Entrevista com a diretora do filme Um Jardim Singular
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Entrevista com a diretora do filme Um Jardim Singular

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Mônica Klemz é a diretora do filme Um Jardim Singular, e ela nos cedeu uma entrevista a respeito do projeto, que aborda o ritmo de vida atual, com a globalização, e a consequente diminuição das relações interpessoais, que esvaziam os espaços públicos. O roteiro se passa no jardim do Palácio do Catete, que nasceu no Brasil Império e é tombado como patrimônio histórico, mostrando como as pessoas interagem com ele e como o jardim se desdobra em múltiplas facetas.

A ideia para o documentário surgiu quando ela iniciou um estudo sobre o uso de material de arquivo nas artes plásticas. Mônica continua dizendo que “este trabalho virou um artigo e houve uma apresentação oral no Congresso de audiovisual em Avanca, Portugal. Em seguida, fiz um trabalho de projeto científico e iniciação científica, com o Prof Guilherme Lima e dentro desse estudo, passei a me interessar, especificamente, pelo filme-ensaio”.

Segue abaixo a entrevista na íntegra com a diretora!

Cinema e Pipoca: Apenas 19,7% dos longas produzidos no Brasil desde 2016 são dirigidos por mulheres brancas e este número é ainda menor quando nos referimos a mulheres negras. Como fazer para mudar este panorama e equilibrar as contas?

Mônica Klemz: São muitas as estratégias que podem ser realizadas para aumentar o índice de mulheres na direção do audiovisual:

  • campanhas educacionais ;
  • júri/crítica composto por mulheres;
  • crítica da mídia aos festivais que nem selecionam as mulheres e estudo dos porquês;
  • alguns advogam cotas;
  • alguns advogam que haja prêmios para diretores em separado, como já existe para ator e atriz, entre outros.

Cinema e Pipoca: Como surgiu a ideia para o documentário Um Jardim Singular?

Mônica Klemz: Vários fatores me fizeram escrever Um Jardim Singular. No curso de cinema, iniciei um estudo sobre o uso de material de arquivo nas artes plásticas, com a professora Denise Trindade. Em seguida, fiz um trabalho de projeto científico e iniciação científica, com o Prof Guilherme Lima, da teoria do som, respectivamente um cineclube e um festival universitário de filmes de material de arquivo, o que resultou na inclusão de um artigo no capítulo 7 do e-book Arte Comentada. Dentro desse estudo, passei a me interessar, especificamente, pelo filme-ensaio. Assim, a minha monografia foi sobre o tema: O intertexto como ferramenta do filme-ensaio, cujo professor orientador foi o Wilson de Oliveira. 

diretora do filme Um Jardim Singular

Um dos direitos básicos e fundamentais da democracia é o direito da liberdade de ir e vir ou permanecer, exercitando o ser político e social que existe em cada um de nós. De alguma forma, os espaços públicos refletem a maneira como lidamos com esse aspecto da democracia. Fiz um filme anterior chamado Por Quantos Mundos Atravessamos? que se passava no Jardim do Campo de São Bento, cujo projeto paisagístico também foi do Glaziou mas que teve uma abordagem diferente: a interface do mundo real, virtual e imaginário. O Ricardo Bento, o editor de som e mixagem, estava sem uma ideia clara de como seria a sua monografia. Ele sempre imaginou fazer um documentário nos jardins do Palácio, só que do tipo entrevista. Finalmente, me deparei com um trecho de um livro do Rem Koolhaas, que questionava se todas as grandes metrópoles não eram como todos os grandes aeroportos, todos eles iguais: foi como o filme surgiu – um documentário experimental com características ensaísticas, com o uso da subjetividade e do intertexto através do uso de fotos e filme antigos, maquete, jornal, pintura, escultura, para situar o Jardim e oferecer a chance ao espectador de passear pelas alas do tempo a procura de alguma singularidade.

Cinema e Pipoca: Acredita que, daqui há dez anos, por exemplo, “a diminuição das relações interpessoais, que esvaziam os espaços públicos”, será muito pior do que é hoje?

Mônica Klemz: Espero, sinceramente, que não. Ao mesmo tempo que a globalização exige que pareçamos uns com os outros numa massa homogênea, vejo muitos movimentos que nos fazem lembrar de nossa identidade, do respeito que deveríamos ter com a alteridade e singularidade. 

Cinema e Pipoca: Como foram as tratativas para filmarem no Palácio do Catete? Houveram dificuldades para conseguirem?

Mônica Klemz: o filme só foi possível graças ao festival Elipse da Secretaria de Cultura do Estado do RJ e da Cesgranrio. Foi fornecida uma verba de R$ 12.500,00 brutos e 6 meses para a realização do filme. A pesquisa para o filme se deu durante todo o processo fílmico. Tínhamos verba para 2 dias de filmagem. No segundo dia choveu.  Tivemos que adiar em 1 semana a filmagem e entrarmos em acordo com a locadora do material. Entre a produção do nosso filme, toda a equipe estava comprometida com a realização de filmes da PEX.  

Cinema e Pipoca: Houve algum personagem com uma história inusitada que poderia nos contar?

Mônica Klemz: O personagem principal do filme é o Jardim. Como precisávamos de 3 dias de filmagem e só tínhamos dois, tivemos que filmar do telhado. Chegando lá descobrimos que o Palácio das Águias é, na verdade, protegido por harpias, ave de rapina brasileira ameaçada de extinção, cujo único predador é o homem.  A partir dessa informação as harpias passaram a ter um papel maior no filme, avisando sempre que o Jardim se encontrava em perigo 

diretora do filme Um Jardim Singular

Cinema e Pipoca: Francisco Malta foi seu supervisor no documentário. Como foi trabalhar com ele?

Mônica Klemz: O professor Francisco Malta sugeriu que eu inscrevesse no festival um roteiro que realizei em sua matéria que é o que eu quase fiz, não fosse o insight que tive após ler Rem Koolhaas. Submeti o novo roteiro para ele que deu o ok. Durante todo o processo de produção e edição ele esteve presente e senti que formávamos uma equipe. Havia harmonia de propósitos.

Cinema e Pipoca: Um Jardim Singular recebeu e continua recebendo prêmios pelo mundo afora. Foi uma surpresa para vocês todo este reconhecimento?

Mônica Klemz: Não teria me inscrito nos festivais se não acreditasse no fruto do nosso trabalho. A surpresa surgiu com a velocidade como as coisas aconteceram e o fato de ser tudo muito novo para todos nós. Tem requerido uma organização e disciplina muito grande.

E aí, o que achou da entrevista com a diretora do filme Um Jardim Singular? Comente com a gente!

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