Bye Bye Jaqueline, produção nacional e independente estrelada por Wellington Sari, Poliana Oliveira e Evandro Scorsin, esteve nos cinemas e agora será exibido no Canal Brasil e também no Telecine, ou seja, é outra oportunidade para você ver ou rever esta obra. Tivemos o privilégio de conversar com o diretor Anderson Simão que, dentre outras coisas, nos revelou que “o filme é muito influenciado pelo John Hughes, que é um dos nossos maiores ídolos no cinema. Sobretudo, tem uma mistura do Garota de Rosa Shocking com o Gatinhas e Gatões“.
Confira agora a entrevista na íntegra com o diretor:
Cinema e Pipoca: Nos conte um pouco sobre sua carreira até chegar a Bye Bye Jaqueline.
Anderson Simão: Bom, eu sou formado em cinema e sócio da produtora O Quadro, que produziu o filme. A gente já tem ela faz 7 anos, começamos a produzir ainda na faculdade, já temos mais de 25 curtas-metragens produzidos, um longa-metragem documentário e o longa-metragem de ficção Bye Bye Jaqueline. Em geral eu produzo muito mais que dirijo, mas eu tinha dirigido dois curtas de ficção e um curta doc antes do Jaqueline.
Cinema e Pipoca: Como surgiu a ideia de Bye Bye Jaqueline?
Anderson Simão: Na nossa carreira, a maioria dos filmes que produzimos tem temática da juventude presentes. Em geral os filmes falam dessa fase, tem jovens atuando e muitas vezes eles nem são atores profissionais, o que acrescenta uma carga de naturalidade às histórias. A ideia do Jaque surgiu em parte dessa nossa experiência com as produções anteriores, parte das experiências pessoais nossas (nossa própria adolescência) e dos filmes que gostamos muito e que tem essa mesma temática, muitos deles assistimos pela primeira vez quando ainda éramos adolescentes.
Cinema e Pipoca: O roteiro, escrito por Wellington Sari, abre espaço para discussões universais, como amor, amizade e solidão e etc. Mas como fizeram para diferenciar o filme de tantos outros com a mesma temática?
Anderson Simão: Acho que há muitos diferenciais, o filme. Alguns deles são um pouco mais sutis que outros. O fato de usarmos atores mais desconhecidos no elenco, trazem uma naturalidade e uma “impressão” de realidade para o filme, que um filme que tem no elenco aquela atriz ou ator super conhecido, que o público sabe que é uma celebridade e que já fez muitos outros papéis no cinema e na TV, não consegue provocar. Outra coisa, a que eu mais gosto, é o fato de misturarmos tramas do cotidiano, com dramas leves, à narrativas com bastante humor, às vezes quase beirando o nonsense, de uma maneira bem livre, sem se prender tanto à fórmulas narrativas. A última delas, e existem outras que agora não vou enumerar aqui, é o fato de abordarmos a adolescência mas tentando não impor julgamentos e/ou culpa à eles.
Cinema e Pipoca: Como foram feitas as escolhas para o elenco? Já tinham alguns destes atores em mente?
Anderson Simão: Digo que a escolha do elenco foi bastante longa e cansativa, pois passamos cerca de três meses fazendo testes e avaliando aproximadamente cem jovens, antes de chegarmos ao elenco fechado. Todos eles nunca haviam trabalhado com a gente antes. Até chegamos a cogitar e testar pessoas que já conhecíamos, mas especificamente para o perfil desses personagens eles acabaram não servindo.
Cinema e Pipoca: A trajetória de Bye Bye Jaqueline nos cinemas foi conforme o esperado? E como conseguir abocanhar um espacinho que seja contra as grandes produções de Hollywood?
Anderson Simão: É muito difícil competir com o cenário das grandes produções, sobretudo porque hoje as grandes bilheterias são “derivadas” de algum sucesso anterior. Uma imensa parte dos filmes que conquistam muito público, ou são adaptações de livros de sucessos, ou franquias/filmes de heróis, ou reboots/continuações/remakes e assim por diante. É difícil pra um filme que vem meio do zero como o nosso conquistar público. Não que o nosso filme seja cem porcento original, mas eu acho que as pessoas hoje em dia não estão querendo muito serem surpreendidas. Elas querem aquilo que a maioria quer e se sentem mais confortáveis assim.
Cinema e Pipoca: Você acredita que, se comparado há alguns anos atrás, o espectador nacional aprendeu a se interessar mais pelo nosso cinema?
Anderson Simão: Sinceramente, eu acho que não mudou muito. A gente teve um crescimento do público de cinema nos últimos anos, mas isso não refletiu muito no aumento de público das produções nacionais. A gente passou por um crescimento monstruoso da Tv paga e do streaming/internet no Brasil, mas ainda as produções são predominantemente estrangeiras.
Cinema e Pipoca: Senti alguns toques de John Hughes em Bye Bye Jaqueline. Estou certo? E quais os melhores filmes sobre adolescência na sua opinião?
Anderson Simão: Com certeza você acertou. O filme é muito mesmo influenciado pelo John Hughes, que é um dos nossos maiores ídolos no cinema. O Jaque, sobretudo, tem uma mistura do Garota de Rosa Shocking com o Gatinhas e Gatões. Eu com certeza vou esquecer de citar ótimos nomes aqui, mas gosto muito dos filmes adolescentes do John Hughes, da Amy Heckerling, do Richard Link Later e do Jorge Furtado.
Cinema e Pipoca: O processo até tirar o filme do papel demorou muito? Foi difícil conseguir apoiadores e patrocinadores?
Anderson Simão: Todo filme demora muito pra sair do papel, sobretudo longas-metragens. Da primeira versão do roteiro ao lançamento foram cerca de 5 anos. Esse filme teve algumas peculiaridades, a primeira pelo fato da ideia inicial ser um curta, que depois foi retrabalhado para um longa. A segunda pelo fato de que optamos por fazer um filme com orçamento pequeno, daí que se você não demora tanto pra captar, conseguir apoiadores e incentivadores, você acaba demorando muito pra finalizar e depois buscar financiamento pra lançar.
Cinema e Pipoca: Tem planos para novos projetos? Se sim, poderia comentar um pouco sobre eles?
Anderson Simão: A gente tem muitos projetos em desenvolvimento, de ambos eu sou produtor. Pretendemos fazer mais dois longas de pequeno porte ainda em 2018, ambos com narrativas simples, com temáticas jovens e jovens adultos. Um deles se chama Bia Mais Um, uma comédia adolescente que abordas alguns dramas, um deles é a gravidez nessa fase, o outro chama-se Paixão e Metadona e é uma comédia nonsense jovem adulta, com influência de alguns filmes do Woody Allen. Paralelamente, desenvolvemos mais três longas de médio porte, duas comédias adolescentes, o Quando o Verão Passar e o Dublê de Namorados, o segundo um pouco mais jovem adulto, e um terror adolescente que estamos desenvolvendo através de uma linha de apoio do Fundo Setorial do Audiovisual.