Fernanda Torres e a força de seu discurso para a arte e para a sociedade
Ontem (05), a atriz Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama por Ainda Estou Aqui, sendo a primeira brasileira a conquistar o troféu. Competiam com ela grandes estrelas internacionais, como: Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl), Tilda Swinton (O quarto ao lado), Kate Winslet (Lee) e Pamela Anderson (The Last Showgirl).
Lembremos que no longínquo ano de 1999, sua mãe, Fernanda Montenegro, havia sido indicada por Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles e perdido para Cate Blanchett, por Elizabeth.
Em seu discurso, Torres falou: “Meu Deus, eu não preparei nada, porque não sei se estava pronta. Esse foi um ano incrível para os desempenhos de atrizes, tantas atrizes aqui que eu admiro tanto. E, claro, quero agradecer ao Walter Salles, meu parceiro, meu amigo. Que história, Walter“. Finalizou dizendo: “E, é claro, quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não têm ideia, ela estava aqui há 25 anos, e isso é uma prova que a arte dura na vida, até durante momentos difíceis pelos quais a Eunice Paiva passou e com tanto problema hoje em dia no mundo, tanto medo. Esse é um filme que nos ajudou a pensar em como sobreviver em tempos como esses. Então, para a minha mãe, para a minha família, para o Andrucha, para o Selton, meus filhos. E para todos, muito obrigada ao Globo de Ouro, Michael Parker, Mara, tantas pessoas. Muito obrigada!“.
Pensemos o quão representativo é este prêmio:
- Temos aqui uma filha que conquista algo que a mãe chegou muito perto (e que merecia demais);
- Além de uma representatividade que é propagada ao mundo, provando que ditaduras destroem e não constroem, machucam e jamais cicatrizam, causam danos para muitos e beneficia poucos. E, como num surto coletivo, quase nos deparamos novamente com isso por aqui.
A arte tentou ser calada e filmes como Marighella, de Wagner Moura, que nem é tão visceral quanto Ainda estou Aqui e tantos outros, tiveram dificuldades de saírem em circuito. Mas vivemos numa democracia, o cinema precisa contar histórias, provocar e ‘colocar o dedo numa ferida’ que, como já disse, deve ser relembrada de tempos em tempos para que JAMAIS passemos por isso de novo.
Fernanda Torres e a consciência de uma grande atriz
Assim como Demi Moore (A Substância) abriu o coração ao falar que ouviu pessoas dizerem que ela era uma “atriz de filmes pipoca” e não de projetos mais artísticos e que, ontem, deu a volta por cima ou de Tadanobu Asano (Xógum), que se apresentou ao mundo e exacerbou felicidade, Fernanda Torres fez este ‘barulho’ em seu discurso, mostrando, com muita classe e elegância, que ditadores não podem assumir o poder e nem mesmo ganhar força em uma sociedade que preza pela liberdade (como é a norte-americana e a nossa).
O orgulho deste prêmio é de todos os brasileiros que compreendem a importância do cinema, do teatro, da literatura e da arte em geral para nosso dia a dia e para nossa sobrevivência, mas, acima de tudo, temos Fernanda Montenegro, que ergue os braços ao lado de familiares em sua residência, ao saber que sua filha faturou este tão aclamado prêmio – lindo!.
Por fim, isso tudo é, no cômputo geral, em memória de Rubens e Eunice Paiva, Vladimir Herzog, Carlos Lamarca e de suas famílias. Reafirmando e reforçando o que foi dito por Fernanda Torres: “A arte dura na vida, até durante momentos difíceis pelos quais a Eunice Paiva passou e com tanto problema hoje em dia no mundo, tanto medo. Esse é um filme que nos ajudou a pensar em como sobreviver em tempos como esses. Então, para a minha mãe, para a minha família, para o Andrucha, para o Selton, meus filhos. E para todos, muito obrigada ao Globo de Ouro, Michael Parker, Mara, tantas pessoas. Muito obrigada!“.