Cinema e Pipoca: Conte-nos um pouco sobre sua carreira e diga-nos, é difícil ser diretora de cinema num país como o nosso?
Thereza Jessouroun: Comecei minha carreira como fotógrafa de cena e continuísta em filmes de ficção. Em seguida fui assistente de montagem e editora em vídeo. Nos anos 90, eu já tinha vontade de trabalhar com documentários. Fui, durante 6 anos, assistente e produtora de Eduardo Coutinho e depois de Eduardo Escorel, Silvio Tendler e Helena Solberg. Eles foram minha escola de documentário. Produzi tambem mais de 10 documentários estrangeiros filmados no Brasil, o que me deu muita experiência como produtora. Em 1996 abri minha produtora, a Kinofilmes, e comecei a produzir meus documentários e sigo produzindo-os, como tambem produções estrangeiras, documentários educativos, promocionais e institucionais.
Se é difícil ser diretora? É difícil ser diretora, produtora, roteirista, editora,
ou qualquer outra função no cinema. É difícil, mas muito prazeiroso. Dizem que quando a gente faz o que gosta, não trabalha nem um único dia na vida, não é?
TJ: Meu segundo documentário realizado em 2001, chamado SAMBA foi totalmente filmado na Mangueira, eu sempre fui mangueirense e desfilei alguns anos na escola. Naturalmente, eu só poderia fazer documentários sobre o tema com a Mangueira. Mangueira é meu time de futebol, não poderia torcer por outra escola, nem filmar noutra escola. Conheço todo mundo lá. Gosto de mostrar o lado não estereotipado do samba, que não é visto durante o Carnaval, e que a maioria das pessoas desconhece. Atribuo a isso o sucesso do “SAMBA”, que foi exibido em TVs de 20 países. Naquela época, por causa das filmagens, eu me envolvi muito com a escola, e fiquei com vontade de fazer um outro sobre a orquestra que é a bateria, que rege todas aquelas 4 mil pessoas que desfilam. Só consegui finalizá-lo agora, em 2011.
CP: Raramente se fala sobre samba no cinema… Sentiu alguma dificuldade na hora de procurar apoio, por causa disso?
TJ: Ultimamente, várias pessoas tem filmado o samba. Existe interesse de diretores, mas o grande público que vai ao cinema, não se interessa por este tema. O primeiro, o SAMBA, foi realizado com recursos de um edital do BNDES, onde o projeto foi selecionado. Este último, recebeu co-produção da TV Brasil, e patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Mas reconheço que não é fácil. Acho que os filmes sobre samba despertam mais interêsse no exterior.
CP: Quais os personagens mais divertidos e diferentes que você entrevistou para ‘Coração de Samba’?
TJ: Todos que participam do filme são interessantíssimos pois eles tem uma paixão enorme pelo ritmo, por tocar na escola. É quase uma necessidade para quem toca na bateria. Necessidade da arte mesmo. Ali eles entram num transe, é muito emocionante. Mas o personagem mais impactante do filme é Elmo dos Santos, filho do fundador da bateria da Mangueira, ex-presidente da escola, e que é o narrador do filme. Sua entrevista conduz toda a narrativa do filme.
TJ: Emoção é entrar pela primeira vez na Sapucaí desfilando. Nunca me esqueço. Aquele mundo de luz, cores, e som, é emocionante. Você sente orgulho, nervoso, emoção, medo de errar, tudo junto. Filmar já foi diferente, é sempre difícil, estressante, a gente fica mais preocupado com o que você vai ter no material gravado, do que com o desfile em si. Quando fomos assistir o material foi que deu o arrepio.
CP: Como vê essa evolução do Cinema Nacional no atual momento? E tem outros projetos engatilhados para um futuro próximo? Se sim, poderia nos falar um pouco sobre eles?
TJ: Nunca existiram tantos editais de fomento ao cinema nacional. Existem muitas possibilidades para projetos bons. Tem que ralar pra conseguir grana pra fazer os filmes. O que temos que conseguir ainda é conquistar o público e convencê-lo que ver filmes brasileiros vale tanto a pena quanto ver os blockbusters.
Neste momento estou fazendo um documentário de 26 minutos sobre crianças em situação de rua em parceria com o CIESPI e o Fetzer Institute (USA), com filmagens no Rio e no México. Está sendo a experiência mais difícil da minha vida. No segundo semestre, iniciarei a produção de um documentário de longa-metragem sobre segurança pública, projeto que foi um dos vencedores do Fundo Setorial do Audiovisual de 2010.
O “Coração do Samba” vai participar do Los Angeles Brazilian Film Festival (de 15 a 19 de Julho), depois do Brazilian Film Festival de Miami (de 18 e 24 de agosto) e do Brazilian Film Festival de Londres entre os dias 21 e 25 de setembro. Espero que emocione os estrangeiros!
CP: Obrigado e sucesso para você Thereza!