NÃO POR ACASO

A duplicidade que é usada em algumas sequências para mostrar o que poderia ter acontecido se Teresa, por exemplo, saísse de casa cinco segundos antes é ótima e bem mais impactante do que se usassem apenas a narrativa e outros frames esporádicos (como um take no rosto sofrido de Pedro). A explicação dada por Ênio, comparando as células do nosso corpo com as movimentadíssimas ruas e avenidas de São Paulo é bem utilizada e é também, uma variação dos nossos próprios comportamentos no dia a dia.

Tanto Ênio quanto Pedro levam vidas burocráticas e rotineiras, tendo medo da modificação, mas o fato é que, hora ou outra perderão o controle delas, assim como ocorre em suas profissões. Após certas perdas, há transformações e sempre saímos daquele episódio modificados física ou mentalmente e cabe a nós mesmos fazermos do caos, uma virtude.

Ênio e Pedro vivem experiências diferentes: um fracassou num relacionamento e trabalha como controlador de tráfego, o outro acaba de trazer a namorada para morar com ele e ganha a vida montando mesas de sinuca. Num dia qualquer, suas vidas se encontrarão por causa de um acidente que trará diversas cicatrizes para eles.

Com ótima trilha sonora, Barcinski molda uma São Paulo diferenciada e mesmo com toques dramáticos, foge daquela celeuma de que é terrivelmente complicado e triste morar na capital. As atuações de Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros (‘Budapeste’) são exemplares, assim como os coadjuvantes e apesar de, às vezes, o diretor ser burocrático em suas tomadas, nos dá um filme muito além das expectativas.

Título Original: Não Por Acaso
Ano Lançamento: 2007 (Brasil)
Dir: Philippe Barcinski
Elenco: Rodrigo Santoro, Leonardo Medeiros, Letícia Sabatella, Branca Messina, Rita Batata, Graziela Moretto, Cássia Kiss

ORÇAMENTO: —