O Cinema e Pipoca estava presente no primeiro dia do FESTICINI – Festival Internacional de Cinema Independente e pôde conferir quatro curtas metragens de ótima qualidade. Confira nossos comentários sobre estes projetos (logo mais os vídeos sobre o Festival estarão no ar!)
MEMÓRIAS DO CINE ARGUS
Presente e passado se fundem na primeira cena do curta metragem ‘Memórias do Cine Argus’ do diretor Edivaldo Moura, primeiro filme a ser exibido no 1º dia do FESTICINI, na cidade de Sumaré.
O prédio que comportou um cinema entre 1938 a 1995, hoje é uma loja de materiais plásticos e todas as histórias de um passado sublime são recontadas pelos ex-frequentadores, trabalhadores e admiradores do local.
O tom de nostalgia, com as filmagens de algumas sessões, fundidas com pôsteres de obras como ‘O Exterminador do Futuro’, ‘Rambo’ e tantos outros, jogam o espectador para dentro daquele ambiente. As entrevistas são bastante dinâmicas, sem contar a narração em off do próprio diretor, que chega lotada de melancolia e amor como podemos perceber neste trecho: “Nas minhas doces lembranças de infância, nunca me esquecerei de quem embalou minhas tarde de domingo e de quem prendia minha atenção da uma as três da matina.”
Uma pena que a memória coletiva do Brasil, como um todo, é tão pautada no presente, fazendo com que histórias como esta se percam ou sejam esquecidas. Um grande achado do diretor e uma pequena pérola a todo o cinéfilo que se preze.
POOP SOBRE A POBREZA
A diversidade de temas do FESTICINI é notável, e ‘Poop sobre a Pobreza’ vem para fazer um tributo à engenhosidade humana, mostrando como os moradores do deserto de Thar, uma região desolada no Paquistão, sobrevivem.
Imagens esteticamente feias de se ver, como as mulheres recolhendo as fezes dos camelos, se misturam com as diversas e belíssimas fotos capturadas por profissionais, criando, com isso, uma discussão etnocêntrica bastante relevante.
Para uma temática tão ampla e rica, o diretor Vijay S. Jodha, poderia dar um corte final com pelo menos 10 minutos a mais, tendo maior profundidade e densidade e fazendo o público se importar com personagens pontuais.
ESPANTALHOS
Marcelo Domingues, diretor do melhor curta da primeira noite do FESTICINI, cria um universo tão particular em sua obra que fica difícil não se emocionar. Ele conta a história de dois espantalhos, que de dia são objetos inanimados e à noite ganham vida e descobrem, à sua maneira, o ambiente que o cercam.
A fotografia e a maquiagem em ‘Espantalhos’ é de encher os olhos e é muito melhor do que muitos longas metragens com orçamentos robustos, além disso, é um vislumbre ver toda a entrega de Rivaldo Nogueira e Camila Cattai, que são minuciosos nos olhares vazios e no andar sem jeito dos protagonistas.
Alguns espectadores poderão até antecipar o que acontecerá no desfecho, mas não existe problema nisso, pois a perfeição nos ângulos de câmera e nas locações – que são tão decadentes quanto os próprios espantalhos – fará o espectador acreditar no mais real e puro sentido de amor.
MILKMAID
Co-produzido pela Austrália e Polônia, ‘Milkmade’ trata sobre um tema que não sai de moda: sustentabilidade. No roteiro, uma garota está na floresta e descobre ter um contato direto com as árvores e todo aquele ambiente. Vendo a devastação que os homens levam para lá, ela sai em busca de vingança.
Os tons esbranquiçados aguçam as cenas violentas e deixam a cor vermelha ainda mais viva e a expressividade da atriz principal é tocante.
Interessante notar que boa parte das escolhas deste primeiro dia foram filmes sem diálogos e apresentam uma densidade emocional bem grande. E viva o cinema de qualidade!