‘Cartas de Amor são Ridículas’ é um longa metragem nacional, que foi escolhido para o FESTICINI – 1° Festival Internacional de Cinema Independente. Conversamos com a diretora Alvarina Souza e Silva sobre este e outros temas. Confira!
Cinema e Pipoca: Gostei do nome do longa. Mas você acha realmente que cartas de amor são ridículas?
Alvarina Souza e Silva: Esse é um poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) “Todas as cartas de amor são ridículas”. Por estar em acordo com tudo, com o meu pensamento e um de seus versos (esse abaixo) traduzir a ideia principal do filme, ele recebeu esse título. Não só porque cartas de amor eram vistas como ridículas, “coisa de gente sonhadora”, mas também como ironia.
“Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.”
CP: Como surgiu a ideia do roteiro e em quanto tempo ele foi escrito?
ASS: Sou Goiana do interior e quando criança vi um rapaz sendo preso e minha mãe explicou que aquilo estava acontecendo porque ele desonrou uma moça menor de idade e então ele ficaria na cadeia até “casar na polícia”. E também minha vó contava estórias de moças que tinham casado sem nunca terem visto seus futuros maridos, casavam por procuração. Isso me angustiava. E se essas pessoas não gostassem de seus parceiros? Teriam que passar a vida toda do lado deles! Não posso precisar esse tempo, mas com certeza mais de quarenta anos. Naturalmente, o que ficou do primeiro tratamento foi apenas a essência, a ideia principal. O resto foi modificado por novos conhecimentos e pela minha vivência.
CP: Mesmo estando num centro tão grande quanto o Rio de Janeiro, ainda sente dificuldades de tirar este tipo de projeto do papel? Por que?
ASS: Pelo tempo que levei para rodar o filme, é possível imaginar o quanto foi difícil viabilizar o projeto, mas este nem teria acontecido, até hoje, se não existisse o digital. Rodar um filme de época, em película, seria inconcebível financeiramente pra mim. As estratégias de captação de patrocínio eu não domino. Além disso, sempre faço projetos pequenos e mais alternativos. Adaptei o roteiro para o filme menor e ai ele aconteceu.
CP: Conte-nos um pouco sobre ‘Cartas de Amor são Ridículas’.
ASS: Longa-metragem de 100 minutos, colorido, “Cartas de Amor São Ridículas” é o título de um poema do grande escritor: Fernando Pessoa, cujas poesias costuram a estória que narra o drama de um pai de cinco filhas, as quais receberam nomes de flores: Violeta, Hortência, Gardênia, Dália e Açucena. Ele se referia a elas como o seu jardim de flores. Como em um jardim há perfume, também há espinhos. E sendo o casamento, naquela época, o único destino de uma mulher, essa se torna a grande batalha dele e delas em buscas enlouquecidas, equivocadas e cômicas.
CP: Como foi a escolha da equipe e do elenco para o longa?
ASS: O filme conta com uma infinidade de apoios. O elenco principal é coprodutor e não recebeu nada, a câmera é de um coprodutor, os carros de época são de apoiadores e também tivemos um pequeno apoio do governo de Goiás em dinheiro, o restante foi recursos próprios. Acredito que tudo isso ganhou proporções maiores pela minha experiência como profissional da área, em mais de 35 anos, e mais, especificamente, como produtora executiva que conseguiu viabilizá-lo com R$300.000,00 (trezentos mil reais). Em razão de tudo, pensamos em um filme enxuto com uma equipe mínima, mas formada por profissionais de reconhecida competência. O elenco foi privilegiado por goianos para manter o sotaque natural, apenas Roberto Bomfim, Sandra Barsotti e Carolina Oliveira não são de lá.
CP: Onde foram feitas as locações e como decidiram que ali seria o local ideal para as filmagens?
ASS: As filmagens (99%) aconteceram em Goiás, na cidade de Goiás, belíssima cidade tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade, cujas belezas naturais e arquitetônicas enriquecem muito o filme que foi rodado em HD, 4K, em cinemascope. A cidade tem o clima perfeito do filme, não só por ser minha terra, mas também um lugar onde de fato acontecia tais estórias. O Rio de Janeiro aparece em (1%) apenas, como localizador de um personagem que volta da cidade grande e também como fortalecedor das diferenças.