Pobre Preto Puto é um documentário em média metragem, exibido no 2º Festicini, que fala sobre Nei D’Ogum, um homem combatente das causas gays, transexuais e negras. Com uma temática tão forte e intensa quanto esta, o Cinema e Pipoca não poderia deixar de falar com o diretor Diego Tafarel e suas dificuldade para tirar o projeto do papel.
Cinema e Pipoca: Conte-nos um pouco sobre sua carreira até chegar em Pobre Preto Puto.
Diego Tafarel: Sou formado em produção em mídia audiovisual pela universidade de Santa Cruz do Sul e trabalho com vídeo há 8 anos. Além do cinema, transito no meio da publicidade. Antes de Pobre Preto Puto, já tinha dirigido outros curtas, tanto de ficção quanto documentais.
CP: Num país que carrega dentro de si tanto preconceito, como fazer para que as pessoas entendam que todos somos iguais? Pobre Preto Puto seria mais um, dos tantos gritos implorando por igualdade?
DT: Na Pé de Coelho Filmes sempre gostamos de trabalhar temas que discutam a sociedade, então acreditamos que sim, existe um grito forte por igualdade na obra. Contar parte da vida do Nei foi uma experiência de muita troca, a gente aprendeu muito com ele nesse processo e acredito que quem vê a obra finalizada sente essa energia que emana do nosso personagem. Ele é a voz de muita gente que é excluída, um grande lutador.
CP: Como conheceram Nei D’Ogum e como se deu essa aproximação?
DT: Em 2014 fomos convidados para fazer um filme que contava a vida da “Dona Lila” que é avó do Nei, que foi uma das primeiras ativistas feministas do RS, nos anos 60. Na construção dessa obra tivemos o prazer de conhecer o Nei. Depois de um tempo eu virei amigo dele e ao conhecer ele melhor, tive a certeza que era necessário falar sobre ele em um filme.
CP: Combatente das causas gays, transexuais e negras. Quais foram os cuidados tomados para que a narrativa não transformasse Nei D’Ogum em um “coitado”?
DT: Nossa intenção era contar um recorte da vida do Nei, mas sempre respeitando a maneira dele se mostrar pro mundo, então o cuidado maior foi nessa troca de informações e sentimentos, porque que a vida dele foi e é uma grande batalha. Nunca quisemos mostrar ele como um coitado, até porque ele não é, apesar das dificuldades em sua vida, tínhamos em mão um personagem forte com uma personalidade muito marcante.
Outra coisa que vale ressaltar é que na periferia tem muita gente passando dificuldade e exemplos de superação não podem ser vistos como o caminho, eles são exceção. O que é preciso na periferia são políticas que criem oportunidades para as pessoas crescerem. Ninguém precisa ser super-herói e passar a vida inteira superando desafios, o importante é que todas as pessoas tenham dignidade e infelizmente isso não tem acontecido.
CP: Quais as principais dificuldade de se tirar um projeto como Pobre Preto Puto do papel?
DT: O curta foi feito sem nenhum patrocinador e sem leis de incentivo, então foi complicado do ponto de vista financeiro, mas com ajuda de amigos, como a Marta e a Angélica, produtoras culturais do filme, e dinheiro próprio viabilizamos a obra.
Outra dificuldade era a nossa história, por eu não ser gay nem negro, tive muito respeito pela opinião do Nei na construção da narrativa. Como somos amigos e já temos outros projetos nesse sentido, acredito que conseguimos alcançar o objetivo e finalizar um filme muito sincero, acima de tudo.
CP: O que é cinema independente para você
DT: Pra mim o cinema independente é resistência e paixão. Como amo filmes e sei da dificuldade de fazer cinema no Brasil, ainda mais no interior do RS, tive que arrumar um jeito de superar esses obstáculos. É na luta e na garra que produzimos a maior parte de nossas obras.
Outra coisa que me deixa muito feliz é a liberdade narrativa que um filme independente proporciona, não existe ninguém pressionando, ou seja, podemos contar as histórias que acreditamos. Felizmente existem festivais que dão espaços para essas obras, proporcionando a chance de que elas alcancem outras pessoas.
CP: Tem outros projetos para o futuro? Poderia comentar a respeito?
DT: Sim, estamos na fase de pré produção de um curta metragem chamado “Rio dos Dias”, baseado num livro do Rudinei Kopp que é um escritor da nossa cidade. O curta se passa todo em Santa Cruz. Também estou trabalhando no argumento de um novo documentário ainda sem título oficial, mas que também trata de temas periféricos específicos de uma região do interior do RS.
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