Potoka, scifi independente de Felipe Fox
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Potoka, scifi independente de Felipe Fox

felipe

O Anime Friends 2018, além de ser um evento com temas grandiosos como Ultraman, editoras consagradas como a JBC e distribuidoras conhecidas como a Sato Company, ainda dá espaço para os artistas independentes. Foi numa dessas andanças pela feira que conheci o quadrinista Felipe Fox e seu trabalho Potoka, scifi independente e muito estilosa e caprichada.

Fox comenta que é apaixonado por todo tipo de HQs, mas tem uma queda por mangás de ficção científica e cita alguns artistas que o influenciaram, “adoro a forma com que os japoneses lidam com esse tipo de história. Acho que posso citar artistas como Katsuhiro Otomo (Akira), Tsutomo Nihei (Blame!), Yoshiyuki Sadamoto (Evangelion), Hiroki Endou (Éden) e Yukito Kishiro (Battle Angel Alita) pra começar”.

Confira mais sobre o bate papo que tivemos com Felipe Fox!

Cinema e Pipoca: Conte um pouco sobre sua carreira até chegar a Potoka.

Felipe Fox: Potoka é meu primeiro trabalho como quadrinista. Antes disso trabalhei durante 10 anos como Motion Designer, ilustrador e Artista 3D em produtoras de vídeo e estúdios de animação. Durante esse período estudei desenho de personagens, linguagem de quadrinhos e roteirização além de exercitar através de personagens e universos de RPG. Costumo dizer que o RPG foi minha principal escola. Hoje trabalho como freelancer e por isso pude criar um tempo extra para desenhar quadrinhos.

CP: Como surgiu a ideia do roteiro e quanto tempo entre início do projeto até a finalização?

FF: A idéia de Potoka veio de uma maneira interessante. Quando minha filha Anne (hoje com 2 anos) tinha apenas alguns meses de vida, se manifestava fazendo caras e bocas enquanto dormia, principalmente sorrindo. Dizem ser manifestações por causa dos primeiros sonhos. Logo, enquanto eu a observava dormir e contava suas respirações (sim, pais de primeira viagem invariavelmente fazem isso) me perguntava com que o ela devia estar sonhando. Esse foi o start para criar um universo de sonhos e dar uma importância quase existencialista a ele. Além disso, Potoquinha era um dos apelidos que demos pra nossa filha, daí o nome do mangá.

O processo de produção durou 4 meses incluindo roteiro, desenho e finalização. Mas pareceu 4 anos porque foi onde aprendi na raça com erros e acertos. Entre experimentações de materiais, traços e estilos, ainda lidei com uma tendinite na mão esquerda. Foi bastante intenso.

Potoka, scifi independente

CP: Sempre foi a ideia ter uma personagem feminina como protagonista? Qual a simbologia que há neste detalhe?

FF: Nesse caso sempre foi porque a personagem é inspírada na minha filha. Mas percebi algo peculiar no meu processo de criação quanto ao gênero dos protagonistas que crio. Nesse momento tenho um projeto sendo finalizado, um mangá dieselpunk cujo personagem principal também é uma mulher. E tenho mais dois plots para dois projetos futuros que também tem protagonistas femininas. Então passei a tentar entender porque isso acontecia de maneira automática.

Concluí que devo respeito à figura feminina porque fui cercado por mulheres extraordinárias. Criado pela minha avó na infância, afinal minha mãe, que era solteira, teve de trabalhar em outra cidade pra me proporcionar tudo que tenho ou sou. Sem falar que ao acompanhar o parto da minha filha, concluí que minha esposa é muito mais forte que eu, fisica e psicológicamente. Mulheres são heroínas e homens devem honrá-las, por isso como regra todos os meus personagens principais são e serão mulheres.

CP: Quantos volumes você planeja para Potoka?

FF: Esse One shot funciona como um prólogo da história principal. A saga de Potoka terá 6 volumes e o primeiro sairá até o fim desse ano.

CP: O quanto este scifi tem a ver com a atual situação do país?

FF: O principal tema da história é a busca dos humanos por um lugar para existir, por isso a luta pela dimensão dos sonhos. Lá é o último lugar onde se pode ser cidadão e viver em sociedade novamente. No Brasil há sempre uma luta pra se viver melhor ou poder fazer qualquer coisa sem que imposições injustas nos obriguem a agir alternadamente ou fracassar. Acho que posso dizer que o paralelo é a batalha por um lugar melhor para se viver melhor. Sempre sonhando.

CP: Como foi a repercussão de Potoka no Anime Friends?

FF: Foi surreal, porque a verdade é que nenhum leitor de quadrinhos nacionais me conhece, mas conseguimos despertar o interesse com a premissa da história e recebi vários elogios em relação à arte também. Minha esposa me ajudou nas vendas e apresentações e ficamos muito felizes e satisfeitos com o resultado. Muito superior às nossas expectativas.

Potoka, scifi independente

CP: Ser artista de quadrinhos no Brasil é um trabalho muito árduo? Se sim, como fazer para mudar este panorama?

FF: É muito árduo sim. Ainda mais por ser novo posso dizer isso. Não só pelas as dificuldades de ter que desenhar de madrugada porque durante o dia você tem que trabalhar, mas por ter que lidar com o medo da aceitação, medo das críticas ou medo do fracasso. Essas coisas são piores porque é difícil o quadrinista independente que se lança nesse mercado ter acesso, por exemplo, a editores experientes. Sem falar nas questões financeiras que no início envolvem mais perdas do que ganhos. Acredito que para mudar temos que criar quadrinhos com qualidade máxima pra chamar a atenção porque isso vai inevitavelmente fomentar o mercado e, claro, divulgação real nas mídias especializadas.

CP: Existem outros projetos futuros que poderia comentar conosco?

FF: Como já citado estou nesse momento trabalhando no volume 1 de “Seedtown – A Última Terra Fértil” projeto financiado coletivamente através do Catarse e que fica pronto em setembro deste ano. É um mangá seinen de ficção científica no subgênero Dieselpunk que conta a história de Aiko, uma inocente garota que é lançada em um mundo distópico para realizar o maior desejo de sua finada avó: alcançar a última terra fértil e plantar as últimas sementes de arroz do mundo. É uma jornada que confrontará seus valores e a apresentará a personagens como o robô Oby, um autômato coletor de lixo radioativo que possui uma curiosa falha em sua inteligência artificial.

Para maiores informações sobre os projetos ou adquirir o one shot “Potoka – Sonhos de Neon” é só acessar a página do Facebook: www.facebook.com/estudioquadronegro

E aí, conhecia Potoka, scifi independente de Felipe Fox? Comente com a gente!

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