Apocalipse nos Trópicos e o Brasil que se afasta, cada vez mais, da laicidade

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Apocalipse nos Trópicos é uma espécie de sequência ‘não oficial’ de Democracia em Vertigem, ambos da talentosa diretora Petra Costa, sendo que os documentários lidam com questões da política nacional em períodos e visões diferentes. Em Democracia, nos é apresentado os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff; além do julgamento de Lula, a chegada de Bolsonaro ao poder e a crise político-econômica que assola, até hoje, o Brasil.

Neste novo trabalho, ela tenta compreender os motivos da ascensão evangélica dentro da política e traça um paralelo com o livro do apocalipse. Para um país que, em um certo momento de sua história, se disse laico, todas essas tendências atuais nos dão medo e nos fazem pensar em como será o futuro – e antes mesmo de ver o filme já me questionava sobre isso.

Nomes como Silas Malafaia servem como protagonistas para trilhar caminhos nesses meandros entre política e religião. Eles adotam estereótipos e palavras para ‘levar’ seu público de um lado para outro – porém, Petra não esquece de relembrar que o mesmo Malafaia também apoiou Lula anos atrás. Este mesmo Lula que disse que não usaria ‘o nome de Deus em épocas de eleição’, mas que acabou por fazê-lo (e a cena em questão tem tantas camadas que julgo equivocada que eu prefiro não expô-las por aqui) – parece um looping eterno de palavras ditas ao vento.

Dentro de aproximadamente 100 minutos, há muitos caminhos a serem percorridos pelo roteiro, e alguns ficam ‘de lado’, pois o corte final foi escasso. É correto afirmar que a explicação dada para uma espécie de entrada dos evangélicos dos EUA no Brasil, durante a Guerra Fria, usando esses valores para propagar a ideologia anticomunista para pregar e ensinar os adeptos daqui, é coerente.

Apocalipse nos Trópicos e a polarização que, pelo visto, continuará

Petra também vai até as comunidades, e aposta em frases de efeito ditas pelos pastores para mostrar, exatamente, este ‘efeito’ que a fé e, muitas vezes, a manipulação de ideias, tem na vida das pessoas.

Consegue-se, realmente, pensar por si mesmo enquanto essas doutrinas são passadas com tamanha obrigação de segui-las? Mandatários da política estão virando, de fato, fantoches de pastores? Podemos abrir espaço para religiões de matrizes africanas, por exemplo, dentro deste Brasil de hoje em dia? Se cantarem para seus orixás no meio das ruas, como pastores fazem, gritando os trechos bíblicos até para quem não quer escutar, a população teria a mesma paciência?

Por fim, uma narração em off da própria diretora é ouvida, enquanto imagens do pós-ato golpista, onde centenas de pessoas invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, são mostradas. E ela diz:

“É incrível que a espécie humana tenha chegado a uma coisa tão bonita, tão paradoxal, tão acrobática, tão frágil. Não é à toa, que essa mesma espécie se mostre logo ansiosa para se livrar dela. É um exercício muito difícil e complicado para criar raízes na Terra. Talvez, num futuro apocalipse, essas ruínas revelem que esses prédios foram construídos, não para impor a vontade da maioria, nem a vontade de Deus, mas para proteger o que é vulnerável, na força bruta. Em grego, apocalipsis não significa fim do mundo, mas sim, um desvelar, uma revelação, a chance de abrir os olhos“.

Obs.: lembrando que não podemos generalizar e, sei também, que há pastores e políticos éticos e íntegros dentro de um país tão extenso quanto é o Brasil.

Apocalipse nos Trópicos
Apocalipse nos Trópicos

Onde assistir Apocalipse nos Trópicos

  • Stream: Netflix

Sinopse de Apocalipse nos Trópicos

Quando uma democracia termina e uma teocracia começa? O filme investiga o crescente controle exercido por lideranças evangélicas sobre a política brasileira. A diretora obtém acesso aos principais líderes políticos do país, incluindo o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, bem como um dos pastores mais famosos do Brasil —uma figura proeminente que parece manipular certos mandatários como fantoches. Aos poucos, observamos o papel crucial que setores fundamentalistas desempenharam na política nacional recente, revelando a teologia apocalíptica que impulsiona esses protagonistas.

Nota: ★★★★

Título Original: Apocalipse nos Trópicos
Ano Lançamento: 2024
Dir.: Petra Costa

Curiosidades de Apocalipse nos Trópicos

  • Brad Pitt é o produtor executivo de Apocalipse nos Trópicos.
  • A diretora Petra Costa conheceu Brad Pitt no almoço dos indicados ao Oscar.
  • Segundo a própria diretora, graças ao reconhecimento de Democracia em Vertigem, eles conseguiram financiar o filme de forma independente; caso contrário, não haveria filme, pois o então presidente Jair Bolsonaro havia chegado ao poder, encerrado a Agência Nacional do Cinema no Brasil e cortado todos os financiamentos para filmes.
  • O projeto foi lançado em 190 países.
  • Apocalipse nos Trópicos também foi exibido fora de competição no Festival Internacional de Cinema de Veneza em 29 de agosto de 2024.

Primeiro vingador do Cinema e Séries (antigo Cinema e Pipoca) e do Pipocast, sou formado em Jornalismo e também em Locução. Aprendi a ser ‘nerdzinho’ bem moleque, quando não perdia um episódio de Cavaleiros do Zodíaco na TV Manchete ou os clássicos oitentistas na Sessão da Tarde. Além disso, moldei meu caráter não só com os ensinamentos dos pais, mas também com os astros e estrelas da Sétima Arte que me fizeram sonhar, imaginar e crescer. Também sou Redator Freelancer.

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