Entrevista com Tiago Belotti
Li na Revista Set, a respeito de um filme nacional independente sobre zumbis, intitulado A Capital dos Mortos. Entrei em contato com o pessoal, e fiz a entrevista com Tiago Belotti, diretor e dono do Canal Meus 2 Centavos. Desde já gostaria de agradecê-lo e desejar-lhe sucesso… o cinema nacional necessita urgentemente de empreitadas em novos gêneros.
Entrevista com Tiago Belotti
CINEMA E PIPOCA: Quando você teve a ideia de ‘criar’ esta atmosfera e mesclá-la com um roteiro passado justamente na capital brasileira?
TIAGO BELOTTI: Sempre adorei filmes de zumbi. Desde os tempos do Thriller do Michael Jackson, que me aterrorizou quando criança. Não perdia nenhum filme do gênero, e a vontade de realizar o meu próprio projeto foi se desenvolvendo naturalmente. Talvez o principal motivo tenha sido o fato do cinema nacional não produzir filmes nesse estilo. Isso sempre me incomodou, sempre quis ver um filme brasileiro de zumbi. Então decidi fazer um. E Brasília é a cidade perfeita pra isso. Nenhuma outra cidade do Brasil tem uma fotografia tão boa pra cinema.
A ideia inicial surgiu em 2004, com o roteiro Brasília dos Mortos, que era pra durar cerca de 40 minutos. Foram feitas algumas tentativas de patrocínio, mas sempre sem sucesso. Passaram dois anos, e eu havia juntado suficiente dinheiro pra realizar o filme de forma 100% independente. Reformulei o roteiro com a ajuda do Mikael Bissoni, e o mesmo se tornou um filme de 90 minutos. No começo de 2006, o produtor Rodrigo Luiz Martins se juntou ao projeto, e oficialmente começou a produção do filme “A capital dos Mortos.
CP: Quais eram as maiores dificuldades na hora das filmagens?
TB: Manter os zumbis motivados era sempre um problema, pois era pouca gente para maquiar muitos zumbis, e muitos não gostavam de ficar esperando.
Outro problema foi em relação à continuidade do filme, principalmente da aparência física dos atores. Como foram mais de dois anos de filmagens, tínhamos que estar muito atentos às mudanças no visual dos atores. Todos tinham que manter o mesmo corte de cabelo, ninguém podia engordar muito, etc.
Outra dificuldade, talvez a maior de todas, era a questão da produção em si. Como éramos praticamente só eu e o Rodrigo Luiz Martins fazendo o filme, era muito difícil exercer todas as funções que qualquer produção cinematográfica exige: manter a luz, posicionar e regular câmera, fazer o som direto, orientar os atores, fazer a fotografia/cenografia, ensaiar, orientar os zumbis, pensar na continuidade das cenas, pensar na decupagem, storyboard, etc. Basicamente éramos duas pessoas ocupando a função de uma equipe cinematográfica inteira.
CP: Quantas pessoas, mais ou menos, foram necessárias para fazer o filme?
TB: Depende. Se estivermos falando em produção e direção, éramos apenas eu e o Rodrigo Luiz Martins. Se estivermos falando da equipe como um todo, incluindo atores, zumbis, as pessoas que eventualmente ajudavam na maquiagem, edição, trilha sonora, etc… calculo cerca de 200 pessoas (só de zumbis foram mais de 150
CP: Há alguma influência de GEORGE ROMERO nesta sua empreitada ? Quais seus filmes favoritos do gênero?
TB: Claro. Sou fã fervoroso de Romero. Inclusive, A Capital dos Mortos faz muitas referências e homenagens aos filmes dele.
Gosto muitos dos primeiros três filmes de zumbis que ele dirigiu, com ênfase para Dawn of the Dead (1978), que é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Night of the Living Dead (1968) e Day of the Dead (1985) também são sensacionais. Filmes de zumbis de outros diretores, eu gosto de Braindead (1992), 28 Days Later (2002) e Shaun of the Dead (2004), cujo tom cômico foi forte inspiração para A Capital dos Mortos. Também gostei muito de REC (2007).
CP: Recebeu propostas de alguma empresa para lançá-lo comercialmente em DVD?
TB: Não, pelo contrário. Eu o Fábio Rafael editamos e montamos o DVD duplo (com mais de três horas de material extra), e mandamos prontinho (junto com um projeto que explica minuciosamente todas as etapas da produção do filme, e da justificativa para fazê-lo) para todas as distribuidoras do Brasil. Foram mais de 20 contatos, e ninguém demonstrou interesse em comercializar o DVD. Então, eu mesmo paguei pela duplicação de mil unidades.
Essa experiência me mostrou o quão alto é o nível de preconceito e descaso por produções independentes no Brasil, principalmente as de terror.
CP: Já tem planos para novas produções?
TB: Tenho um roteiro pronto para a Capital dos Mortos 2, mas ele requer cerca de 30 a 50 mil reais para ser feito da forma como visualizo, pois é um filme bem mais elaborado do que o primeiro. Estou tentando captar essa verba. Enquanto isso tenho feito curtas, e estou terminando de escrever um longa chamado “H1V1” sobre uma mutação do vírus da gripe suína que deixa as pessoas infectadas enlouquecidas e com uma raiva desgovernada. Chama-se “H1V1”, pois a letra V faz alusão à palavra “vírus”. Não é um filme de zumbis pela definição rigorosa do gênero, mas se encaixa nos mesmos moldes. É um roteiro com certas semelhanças ao filme 28 Days Later. A esperança é que, com a visibilidade de A Capital dos Mortos, eu consiga uma verba mínima para realizar um desses dois longas.
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