O Sonho de Rui é uma comédia dramática que começa a ser filmada no Rio de Janeiro e fala sobre um ator fracassado que herda um apartamento do pai e decide vendê-lo para realizar seu maior sonho: seu transformar no Chuck Norris brasileiro e estrelar a refilmagem nacional de um filme famoso do astro.
O projeto independente foi idealizado pelo ator Pedro Monteiro, que vive o personagem-título, com roteiro de Ulisses Mattos e direção de Cavi Borges. No elenco, também estão os atores Augusto Madeira, Cadu Fávero, Pedroca Monteiro e Gabriela Estevão.
Conseguimos um bate papo exclusivo com o diretor Cavi Borges e o roteirista Ulisses Mattos e você confere tudo agora!
Cavi Borges
Cinema e Pipoca: A Cavídeo começou como uma vídeolocadora. Você aproveitou O Sonho de Rui e a questão de ter Chucky Norris como pano de fundo para prestar uma homanegam a esta época?
Cavi Borges: Inicialmente, a Cavídeo seria uma locadora especializada em filmes de luta e ação. Eu era atleta de judô profissional é só gostava desses filmes. Então, desde o início, em 1997, já tínhamos no nosso acervo quase todos os filmes do Chuck Norris, pois ele também era lutador. Mais tarde, a locadora acabou indo para um perfil mais de filmes de arte, mas até hoje ainda tem quase todos do Chuck, van Damme, Stalonne, Bruce Lee, entre outros. Claro que, ao fazer o filme O SONHO DE RUI, usei todas as minhas referências e lembranças desses filmes que marcaram minha adolescência.
CP: Quais as principais dificuldades de se filmar uma comédia?
Cavi Borges: Fazer comédia, na minha opinião, é muito difícil! Tem que ter um bom roteiro e bons atores. Além disso, existem vários tipos de comédia! Fazer uma comédia engraçada e inteligente é o maior desafio. Acho que, graças ao grande roteiro do Ulisses, temos tudo para conseguir isso: fazer rir e também fazer refletir. Um humor corrosivo e ácido que também faz pensar e refletir sobre nosso mundo atual.
CP: Quais as locações utilizadas e planejam filmá-lo em quanto tempo?
Cavi Borges: Usamos praticamente uma única locação: um superapartamento na Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema. Pelo roteiro, precisávamos de um superapartamento e conseguimos. Filmamos em 8 dias pela facilidade de quase tudo ser em uma mesma locação e também por causa do baixo orçamento da nossa produção. No cinema, tempo é dinheiro. Então como nosso filme é 100% independente, precisávamos filmar rápido e reduzir os custos.
CP: Quais os seus filmes favoritos de Chucky Norris?
Cavi Borges: Meus filmes favoritos do Chuck Norris são os Braddocks e também os três filmes do Comando Delta.
CP: Como foi trabalhar novamente com o ator Pedro Monteiro?
Cavi Borges: Sempre achei que meus filmes seriam todos dramas e filmes mais políticos. Foi o Pedro quem, em 2007, me levou para a comédia, quando filmamos juntos ‘Vida de Balconista’. E agora de novo com o Sonho de Rui. Uma experiência muito legal e, pra mim, um grande desafio. Pedro, além de ser muito engraçado, também é um empreendedor. Nos identificamos muito. Ele fazendo mais teatro e eu mais cinema. Poder trabalhar de novo com ele está sendo muito legal. Um ator produtor que corre atrás de seus sonhos e projetos, batalhador e empreendedor. Admiro muito. Sorte tê-lo como ator e parceiro neste novo projeto.
Ulisses Mattos
Cinema e Pipoca: Você e o ator Pedro Monteiro foram os responsáveis pela idealização inicial da ideia e do roteiro. Quais as facilidades e dificuldades de se trabalhar em quatro mãos?
Ulisses Mattos: Eu nem considero que foi um roteiro a quatro mãos, como são os que escrevo pra TV. O Pedro veio com um argumento que eu achei ótimo e me encomendou um roteiro. Ele tinha umas ideias de personagens e um desfecho para a história. A partir daí, desenvolvi dinâmicas entre esses personagens e criei situações cômicas para eles. Depois conversei com o Pedro sobre o final, que eu estava achando muito Deus ex machina, sugeri um plot twist e ele concordou.
CP: Por que você acha que Chuck Norris se transformou neste ícone da internet, mesmo ele não sendo desta geração?
Ulisses Mattos: Acho que a nova geração nem o conhece direito, mas se diverte com a ideia de um astro de filmes de ação indestrutível. Poderia ter sido o Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger, mas eles fizeram outros tipos de papéis também. Norris variou menos. Além do mais, o cara era durão na vida real também, era campeão de artes marciais. Um prato cheio para memes.
CP: Você acredita que há uma padronização das comédias nacionais hoje em dia?
Ulisses Mattos: Sim, como há na TV também. Fazer um filme é muito caro. Para se pagar, ou para que seu diretor tenha chance de emplacar uma nova produção, é preciso que vá muito bem nas bilheterias. Então ele tem que pegar o povão, que tem um tipo peculiar de humor, sem muitas referências, sem muita crítica. Na própria TV fala-se que o público brasileiro quer chegar em casa e se divertir, sem ter que pensar muito. Eu nem vejo isso como algo prejudicial, já escrevi muito humor popular e estou em projetos de filmes desse tipo também. Mas o problema é que um nicho, fã de outro tipo de humor, fica sem opção de comédia nacional.
CP: Qual a grande diferença deste roteiro?
Ulisses Mattos: Essa história mescla momentos dramáticos, com inquietações do personagem principal, e situações cômicas, muitas vezes investindo no humor de constrangimento, no estilo The Office, quando você ri e tem pena do personagem ao mesmo tempo. Há também espaço para crítica de costumes e piadas sobre a cultura pop. Acho que são ingredientes que não vemos muito no cinema e na TV aqui no Brasil. Talvez algo assim esteja mais presente em programas de humor na internet.
CP: Como vê o cinema independente nacional hoje em dia?
Ulisses Mattos: Não acompanho muito o cinema independente nem daqui nem de fora. Estou entrando nesse mercado agora mais como uma necessidade de satisfazer uma necessidade de expressão própria. Quando faço trabalhos para o grande mercado, temos que seguir certos padrões, para sucesso comercial. O cinema independente tem essa vantagem, é algo mais artístico. Uma pena que falte verba.
CP: Qual a previsão para o filme estrear nos cinemas?
Ulisses Mattos: Não tenho certeza, o diretor saber responder melhor. Mas estamos pensando mais em festivais do que em circuito. De qualquer forma, já estamos em conversas para exibir o filme nem que seja em uma única sala, por um ou dois meses. Mas sem uma grande distribuidora envolvida, impossível estar nas salas de shopping.
E aí, o que achou da ideia do filme? E o que achou do Chuck Norris brasileiro?
Crédito das fotos: Eduardo Riganelli
Confira outras entrevista do Cinema e Pipoca!