto que tínhamos feito na faculdade. Tanto que havíamos combinado de fazer uma continuação 10 anos depois do original. Mas como já estávamos desenvolvidos, cada um em sua área na carreira, perguntei ao André se ele toparia um longa. Depois que aceitou o desafio, foi tudo muito rápido. Escrevi o filme em um mês e dois meses depois já estávamos em set.
ACM: O interessante é que da história original do curta-metragem só restaram o título do filme e o nome do personagem Jonas, todo restante mudou.
MB: Nós filmamos numa cidade do interior do Mato Grosso do Sul, chamada Paranaíba. Decidimos filmar lá por questão de custo, principalmente. Como usamos uma casa da minha família, o roteiro já foi escrito com ela em mente. Assim não teríamos que partir em busca de locação ou construir cenários. Além de tudo, a mesma residência usada como set também foi o local onde estávamos todos hospedados.
ACM: Além disso, estar no meio do mato, sem acesso a telefone e internet, totalmente envolvidos nas filmagens, trouxe muita força aos personagens.
CP: Qual a maior dificuldade para se tirar um projeto como este do papel?
MB: O incentivo financeiro sempre é a barreira mais complicada para qualquer projeto. Mas o terror ainda tem um preconceito maior e não queríamos entrar em leis de incentivo esperar que alguma empresa apoiasse um projeto sanguinolento. Juntamos uma equipe de pessoas talentosas e dispostas para fazer o filme que queríamos, sem amarras de patrocínio. Felizmente, depois de filmado, ganhamos o Proac de finalização de longa-metragem do estado de SP e conseguimos acabar o filme com a qualidade que esperávamos.
CP: Existe alguma chance de ‘Condado Macabro’ entrar em circuito nacional?
MB: Já está. Estreou dia 12 de novembro em alguns estados, mas tivemos contratempos de última hora. Íamos entrar em muitas praças, mas os blockbusters acabaram reduzindo nossa estreia nacional para Ceará, Bahia, Paraná e Rio de Janeiro, mas pouquíssimas salas. Agora estamos no Rio e em Aracaju, mas acreditamos que na próxima semana teremos algumas salas em São Paulo e Sul do país.
ACM: Estamos batalhando para conseguir espaço nas salas. O filme tem recebido ótimas críticas e o público tem respondido com muito entusiasmo nas exibições que fizemos em festivais. Na próxima semana pode ser que tenhamos novidades.
CP: Tem outros projetos engatilhados para um futuro próximo? Se sim, poderia nos falar um pouco sobre eles?
MB: Sempre temos. Projetos são o que não faltam. Como também sou escritor de romances (“À Sombra da Lua”, publicado pela Rocco) o longa “Condado Macabro” será lançado como livro nas próximas semanas pela editora Simonsen. No cinema, fui convidado a participar de duas antologias de terror e já estou com o meu novo projeto de longa “O Escravo de Capela” na Ancine. Esse último é de um livro que escrevi que ainda estou em busca de casa editorial. Nele, abordo a lenda do Saci de uma forma mais visceral, onde um escravo amputado retorna do mundo dos mortos em busca de vingança.
ACM: Eu no momento estou terminando as gravações de um documentário sobre a dupla de media artists Mirella Brandi e Mueptmo, que tem um trabalho bem interessante explorando luz e sombra. Além disso existe a possibilidade de realizarmos a continuação de “Condado Macabro”. O Marcos já tem algumas ideias escritas, tudo depende de como for a repercussão do filme.