Alice Não Mora Mais Aqui
Críticas

Alice Não Mora Mais Aqui

alice nao mora mais aqui

Nada melhor que um sonho para mover as nossas vidas. Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn’t Live Here Anymore), filme dirigido por Martin Scorsese, nos aponta um caminho em busca de um sonho; aquele sonho esquecido, muitas vezes ignorado ou escondido em algum lugar dos nossos porões mais secretos. A trajetória de Alice Hyatt é interpretada pela atriz Ellen Burstyn, que em sua magnífica performance neste belo filme, lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 1974.

O filme traz aquela história que nos enlaça e nos cativa desde seu primeiro instante. É quase uma fábula. Uma história de uma Cinderela real; em carne e osso! Martin Scorsese consegue nos conduzir junto com Alice em sua perua lotada de bugigangas, por estradas empoeiradas e nas paradas em motéis por onde ela passa e pernoita com o filho. Para Alice não é fácil reconquistar o seu sonho e recuperar o tempo perdido. É uma jornada árdua. Não é fácil para ela e muito menos para nós, e isto, pode ser o fio condutor que nos faz simpatizar pela batalhadora, doce e ao mesmo tempo ingênua Alice. Sua batalha é quase impossível, mas acabamos sempre torcendo pela protagonista, porque desejamos ardentemente que tudo dê certo em sua viagem, como desejamos para nós mesmos. É assim que funciona uma boa e ardente história, onde a narrativa é capaz de provocar uma catarse, um reconhecimento sobre nós mesmos!

Alice Hyatt perde seu marido num acidente; um homem pacato, entregador de refrigerantes da Coca-Cola. Viúva, ela deixa sua casa na cidade de Socorro, no Novo México, onde morou por tantos anos, mantendo um casamento frio. Vende tudo, enche o velho carro de bagagens, pega o seu filho Tommy (Alfred Lutter) e parte para uma viagem com destino a Monterey – a cidade onde Alice deixou o seu sonho de se tornar uma cantora para se dedicar à vida doméstica. O filme nos encanta pela coragem que Alice têm de recomeçar, como se o tempo para ela não existisse – é o que desejamos: poder começar algo do ponto de onde paramos, sem ter que prestar contas aos anos perdidos. O plano dela é: chegar a Monterey, arrumar um emprego de cantora para mostrar seu talento e fazer o que realmente gosta, matricular seu filho numa boa escola, voltar a amar um homem e viver feliz para sempre. Simples assim? Não! A estrada que Alice toma é feita de encontros, desencontros e desilusões, mas não pensem que o filme é puro drama: a história de Alice nos faz rir, chorar e torcer por ela.

O roteiro de Robert Getchell é forte, pois mostra que viver não é nada fácil, mas vale a pena. A personagem central faz tudo girar em seu entorno como uma estrela poderosa, puxando a todos com sua gravidade; Ellen Burstyn é uma atriz feita para o papel e Alice nos mostra que compensa deixar de lado o medo e encarar o novo, mesmo que o destino nos reserve apenas espinhos. Alice Não Mora Mais Aqui é o tipo de filme real, cru e verdadeiro – não porque nos mostra uma dona de casa tentando acertar, vai muito além; põe-nos diante de um espelho, como se pudéssemos ser “Alices” neste mundo tão competitivo e cruel.

Alice Não Mora Mais Aqui

Outro ponto fundamental e crucial é a relação que Alice construiu ao longo do tempo com o filho; não é uma relação de mãe e filho, e sim de amizade, companheirismo e cumplicidade e talvez a vida seja assim: uma viagem que compartilhamos com pessoas, mesmo que esta pessoa seja o nosso filho ou alguém tão próximo.

Alice Não Mora Mais Aqui é um filme que faz a gente se aproximar da protagonista a ponto de se apaixonar por ela; por suas trapalhadas, por suas atitudes tempestuosas, por seus desesperos, anseios e dificuldades emocionais e financeiras. É um redemoinho de emoções que faz brotar aquele nó garganta – a gente chora rindo.
No elenco estão também Harvey Keitel, Kris Kristofferson, Diane Ladd e Jodie Foster – que está novinha de tudo, uma menininha, mas já dava sinais de se tornar uma grande atriz de Hollywood.

Vale a pena sentar e ver ou rever esta singela e fabulosa história, onde Alice não mora mais aqui, mas poderia morar em qualquer outro lugar, porque ela é como nós, que merecemos viver, amar e sermos felizes como qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta.

Filme: Alice Não Mora Mais Aqui
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Robert Getchell
Ano: 1974
Elenco: Ellen Burstyn, Alfred Lutter, Kris Kristofferson, Harvey Keitel, Diane Ladd e Jodie Foster

Por Wilson Roque Basso

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