Diretor de filmes tão distintos quanto ‘O Menino Maluquinho’, ‘Amor e Cia’, ‘Pequenas Histórias’, ‘Batismo de Sangue’ e o documentário ‘O Mineiro e o Queijo’, Helvécio Ratton é um dos mais proeminentes profissionais de nosso país e agora, com seu próximo longa já finalizado, ele nos conta um pouco mais sobre sua carreira e também sobre ‘O Segredo dos Diamantes’. Confira.
Cinema & Pipoca: Fale um pouco sobre sua carreira, até chegar em ‘O Segredo dos Diamantes’.
Helvecio Ratton: “O Segredo dos Diamantes” é o oitavo longa metragem que dirigi. Antes dele fiz filmes diferentes entre si, como “Menino Maluquinho” e “Batismo de Sangue”. Ou o documentário “O Mineiro e o Queijo”. Não gosto de ficar preso a um determinado estilo ou gênero, me interessa a diversidade. Cresci vendo filmes de todos os gêneros e nunca entendi porque o cinema brasileiro tem que ficar preso às comédias ou aos filmes autorais. Porque não fazer um filme de suspense ou de terror? No caso do infanto juvenil, a dificuldade é ainda maior, parece que é proibido fazer filmes com imaginação brasileira para garotos e jovens.
C&P: Você é um dos poucos diretores que priorizam as locações da região onde nasceu, no caso Minas Gerais. Essa aproximação com sua infância facilita no momento de rodar os filmes?
HR: Comecei a fazer cinema no Chile, onde vivi alguns anos e participei de diversas produções. Já filmei em vários lugares do Brasil, rodei um documentário em Barcelona, “Um olhar sobre Barcelona”, e no filme “Batismo de Sangue” rodei algumas sequências na França. Filmar em Minas tem um lado econômico, na medida em que nossa produtora, Quimera Filmes, está sediada em Belo Horizonte, e também pelo fato de que aqui temos locações muito variadas e que conheço bastante. Em “A Dança dos Bonecos”, meu primeiro longametragem, escrevi o roteiro depois que conheci um pequeno lugar perto de Diamantina chamado Biri-Biri, que foi a inspiração para o filme.
C&P: Existe dificuldades em colocá-lo em circuito nacional, já que não é um filme feito no eixo Rio-São Paulo?
HR: Existe sim, na medida em que a mídia dominante no Brasil está concentrada no Rio e São Paulo. Qualquer coisa que venha de lá, por menor que seja, se torna nacional. O que acontece em outros estados, mesmo que tenha uma grande relevância, é regional. Recentemente, aconteceu algo bem significativo no futebol. Essa mídia, que só falava nos times do Rio e SP, teve que engolir, com certo constrangimento, o fato dos campeões nacionais serem de Minas, Atlético e Cruzeiro. Além disso, há sempre a questão de que os filmes brasileiros, para terem espaço nessa mídia, devem ter no elenco atores globais. Isso empobrece muito nosso cinema, diminui o Brasil.
C&P: A sinopse me lembrou um pouco de ‘Os Goonies’ e toda aquela aventura juvenil, minha comparação tem algum fundamento? E de onde veio a ideia para o roteiro?
HR: O que “O Segredo dos Diamantes” tem em comum com “Os Goonies” é que se tratam de garotos em busca de um tesouro. Mas as semelhanças param por aí. Meu filme se alimenta de todo o imaginário sobre tesouros perdidos e das muitas histórias que ouvi em Minas Gerais. Aqui teve, e ainda tem, muito ouro e diamantes e, em consequência, muitas lendas… Mas este é o pano de fundo de “O Segredo dos Diamantes”, que é uma história original criada por mim e pelo roteirista L.G.Bayão. A procura de tesouros é um tema universal e que mexe com todas as gerações. Por isso é que o filme vem encantando também os espectadores adultos.
C&P: E os apoios de investidores para o projeto, vieram de maneira fácil?
HR: Esse apoio nunca vem fácil. Nos últimos anos, a captação de recursos para o cinema brasileiro caiu muito e, no caso de “O Segredo dos Diamantes”, foi um processo longo e trabalhoso. O projeto do filme foi premiado em alguns editais e conseguimos o apoio de empresas que perceberam a importância de produzirmos este filme para o segmento infanto juvenil, de mostrarmos que é possível criar filmes emocionantes para este público com histórias bem brasileiras. Essas empresas perceberam que este é o caminho para se formar público para o cinema nacional, acostumando as crianças, desde cedo, a assistir filmes brasileiros.
C&P: Como foram feitas as escolhas dos atores para cada personagem?
HR: Para encontrar o trio de garotos encantadores do filme, tivemos que realizar mais de 600 testes. Gosto de trabalhar com atores infanto juvenis que ainda não tenham feito trabalhos profissionais no cinema ou na TV, prefiro que ele entrem no mundo do audiovisual através do filme. E, como aconteceu
com meus outros filmes para esse público, a gente descobre diamantes e eles logo mudam de mão… O Mateus Abreu, protagonista do filme, após a exibição de “O Segredo dos Diamantes” no festival de Gramado, foi logo contratado pela Globo. Quanto aos atores adultos, como o Rui Resende, que faz o vilão, e a Dira Paes, a mãe do garoto, são atores que admiro muito. O Rui já tinha filmado comigo em “Amor & Cia.” e a Dira eu queria muito trabalhar com ela. Acho que esse filme foi apenas o primeiro… Além deles, há uma constelação de atores mineiros que brilham em pequenos papéis.
C&P: Tem outros projetos engatilhados para um futuro próximo? Se sim, poderia nos falar um pouco sobre eles?
HR: Meu próximo projeto é o documentário “Holocausto Brasileiro”, baseado no livro da jornalista Daniela Arbex. O filme vai contar a história do maior hospício brasileiro, o de Barbacena, onde rodei o documentário “Em Nome da Razão” 30 anos atrás. Trata-se de um projeto para TV e estou entusiasmado em voltar ao hospital, hoje quase completamente desativado. A história do hospício de Barbacena se confunde com a própria história da psiquiatria no Brasil, que nesse momento busca definir outros caminhos para o tratamento da doença mental que não sejam o da segregação e do confinamento, como foi o caso de Barbacena e de outros grandes hospitais psiquiátricos pelo Brasil afora. “Holocausto Brasileiro” vai dar o que falar, com certeza.