Matheus Benites, jovem diretor do longa metragem Antes que Ela Vá conversou conosco sobre este e outros projetos de sua carreira. A sinopse conta a história de de um casal jovem da classe-média carioca, que é perturbado pela angústia dos dois em relação a seis meses no futuro: quando ela vai embora para estudar na Europa.
Ao mesmo tempo, ele recorre aos conselhos de uma amiga distante para não deixar sua neurose entrar no caminho do namoro. Confira o bate papo!
Cinema e Pipoca: Conte-nos um pouco sobre sua carreira até chegar a Antes que Ela Vá.
Matheus Benites: Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade de falar um pouco sobre o filme aqui. Então, eu não chamaria de “carreira” ainda. Minha paixão pelo cinema veio muito antes de ser uma escolha profissional. Eu sempre gostei de assistir filmes e com 9 ou 10 anos eu fazia vídeos de animação em “stop-motion” com brinquedos e depois veio a fase na qual eu obrigava meus amigos da escola a serem os atores.
Foi só no nos últimos 3 anos, no fim do ensino médio que, como todo mundo, eu tive que escolher uma profissão e, pela sorte de ter tido esse engajamento precoce, não foi nenhuma dificuldade. Mas só nesse período, a partir de 2014 mais ou menos, que eu comecei a realizar curtas metragens mais maduros – ou melhor, que não me dão vergonha – e que tiveram a sorte de passar em um festival ou outro.
CP: O filme trata sobre primeiro amor de dois jovens e sobre a tecnologia. Como fez para não cair na mesmice, pois existem inúmeros filmes com uma temática semelhante.
MB: Na verdade, eu não tive essa preocupação escrevendo o roteiro. Muito desse filme vem de experiências pessoais de relacionamentos, histórias reais que eu ouvi e verdades sobre o meu tempo. Eu tento ser o mais verdadeiro possível de um jeito que resulte num filme pelo qual, como espectador, eu me apaixonaria. E torço para que as outras pessoas se conectem com ele de forma parecida.
Por que eu acho que, no fundo, somos todos mais parecidos do que somos diferentes. E talvez buscando uma verdade íntima que te toca profundamente, você tenha ainda mais chance de não “cair na mesmice” do que se você tentar surpreender a audiência, por que ao tentar surpreender a audiência você nem sempre é verdadeiro e as pessoas percebem quando estão sendo enganadas e conseguem detectar o quanto o autor se importa com seus temas.
CP: Como foi o processo de escolha de elenco e houve algum tipo de preparação para eles entrarem em seus papeis?
MB: Foi um processo curioso por que eu estava começando a procurar um ator quando o Gabriel soube de mim e dos meus curtas através da minha amiga e atriz Maria Clara, com quem tinha trabalhado no último, “Falsas Memórias”. E ele me procurou e a gente trocou uma ideia sobre cinema, filosofia e mistérios da vida e eu convidei ele para o papel por como ele é na vida real.
E ele gostou do roteiro e caiu dentro, começamos a trabalhar e foi ótimo por que eles eram mesmo parecidos, e eu não tenho a impressão de que ele está atuando nesse papel, apenas sendo. E depois eu escalei uma atriz que eu já tinha na cabeça, mas que teve que abandonar o projeto por problemas pessoais. Então acabamos realizando testes de elenco com diversas atrizes e foi justamente a Maria Clara quem fez a melhor performance para a personagem. Não houve preparação externa, pois não temos dinheiro. De qualquer forma, a troca entre nós três nos ensaios está sendo incrível.
CP: Quanto tempo durarão as gravações e quais serão as locações utilizadas?
MB: As gravações vão acontecer em apenas 9 dias no próximo mês e as locações são todas na região do jardim oceânico, na Barra da Tijuca, onde o filme é ambientado. A maior parte dele acontece no apartamento onde eu moro e na praia da Barra.
CP: O que você acha que será mais difícil na hora de tirar ‘Antes que Ela Vá’ do papel?
MB: Essa pergunta é tensa para responder, por que eu penso em tudo de errado que pode acontecer. Mas acredito que o mais difícil vai ser cumprir o plano de filmagem nesse tempo apertado. Estamos bem preparados, mas o cinema é uma arte refratária, o fator “realidade” sempre traz surpresas inesperadas para o set de filmagens e para o filme, sejam favoráveis ou não, e você lida com elas como pode para tentar fazer um filme tão bom quanto o que você planejou.
CP: Você, como um diretor de apenas 19 anos, já sentiu algum tipo de preconceito na hora de mostrar seu projeto para distribuidoras e outros profissionais?
MB: Felizmente não. Inclusive recebi bastante encorajamento dos meus amigos e dos profissionais experientes com os quais tive a oportunidade de conversar sobre o filme. E isso pode soar pretensioso, mas a verdade é que eu sempre quis fazer o filme do meu jeito. Meus pais me ajudaram a criar uma micro produtora, “Cinema de Alguém”, e ainda não cheguei a conversar com nenhuma distribuidora. Acho que esse preconceito deve vir depois. Antes do filme ser feito, é uma atitude admirável.
Depois, se o filme for bom, é uma coisa extraordinária e um talento a ser observado. Mas se o filme for ruim, é por que foi feito por um jovem imaturo e ambicioso, um diretor que ainda não estava pronto com uma ideia fraca. Como se não tivessem diretores experientes fazendo filmes péssimos sobre temas que não se importam tanto quanto tentam comunicar para o público.
CP: Conseguir apoio por crowdfunding é mais fácil do que por financiamento pelo Ministério da Cultura?
MB: Eu não saberia dizer, por que ainda não estou tão por dentro de como funcionam os financiamentos desses órgãos. Como esse é o primeiro filme e eu queria fazer nesse tempo, optei pelo Crowdfunding por ser mais simples e acessível para qualquer um.
CP: Como é fazer cinema independente no Brasil?
MB: Até agora – considerando que nem começamos a filmar – tem sido muito divertido na maior parte e estressante em algumas, sobretudo nas que envolvem burocracias e corridas contra o tempo. Mas mesmo nas piores horas ainda é um privilégio. Me vem o pensamento que “eu estou fazendo um filme e isso é muito incrível”.
CP: Tem algum outro projeto para o futuro? Poderia nos falar a respeito?
MB: Tem um projeto especial que eu estou guardando e esboçando aos poucos, pois meu foco é total para o “Antes Que Ela Vá”. Mas provavelmente vai ser o filme que vou fazer depois desse. Será mais trabalhoso, por que o “Antes”, apesar de não ter sido fácil de escrever, é um filme concentrado no universo de um namoro, um primeiro amor egocêntrico, que é filmado como se esse casal representasse os dois únicos seres no universo, que agora estão se desconectando. E tem muito de experiências que eu conheço nele. Já este outro filme tem como foco apenas uma personagem, mas envolverá diversos outros e ideias que eu ainda preciso me aprofundar bastante para conhecer. Quando for tempo, pretendo convidar uma amiga para escrever comigo, além de tentar me informar sobre as leis de financiamento.
Vídeo promocional da campanha de crowdfunding para Antes que Ela Vá
Antes que Ela Vá – Projeto Benfeitoria from Matheus Benites on Vimeo.
Confira mais em nossa coluna de entrevistas!