CHATÔ – A SAGA DO FILME QUE NUNCA SAIU

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Há 20 anos, Fernando Morais lançava o livro de quase 700 páginas chamado ‘Chatô – O Rei do Brasil’ que narra a história de Assis Chateaubriand, um dos homens mais poderosos de todos os tempos e que foi lançado pela Companhia das Letras.

Já no ano seguinte, Guilherme Fontes, ator da Rede Globo que havia estrelado novelas como ‘O Pagador de Promessas’, ‘Bebê a Bordo’ e filmes como ‘Um Trem para as Estrelas’ adquire os direitos para filmar ‘Chatô’ (o produtor Luiz Carlos Barreto também corria por fora para obter os direitos) e é autorizado pelo Ministério da Cultura a captar 12 milhões de reais para produzi-lo e lançá-lo no início de 1997.

Fontes disse para o programa Roda Viva de 13 de março de 2000 que “o projeto audiovisual ‘Chatô, o rei do Brasil’ não compreende somente um longa metragem. Ele compreende sete capítulos de um documentário, uma campanha nacional na TV para vendas de fitas, mini-série de cinco capítulos, longa metragem propriamente dito, mais dois especiais – um de trilha sonora e outro de tecnologia.

Em 1996, Fontes continua levantando fundos e planeja começar as filmagens em junho, mas nada é filmado. Depois disso, Francis Ford Coppola é convidado por Guilherme a entrar no projeto como co-produtor e aceita, mesmo com o roteiro ainda inacabado. Nas palavras do própria Fontes: “eu fui até a American Zoetrope, conversamos sobre o assunto, a participação dele [Coppola] no filme. No filme, ele botou a Zoetrope, alguns dos seus principais roteiristas para trabalhar o roteiro comigo.” Coppola ainda comentou em certo momento: “O importante é fazer um filme que seja essencialmente brasileiro. ‘Chatô’ deve mostrar todas as brasilidades”.

O escolhido para protagonizar o filme é Marcos Ricca e Guilherme assume como diretor (ele cogitou a possibilidade de ter nomes como Dustin Hoffman no elenco). As filmagens que começariam em julho atrasam novamente e só começam em janeiro de 1999, mas logo param por falta de recursos (Fontes havia arrecadado 8 dos 12 milhões para o orçamento total junto a grandes empresas, que entraram como patrocinadoras com base na Lei do Audiovisual). O diretor banca 500 mil reais e grava cenas na França.

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O Ministério da Cultura assiste a aproximadamente 95 minutos e fica satisfeito, mas o Governo deseja a prestação de contas e só aceita a conclusão de ‘Chatô, o rei do Brasil’ se for feito por outra produtora que não a GFF (por conta da falta de transparência em relação aos gastos). Nesta época o filme já havia ultrapassado os 13 milhões de reais de captação (sendo 4,5 milhões de recursos próprios do diretor) e Guilherme pedia mais 2 milhões para ter um corte final de 130 minutos – além de produzirem oito horas de documentários, dirigidos por Walter Lima Jr. e mais de 20 horas de making off. Em setembro de 2000, a produção volta ao limbo por falta de pagamentos e Coppola vem a público dizer: “não tenho nada a ver com esse filme”.

Já em 2001 a Rede Globo diz que vai bancar a finalização do projeto com um acordo que previa a exibição nos cinemas por cerca de seis meses, além do lançamento em home-vídeo e a liberação para a TV aberta em 18 meses.

Estamos agora em 2002 e o diretor recebe uma multa por deixar os investidores sem saber como estão as filmagens, mas consegue 1,8 milhões de reais e coloca a câmera para rodar após 3 anos parado.

A RioFilme, em 2003, com o aval do então Prefeito César Maia, investe 1,9 milhões, já em maio de 2004 Fontes promete a estréia para novembro. Em junho daquele ano viriam algumas notícias de que as últimas cenas estariam sendo gravadas. Novembro chega e nada do filme, que seria prorrogado para agosto (de Deus?!).

Como uma novela sem fim, no final de 2005, o Governo obriga a GFF devolver 30 milhões de reais que havia recebido como incentivo para a realização de Chatô. A única escapatória para Guilherme seria apresentar o filme pronto. A briga judicial se arrasta o ano seguinte inteiro.

A Petobrás agora exige a devolução de 2,6 milhões de reais investidos no filme – foi o primeiro patrocinador a cobrar publicamente Guilherme. O diretor promete o projeto pronto para setembro de 2007 e nada.

Mas a bolha estoura em maior escala no ano de 2008, quando o diretor e sua sócia Yolanda Machado Medina Coeli, são sentenciados pelo Governo Federal a devolverem aos cofres públicos R$ 35,9 milhões, por conta de irregularidades durante o processo de produção.

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Em 2010, finalmente a ANCINE recebe cópias do disco com o projeto terminado, mas haveria a necessidade de terem em mãos uma cópia em 35 mm, além da prestação de contas. Resultado: o diretor é condenado a 3 anos de prisão por sonegação de impostos, que depois seria convertido em trabalhos comunitários e multa. Sem contar que perdeu na Justiça e foi obrigado a devolver mais de 2 milhões de reais recebidos como patrocínio pela Petrobrás.

Outra promessa, que obviamente não seria cumprida, se deu em julho de 2012 para a Revista Caras quando disse: “estou me preparando para finalmente estrear o Chatô. Pode contar uns quatro, cinco meses a partir de hoje”.

E como último capítulo desta saga – pelo menos por enquanto – Fontes, em entrevista a revista Status de abril deste ano, disse: “Vou estrear este ano. E vai ser uma coisa muito louca. As pessoas vão se surpreender. Está quase, está quase”.

Tentamos entrar em contato com Guilherme Fontes para que ele comentasse a respeito do projeto, mas até o presente momento não obtivemos retorno.

Fontes:
www.dgabc.com.br
cultura.estadao.com.br
www1.folha.uol.com.br
www.rodaviva.fapesp.br/
jornal.jurid.com.br
www.observatoriodaimprensa.com.br
www.sul21.com.br

Primeiro vingador do Cinema e Séries (antigo Cinema e Pipoca) e do Pipocast, sou formado em Jornalismo e também em Locução. Aprendi a ser ‘nerdzinho’ bem moleque, quando não perdia um episódio de Cavaleiros do Zodíaco na TV Manchete ou os clássicos oitentistas na Sessão da Tarde. Além disso, moldei meu caráter não só com os ensinamentos dos pais, mas também com os astros e estrelas da Sétima Arte que me fizeram sonhar, imaginar e crescer. Também sou Redator Freelancer.

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