Entrevistamos os diretores do drama A Cidade do Futuro
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Entrevistamos os diretores do drama A Cidade do Futuro

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Cláudio Marques e Marília Hughes, os diretores do drama A Cidade do Futuro, nos cederam uma entrevista muito interessante, onde comentam sobre o processo de escolha de elenco, a ideia e as dificuldades para tirar este projeto do papel. Segue agora a entrevista a entrevista na íntegra! Confira.

Cinema e Pipoca: Nos conte um pouco da trajetória de vocês, até chegarem no drama A Cidade do Futuro.

Cláudio Marques e Marília Hughes: Nós estamos trabalhando juntos desde 2006. Realizamos sete curtas, entre eles Nego Fugido (2009) e Carreto (2010). Em 2012, realizamos o nosso primeiro longa, Depois da Chuva, que teve uma bela carreira pelos festivais no mundo todo. Premiado em Brasília (Melhor Roteiro, Trilha Sonora e Atore) e que teve estréia internacional em Rotterdan.

Organizamos juntos o Panorama Internacional Coisa de Cinema, festival que traz a Salvador cerca de 150 filmes inéditos. O Panorama está em sua 14ª edição.

drama A Cidade do Futuro

CP: Como surgiu a ideia do roteiro de A Cidade do Futuro?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Foi em 2014, quando estávamos pesquisando para um documentário chamado “Sobradinho”, que surgiu a necessidade de ver como estava a tal “cidade do futuro” criada pelos militares na década de 70. Serra do Ramalho recebeu cerca de 73 mil deslocados à força após a construção da Hidrelétrica de Sobradinho, no norte da Bahia.

Fomos para lá já sabendo que encontraríamos pobreza, falta de oportunidades, jovens querendo ir embora da cidade… um roteiro previsível. E, de fato, é isso que acontece. Por outro lado, o que nos chamou a atenção, de uma forma positiva, foi encontrar jovens dispostos a lutar contra a homofobia e machismo da região.

Ficamos realmente encantados com a beleza, inteligência e preparo de muitos deles, particularmente de Milla, Gilmar e Igor, que se tornaram os nossos protagonistas uma vez que eles resolveram criar, na vida real, uma família fora dos padrões.

CP: Quais as dificuldades e facilidades de se trabalhar com dois diretores?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Cinema é feito de discussão, dialética. Conversamos e debatemos nossas idéias o tempo todo. É muito rico.

drama A Cidade do Futuro

CP: Com tanta relutância, de diversas pessoas, em aceitar que o ser humano é diferente um do outro e tem escolhas diferentes, como fazer um filme que dialogue também com este público?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Cada vez mais difícil no Brasil…. de toda forma, creio que um filme respeitoso e amoroso, pode nos levar a algum entendimento. Esse é um dos objetivos de “A Cidade do Futuro”. Não queremos dialogar apenas com o público previamente disposto.

CP: Fazer cinema independente é extremamente difícil e isso todos sabemos. Mas o grau de dificuldade aumenta quando se conta uma história que dialogue sobre homossexualidade, pobreza e negros?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Vivemos em um país elitista e preconceituoso. Estamos cada vez mais assustados com o grau de absurdo da nossa sociedade. A execução de Marielle, a chacina quase cotidiana de jovens negros nas periferias…. tudo isso sendo aplaudido por uma parte da nossa sociedade…. é muito assustador! Mas, temos que continuar tentando transformar e dialogar. Lembramos com muito carinho das duas primeiras exibições do filme, que foi em Curitiba. A reação do público foi incrível, muito forte. Mesmo! Nos explicaram, depois, que o fato da cidade ser tão reacionária fez com que o filme fosse tão acolhido. Uma jovem nos disse que ver o filme foi algo como “um respiro libertário”.

CP: Como foi feita as escolhas do elenco e como foi a preparação deles para viver papeis tão desafiadores?
Cláudio Marques e Marília Hughes: Nos apaixonamos por Gilmar, Mila e Igor desde o primeiro momento. Já queríamos filmar com eles quando Milla ficou grávida e decidimos que a história deles seria ficcionalizada.

Não poderia ser ninguém alem deles. Fizemos uma oficina com eles para prepará-los para o nosso cinema, a nossa forma de atuar. Foi intenso e tudo muito rápido, pois o tempo jogava contra a gente, dada a gestação. Mas, eles carregavam a verdade daquela história e são muito inteligentes. Rapidamente, nós chegamos ao que buscávamos.

CP: Esperava o sucesso do filme nos festivais tanto nacionais quanto de outros países?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Na verdade, não tínhamos nenhuma idéia. O filme foi feito com muita urgência, era um risco muito grande! Em quatro meses, escrevemos um roteiro, preparamos os atores, montamos a equipe, filmamos… Poderia ter dado tudo muito errado. Demoramos para entender a força que o filme tinha.

drama A Cidade do Futuro

CP: O que é cinema independente para vocês?

Cláudio Marques e Marília Hughes: É a nossa vida, é o que fazemos. Um jeito artesanal de criar obras elaboradas, técnica e dramaturgicamente falando. Os filmes têm alma, mas não deixam a desejar em termos técnicos.

CP: Poderiam nos falar um pouco a respeito dos próximos projetos?

Cláudio Marques e Marília Hughes: Estamos finalizando um documentário que se chama Sobradinho, apos oito anos! O filme tem como foco o impacto da construção da barragem na vida da comunidade, com atenção especial à Dona Pequenita, antiga moradora de Pilão Arcado que voltou a morar em uma cidade em ruínas, abandonada.

E também estamos finalizando Guerra de Algodão uma ficção que segue uma menina de 14 anos que mora na Alemanha e volta a Salvador depois de muitos anos para passar as férias com a sua avó materna. É o reencontro dessa menina com a cidade e também com antigas histórias de família, até então desconhecidas.

Confira o trailer do drama A Cidade do Futuro:

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