O thriller de suspense “Réquiem”, do autor Alexandre Rofer, foi um dos primeiros bons livros que encontrei disponível no aplicativo para smartphone Wattpad. Além da ótima escrita de Rofer, a história nos apresenta personagens bem construídos e um enredo envolvente.
“Réquiem” conta a história da psiquiatra forense Clara Nogueira, uma profissional talentosa, com uma vida pessoal um tanto conturbada. Sua vida fica ainda mais intensa e perturbadora depois de seu primeiro contato com Lázaro, um sádico serial killer que inicia um jogo psicológico com a jovem profissional. Logo nas primeiras visitas com o novo recluso do manicômio prisional, ela percebe que pode haver ainda uma última vítima, não descoberta pelos investigadores e provavelmente morta já há algum tempo. É com essa premissa que a história se desenrola e vamos nos envolvendo com os personagens de Rofer.
Apesar das semelhanças de enredo com a série Hannibal, o autor afirma que bebeu de outras fontes de inspiração, como “Constantine”, “Spawn”, algumas trilhas sonoras e, principalmente, uma imagem de sua adolescência.
“Por incrível que pareça, Hannibal não teve absolutamente nada a ver com a criação de Réquiem, apesar de eu reconhecer as semelhanças e até mesmo me assustar com elas”, disse.
“A semente para essa história surgiu, na verdade, de uma imagem que vi quando tinha uns 15 anos, em uma contracapa de revista. Não me lembro ao certo que tipo de revista era. A imagem retratava uma espécie de anjo que parecia um bebê com asas, encarando um sujeito com aspecto meio demoníaco, meio ogro, muito maior do que ele. Os dois pareciam a ponto de ‘sair na porrada’. Aquilo me marcou e, por algum motivo, fiquei martelando na cabeça a imagem e, aos poucos, surgiu a vontade de escrever sobre um caçador de demônios. Réquiem nasceu daí, e evoluiu somadas a outras referências, como Constantine – tanto a HQ quanto o filme – e Spawn”, afirmou.
Não é só a escrita e a narrativa que diferenciam Réquiem de muitos outros títulos disponíveis no Wattpad. Há algo que os autores tupiniquins desse aplicativo pecam de forma recorrente: geralmente, não há Brasil nos livros dos brasileiros. A história de Clara e Lázaro, ao contrário, tem a particularidade de ser um suspense com pitadas fantásticas e que se passa em terras tupiniquins, com nomes e sobrenomes brasileiros, feita para o leitor de nosso país.
“Réquiem” tem, hoje, quase 20 mil visualizações e aproximadamente 95 comentários de leitores publicados na obra, através do aplicativo Wattpad.
Rofer não esconde a sua pretensão de ter seus livros – além de Réquiem, escreveu também “A Janela da Alma” ou “Depois do Fim” – publicados por alguma editora. Se depender da qualidade de sua escrita, certamente conseguirá.
Simpático, Alexandre Rofer bateu um papo comigo sobre sua obra. Confira a entrevista completa.
ENTREVISTA
Cinema & Pipoca – Olá, Alexandre. Muito obrigado por ter aceitado nosso convite.
Alexandre Rofer – Olá, Danilo. Eu que agradeço pelo contato e também pela iniciativa. Empreitadas como essa são muito bacanas para “autores indie” como os muitos que temos no Wattpad, que “publicam” de graça simplesmente pelo prazer de compartilhar histórias.
CP – Há quanto tempo você está no Wattpad e qual sua opinião a respeito desta rede social?
AR – Estou na plataforma há pouco mais de um ano e meio. Tenho por esta rede social um apreço imenso. Escrevo desde muito novo e ser lido sempre foi um desafio. O Wattpad é uma alternativa para sujeitos como eu, anônimos, que não tem nenhuma exposição na mídia que possa atrair leitores para as obras. O compartilhamento de histórias e criações do Wattpad é fantástico nesse sentido. São todas as facilidades de uma rede social, não muito diferentes das presentes nas redes com as quais estamos acostumados a lidar, só que com um quê todo especial: tudo gira em torno da dinâmica de ler e contar histórias.
CP – Ao contrário de grande parte dos outros livros do Wattpad escrito por brasileiros, “Réquiem” é uma história que se passa no Brasil e que contém personagens com nomes não estrangeiros. Isso é algo pensado? Qual a importância dessa “brasilidade” na sua história?
AR – Sim, é algo pensado. Ou melhor, não diria nesses termos, porque faz parecer que meu ímpeto inicial teria sido escrever personagens “gringos”, paisagens estrangeiras, e deliberadamente eu tenha optado por não fazê-lo. Não foi o caso. A escrita “abrasileirada” é muito natural para mim. Faz mais sentido, enquanto escritor mesmo, que eu retrate realidades que me são familiares. A não ser que eu esteja criando um universo completamente novo (como uma aventura em Marte, por exemplo), não me sinto bem em ambientar histórias em Nova Iorque ou Londres quando nunca estive pessoalmente lá. O mesmo vale para personagens. É mais natural para mim retratar sentimentos e realidades que conheço. Aliás, é sobre eles que quero escrever. Nada impede que, um dia, eu visite Bangkok, e queira ambientar uma trama lá, mas temo que os personagens serão, sempre, bem brasileiros.
A fantasia ambientada em realidades brasileiras é um tipo de escrita relativamente novo e, por isso mesmo, muito desafiador. As pessoas não estão acostumadas a ler sobre seres fantásticos se digladiando Brasil afora e escrever sobre isso de uma forma que seja sedutora é um teste para mim, o que muito me agrada. Enfim, (…) a “brasilidade” em Réquiem e em todas as minhas outras histórias é fundamental. É o que faz delas histórias minhas. É o que me ajuda a me identificar com o que estou escrevendo, o que acaba por tornar todo o processo mais prazeroso, satisfatório. A graça está em “pintar” o texto com tons que me são familiares.
CP – Por se tratar de uma história onde os personagens principais são um serial killer perigoso e uma psiquiatra que se envolve psicologicamente com ele, o livro lembra – até certo ponto – a série Hannibal. Essa realmente foi uma fonte de inspiração? Quais fontes te inspiraram ao escrever Réquiem?
AR – Nunca li os livros da série. Vi os filmes, no entanto, e os acho excelentes. Meu favorito é “O Silêncio dos Inocentes”.
A semente para essa história surgiu, na verdade, de uma imagem que vi quando tinha uns 15 anos, em uma contracapa de revista. Não me lembro que tipo de revista era. Provavelmente uma propaganda de game em uma revista em quadrinhos, já que na adolescência, era leitor ávido de quadrinhos – ainda guardo títulos de Homem-Aranha e Spawn em minhas gavetas. A imagem retratava uma espécie de anjo que parecia um bebê com asas, encarando um sujeito com aspecto meio demoníaco, meio ogro, muito maior do que ele. Os dois pareciam a ponto de “sair na porrada”. Aquilo me marcou e, por algum motivo, fiquei martelando na cabeça a imagem e, aos poucos, surgiu a vontade de escrever sobre um caçador de demônios. Réquiem nasceu daí. O personagem principal era para ser um caçador de demônios. Não sabia, na época, se ele seria um ser humano comum dotado de uma consciência privilegiada, ou um super humano com poderes fantásticos. Mas sabia que queria escrever sobre demônios, ou sobre alguém os caçando. O conceito evoluiu a partir daí.
Se tivesse que dizer mais alguma fonte de inspiração, além daquela figura na contracapa da revista, acho que diria “Constantine” (tanto o quadrinho, “Hellblazer”, quanto o filme estrelado por Keanu Reeves – mas não a série de TV!). Não estou falando da trama, e sim da ambientação, do clima do personagem e do universo de “Constantine”. Me inspirou para imergir na atmosfera que queria para escrever Réquiem. Se me apontassem uma arma na cabeça, eu diria que Spawn também foi uma inspiração. As semelhanças entre o anti-herói criado por Todd McFarlane e o Lázaro de Réquiem são perceptíveis para quem é fã do quadrinho, principalmente no que diz respeito às motivações dos dois. Também tenho uma mania por trilhas sonoras. Certas trilhas sonoras originais de filmes, aquelas que são só instrumentais, também me inspiram para escrever. De acordo com a história que me proponho a escrever, escolho uma ou duas trilhas para me ajudarem a entrar no clima. A trilha original do filme de “Constantine” ajudou bastante, assim como as dos três filmes do “Batman” dirigidos pelo Christopher Nolan! Por incrível que pareça, Hannibal não teve absolutamente nada a ver com a criação de Réquiem, apesar de eu reconhecer as semelhanças e até mesmo me assustar com elas.
CP – Como você vê a participação intensa dos leitores, comentando e opinando enquanto sua obra ainda está em processo de construção?
AR – Acho o máximo. Realmente não pensei que fosse acontecer nada do tipo quando postei os primeiros capítulos. Você escreve algo que parece legal para você e, de repente, outras pessoas também se identificam com aquilo. A partir daí, o texto não pertence mais só a mim. Pertence a todos que acompanham, votam, comentam, exprimem suas opiniões sobre personagens e trechos da história. Apesar de o livro não ter sido ainda todo postado, o retorno tem sido incrível até agora. A participação dos leitores é o que dá vida à história.
CP – Além de autor, você também lê livros no Wattpad? Se sim, qual você indica?
AR – Hoje, admito que não uso a plataforma tanto para ler quanto a utilizo para escrever. Mas indico todos os textos de uma autora chamada Roberta Grassi. Escrevo fantasia, mas acabo, muitas vezes, lendo outros estilos. Acho sensacional o que essa autora escreve. Recomendo.
CP – Quais outros livros você já tem publicado, no Wattpad ou fora dele?
AR – No Wattpad, tenho diversos contos publicados. Há também poemas e crônicas disponibilizados no meu perfil. Quanto a textos mais extensos, tenho um livro pronto, um texto de horror urbano e fantástico, que não foi postado no Wattpad, mas no qual acredito muito, sem publicação, intitulado “A Janela da Alma”. Há outra história, uma fantasia pós apocalíptica, concebida em forma de série – em 2 volumes – da qual disponibilizei alguns trechos no Wattpad, intitulada “Depois do Fim” e que ainda não foi concluída completamente. Quanto a textos publicados por editoras, participei da antologia “Daemonicus”, da Editora Literata e também da antologia “A Morte do Outro Lado da Luneta”, da Editora Multifoco. O plano é ver “Réquiem”, “A Janela da Alma” ou “Depois do Fim” publicados por uma editora séria. Uma coisa é certa: não vou parar de escrever.
SOBRE O AUTOR
Alexandre Rofer é um carioca de 29 anos. Graduado em Direito, atualmente trabalha como servidor público do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Divide seu tempo entre leituras acadêmicas e leituras de ficção, esta última, sua “verdadeira paixão”. Ele pode ser encontrado no Wattpad pelo link http://www.wattpad.com/user/AlexandreRofer.
SOBRE O WATTPAD
A rede social Wattpad possibilita ao internauta compartilhar suas próprias histórias literárias na web em uma plataforma interessante e fácil de usar. Gratuita, o internauta pode fazer o cadastro no próprio site, ou vincular com sua conta do Facebook. Leia mais sobre o aplicativo na coluna Está no Wattpad.
Este é um espaço dedicado a ajudar você a encontrar boas histórias nessa plataforma. Quem sabe seu próprio livro não terá uma matéria exclusiva no Cinema e Pipoca? Para isso, basta entrar em contato comigo pelo próprio Wattpad, através da conta Danilo Pessoa.