O Esquema Fenício | Vale a pena assistir?
Mais nova adição para a filmografia do diretor e roteirista Wes Anderson, O Esquema Fenício chega em 2025 como mais um de seus característicos filmes. Com o estilo próprio do diretor mais impresso do que nunca, o longa traz uma trama elaborada e peculiar, cheia de reviravoltas, contando com uma montagem e fotografia interessantes, além de astros do cinema para todo lado em seu elenco.
O décimo segundo trabalho de direção e roteiro de longa-metragem de Anderson acompanha o excêntrico magnata europeu Zsa-zsa Korda, vivido pelo espetacular Benicio del Toro, enquanto o mesmo prepara uma grande empreitada comercial junto de sua filha, o chamado Esquema Fenício, após decidir nomeá-la como única herdeira de sua fortuna.
Impossível ser mais Wes Anderson do que isso
Se tem algo que aprendemos vendo a filmografia de Wes Anderson é que seu estilo sempre estará, de alguma maneira, cravado em suas obras. Em alguns casos, ele deixa a impressão de que o estilo é mais importante que o conteúdo, deixando o filme vazio do mesmo, apenas bonito de se olhar. Em O Esquema Fenício, apesar de não haver inovação, eu não tive esta impressão.
Para os fãs de carteirinha de Wes, o filme é um prato cheio. Sua característica fotografia, que preza pela simetria em tela e cores marcantes, contrasta muito bem com o formato 4:3 escolhido para as filmagens. Além disso, a montagem excelente deixa o filme com um ‘rosto’ familiar, sempre procurando encher os cenários de detalhes que são muito bem explorados, tanto pelo jogo de câmeras, quanto pelos próprios personagens em si. A junção destes elementos com seu roteiro expositivo e descaracterização dos personagens (no sentido de deixá-los menos ‘humanos’ e mais ‘artísticos’), dá a ele a sensação de estar vendo uma peça de teatro, sentimento comum aos fãs do diretor.
Outro fator determinante dos seus filmes (principalmente os mais recentes e de maior orçamento) é a presença exacerbada de grandes e renomados atores de Hollywood. Além de Benicio Del Toro, podemos encontrar nomes como Tom Hanks, Bill Murray, Willem Dafoe, Scarlett Johansson, Bryan Cranston, Michael Cera, Riz Ahmed, Jeffrey Wright, Alex Jennings, e é claro, o excepcional Benedict Cumberbatch, que dá vida ao meio irmão do personagem principal e antagonista da história. Além desse elenco recheadíssimo, tive uma ótima surpresa com o trabalho de Mia Threapleton, a quem não conhecia, interpretando a filha do protagonista, a aspirante a freira Liesl.
Todo o pacote presente, mas falta algo
No geral, fiquei muito feliz experiência que O Esquema Fenício proporciona, que consegue ser, no geral, entusiasmante. A trama parece complicada de início, mas fica mais fácil de entender conforme se desenvolve. Ele é agradável visualmente, como já dito, e tem muito sucesso em sua comédia inteligente e ótima em timing. Apesar de tudo, senti falta de algo para passar de apenas gostar do filme para amá-lo.
Tendo assistido agora nove dos 12 longas dirigidos por Wes Anderson, percebo que seu mais novo trabalho sente falta de personagens mais marcantes, que me fazem amar outras de suas obras. Aqui, tive dificuldade em me conectar até com os dois personagens principais (Zsa-zsa e Liesl), conseguindo apenas mais para o final/epílogo, o que é muito diferente em obras como Vida Marinha com Steve Zissou (2003) ou O Grande Hotel Budapeste (2014), onde a conexão com os protagonistas é quase instantânea.
Personagens secundários como Bjorn e o Tio Nubar falharam em trazer sentimentos maiores do que o comum por minha parte, mesmo com os esforços dos carismáticos Michael Cera e Benedict Cumberbatch, respectivamente.
Pra que complicar?
Outra coisa que ficou no meu caminho em amar o filme foram seus diálogos super complicados. Outra marca registrada de Wes Anderson, o roteiro cheio de diálogos muitas vezes é justificado com uma trama dinâmica e personagens carismáticos e interessantes, o que não é o caso em algumas partes do filme. Esse estilo de escrita tende a ser muito 8 ou 80 para a maioria das pessoas que assiste os filmes de Wes: Ou você consegue acompanhar e aprecia, ou não consegue e perde o interesse muito facilmente. Não atribuo à O Esquema Fenício nada definitivo, mas em alguns momentos ele consegue ser dinâmico e engajante, e em outros não, o que pode atrapalhar a experiência de quem seria o ‘8’.
No geral, a divisão por capítulos das negociações com os sócios de Zsa-zsa facilita a compreensão, apesar de sempre ter de ficar atento aos diálogos rápidos, que muitas vezes tem informações importantes para a compreensão da história. A divisão entre os eventos da vida real e o julgamento de Zsa-zsa no céu são difíceis de entender de início, mas se tornam parte importante da trama em seu decorrer (Quem nunca quis ver Bill Murray como Deus não é mesmo?)
Para finalizar, algo que me pegou no âmbito pessoal e que muitas das vezes tira meu proveito de filmes, foi o grande respeito que os realizadores tiveram com o cristianismo. Mesmo como cristão não católico, é muito comum eu gostar menos de um filme por seu tratamento desrespeitoso com a religião, o que não acontece em O Esquema Fenício. Por ter uma participação ativa na trama, seria fácil cair no preconceito e desrespeito com a crença cristã, mas gostei do fato de que Wes Anderson consegue mostrar pontos bons e ruins dela sem precisar chegar a esse ponto.
Onde assistir O Esquema Fenício?
O filme está disponível nas principais redes de cinema nacionais.
Sinopse de O Esquema Fenício
O excêntrico magnata Zsa-zsa Korda se une a sua única filha e herdeira Liesl e a seu tutor contratado Bjorn para negociar com seus sócios a realização de sua empreitada mais arriscada. Enquanto isso, ele foge de ativas tentativas de assassinato e sabotagem, enquanto tenta se aproximar da filha e testá-la, para tentar descobrir se ela é apta a herdar sua fortuna e negócios.
Nota: ★★★½
Título Original: The Phoenician Scheme
Ano de Lançamento: 2025 (EUA | Alemanha)
Diretor: Wes Anderson
Elenco: Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Benedict Cumberbatch, Alex Jennings, Riz Ahmed, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Willem Dafoe, Bill Murray, Rupert Friend, Hope Davis
Curiosidades de O Esquema Fenício
- O Esquema Fenício é o décimo segundo trabalho de direção de Wes Anderson em longas-metragens, que marca o 29° ano desde que lançou seu primeiro filme.
- Além de diretor, Anderson atuou em todos os seus filmes como roteirista, e em 11 deles como produtor.
- Bill Murray, que interpreta Deus no filme, é amigo próximo do diretor e aparece em 11 de seus longas, sendo protagonista em um deles (Vida Marinha com Steve Zissou) e coprotagonista em outro (Três é Demais).
- Apesar de figurinhas carimbadas nos longas do diretor, nem Jason Schwartzman, nem Owen Wilson dão as caras no filme, sendo que o primeiro aparece em oito deles, e o segundo, em sete.
- A marca de joias tradicional Cartier fez o rosário usado pela personagem de Mia Threapleton especialmente para o filme.
- O Esquema Fenício é a sétima colaboração entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola.