REVISTA PIPOCA MODERNA - ENTREVISTA COM EDITOR

Desde já tenho que agradecer a atenção do pessoal da REVISTA PIPOCA MODERNA (nas bancas a 3 anos), que nos concedeu entrevista.

Muito sucesso para vocês e vamos às perguntas:

CINEMA E PIPOCA: O que acharam das indicações do Oscar… e a falta de O CAVALEIRO DAS TREVAS na categoria principal ?

REVISTA PIPOCA MODERNA: Sinceramente, ninguém esperava o Cavaleiro das Trevas nas categorias principais até dezembro, quando começaram a aparecer as primeiras indicações de prêmios para o Heath Ledger. Quando o filme saiu, o que a imprensa falou foi que, poxa, tomara que lembrem do Heath Ledger no Oscar, mas o Batman não é filme de Oscar… Lembra disso? Mas muita gente parece tentar capitalizar em cima do tema “por que o Batman não concorre a melhor filme”, mas isso é igual a chutar cachorro morto.

Depois do exagero com O Retorno do Rei, a Academia parece ter feito um mea culpa e se voltou claramente para o drama, para o filme de pequeno orçamento e que representa o oposto do filme de verão. Com isso, ela queria mais credibilidade para o Oscar. Em compensação, a audiência da premiação nesses anos “indies” vai de mal a pior. Quando digo que é chutar cachorro morto falar mal da Academia porque ela não escolheu o Batman, é porque é fácil criticar o Oscar por perder apelo popular. A questão é: vc quer um prêmio popular ou de prestígio?

Para lembrar do Cavaleiro nas Trevas nessa premiação é necessário constatar que 2008 foi o o pior ano de Hollywood nesta década. Saíram alguns filmes bons, mas nenhum sensacional. Quem Quer Ser um Milionário é bom, Benjamin Button é razoável, mas O Leitor, por outro lado, é um filme cujo terceiro ato está entre os piores já nomeados a um Oscar. A maioria dos filmes que disputa a premiação, como Dúvida, O Lutador, A Troca e Frost/Nixon é apenas correto. Colocar o Cavaleiro das Trevas lá no meio de filmes que beiram a mediocridade é comprar uma briga e uma discussão que a Academia não está preparada para fazer neste momento em que busca sua própria identidade e sua autocrítica.

CINEMA E PIPOCA: Qual a maior dificuldade para publicar uma revista de Cinema no mercado brasileiro ?

REVISTA PIPOCA MODERNA: Estar na banca, numa década em que claramente o negócio é a Internet. Banca no Brasil é um negócio medieval, feudo mesmo, onde uma única empresa tem o monopólio nacional de distribuição, estabelece regras, taxa, sobretaxa, metas, reparte, etc. Chegar na banca é para poucos. Ficar na banca para menos ainda. Curiosamente, as agências de publicidade são as fiadoras do negócio revista nessa terra. O conservadorismo do meio publicitário é só que impede a morte do papel.

CINEMA E PIPOCA: ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO pode ser o início (ou a reinvenção) do genero terror aqui no país, ou é cedo para dizer isso?

REVISTA PIPOCA MODERNA: Encarnação do Demônio foi um tremendo fracasso comercial, então não. Mas o Brasil tem um monte de cineastas independentes fazendo terror barato em 16mm ou digital. É uma tradição que vem desde a década de 80. O problema é que esses filmes não chegam ao público – nem a lugar nenhum. Então, há produção, não há os meios de distribuição.

CINEMA E PIPOCA: Hoje em dia a pirataria (principalmente de DVDs) chegou numa espécie de ápice, onde 99 % da população acha mais coerente comprar um filme no camelô, do que alugá-lo. Vocês vêem alguma saída para essa “irracionalidade social” ?

REVISTA PIPOCA MODERNA: A cultura do camelô rende debate polêmico. Eu francamente não acho que quem compra filme de camelô é comprador de DVD. Esse público não é colecionador. Também não vai ao cinema. Vc sabe quanto custa um ingresso de cinema? Os cinemas mudaram para os shoppings por um motivo: é para quem tem carro, dinheiro para pagar o estacionamento, pagar o lanche e a pipoca fria de mais de R$ 5.

Então, o público do camelô não é o público do cinema. Essa pirataria não está afetando esse negócio. Quem está sofrento é a locadora pequena de bairro, que tenta alguar filmes por R$ 3 a diária e nem assim consegue. As locadoras estão fechando e tendem a acabar totalmente. As empresas de vídeo doméstico não irão lhes dar a mão, vão simplesmente migrar de plataforma.

Várias distribuidoras trabalham em projetos para oferecer downloads de filmes no Brasil, como acontece em outros países – a solução da Warner para acabar com a pirataria na Coréia do Sul, país com uma das Internets mais rápidas do mundo, foi simplesmente parar de fazer DVD no país e oferecer tudo para download. Enquanto o DVD rental não acaba, as distribuidoras continuam a oferecê-lo num preço salgado. Cada filminho que vc aluga, o cara da locadora tem que pagar em torno de R$ 120 para a distribuidora.

O cara vai quebrar, é óbvio, pois se não pagar, o público vai encontrar o filme que ele não comprou na locadora concorrente – ou no camelô. E olha que vc não falou em Internet na sua pergunta. È interessante ver que nem as campanhas antipirataria falam de Internet: o alvo são os “traficantes” de DVD nas ruas. Mas isso logo logo será redimensionado.

CINEMA E PIPOCA: O HOBBIT realmente sairá ? E será com GUILLERMO DEL TORO?

REVISTA PIPOCA MODERNA: A expectativa pela prequel existe desde o fim da trilogia O Senhor dos Anéis. O livro já existia, estava pronto para ser filmado. Já estão tocando a prè-produção. A idéia é dividir o filme em dois e aí está o problema: o segundo filme será uma história inédita, ou seja, que não foi escrita por JRR Tolkien.

Acabei de fechar a Pipoca Moderna com capa do Watchmen e a questão que o diretor Zack Snyder e sua mulher Deborah, que é a produtora do filme, fizeram questão de salientar é que Hollywood não trata quadrinhos como trata a literatura dita séria. Fizeram várias versões sem mudar nada de Orgulho e Preconceito, mas não tem problemas em alterar todo o contexto de um gibi, porque não consideram que o mesmo valor. É o mesmo motivo que Snyder alega para não querer se envolver numa continuação de Watchmen, não seria Alan Moore, seria um filme do estúdio. Pois o Hobbit 2 não será Tolkien.

Novamente o CINEMA E PIPOCA e seus leitores agradecem pela atenção…Abraços…