A princípio, quando Fernando Collor de Mello fechou a Embra Filmes, acabamos nos contentando com produções americanas. Ou seja, nada se produzia, nada se criava, nada saía do papel pelo apoio nulo à Cultura Nacional. Logo depois, esse “jejum cinematográfico” cessou com o retorno do interesse público (ou parte dele!) aos grandes projetos brasileiros para telona, como O Quatrilho.
Hoje, somos bombardeados com diretores incríveis como José Padilha, Beto Brant, Laís Bodanzki e outros, astros em ascensão (Cláudio Gabriel, Alice Braga, Rodrigo Santoro) e roteiros vibrantes e viscerais. Enfim, temos orgulho de dizer: “este é o NOSSO CINEMA”. Mas estamos longe da perfeição e iniciativas como essa do 1º Festival de Cinema de Paulínia tem que ser exemplo para criação de um futuro culturalmente íntegro.
Acima de tudo, é impressionante chegar numa Mostra de Cinema e perceber a sincronia entre organizadores, prefeitura, apoiadores, críticos e mídia em geral. Ao final, este texto poderá soar “apaixonante” demais, simplesmente por ser a primeira vez que o Cinema e Pipoca cobre um evento deste nível. Portanto, não posso descrevê-lo de outro modo.
Em outras palavras, quando se está frente à frente ao Theatro Municipal é mágico. Na parte externa quatro pilares enormes e imponentes nos dão boas vindas. Dentro, arquitetura moderna e sala esplendorosa para shows, teatro e cinema, contando com som, imagem, disposição de lugares, tudo planejado minuciosamente.
Esperamos então, continuação motivadora (dos poderes públicos, passando pelos cinéfilos, atores, diretores e produtores) nos próximos anos, para o festival não cair no esquecimento.
MARATONA DO CINEMA E PIPOCA NO 1º FESTIVAL PAULÍNIA DE CINEMA
06 de julho de 2008
09:30 hs. – Chegamos nas imediações do local, só haviam seguranças e faxineiros.
10:00 hs. – Em seguida conversamos com algumas pessoas que não sabiam se iríamos poder entrar, por não ser da imprensa.
10:15hs. – Logo depois, entramos no saguão e logo após na sala onde seria realizado o debate sobre NOSSA VIDA NÃO CABE NUM OPALA (longa de REINALDO PINHEIRO). Tiramos fotos ao lado do crítico RUBENS EWALD FILHO, bastante atencioso.
12:00 hs. – Almoçamos
15:00 hs. – Ocorreu o debate “O CINEMA NACIONAL E A IMPRENSA”, comandado por EWALD, chamando inúmeros jornalistas ao palco para contarem experiências profissionais e a sua ligação com o Cinema Nacional.
18:00 hs. – Foram apresentados:
Curtas Regionais – CAMINHOS DO TEMPO e GALINHA PINTADINHA;
Documentário – WALDICK SEMPRE EM MEU CORAÇÃO;
20:00 hs. – Foram apresentados:
Curta Nacional: O DOSSIÊ RÊ BORDOSA;
Longa Metragem – PEQUENAS HISTÓRIAS.
07 de julho de 2008
16:00 hs. – Foi apresentado:
Mostra Paralela – FALSA LOURA;
18:00 hs. – Foram apresentados:
Curta Regional – SIMPLESMENTE, HILDA;
Documentário – CASTELAR DE NELSON DANTAS NO PAÍS DOS GENERAIS;
20:00 hs. – Carlos Reichenbach fora homenageado com troféu “MENINA DE OURO”.
20:10 hs. – Foram apresentados:
Curta Nacional – OD OVERDOSE DIGITAL;
Longa Metragem – ALUCINADOS.
09 de Julho de 2008
10:00 hs. – Debate sobre o Documentário A VACA;
10:30 hs. – Debate sobre o Curta Metragem homossexual CAFÉ COM LEITE;
11:00 hs. – Debate sobre o Documentário – SIMONAL, NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI (ovacionado ao fim da sessão);
12:00 hs. – Almoçamos;
Mostra Paralela – CHEGA DE SAUDADE;
18:00 hs. – Foram apresentados:
Curta Regional – INTERPOLAR;
Documentário – RITA CADILLAC, A LADY DO POVO;
19:50 hs. – Foram homenageados: LAIS BODANZKI por CHEGA DE SAUDADE e EDUARDO COUTINHO por JOGO DE CENA;
20:10 hs. – Foram apresentados:
Curtas Nacionais – CODA e VIDA MARIA;
20:30 hs. – JOSÉ MOJICA MARINS (Zé do Caixão) declamou versos macabros, foi aplaudido de pé e teve devido reconhecimento aqui no Brasil;
20:50 hs. – Foi Apresentado:
Longa Metragem – ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO ;
23:10 hs. – O CINEMA E PIPOCA dá adeus ao Festival, torcendo para ano que vem poder mostrar novamente a você, panorama geral da festa.
Estavam presentes no evento (nos 3 dias em que o CINEMA E PIPOCA visitou Paulínia):
MARCOS LUPORINI (diretor de A GALINHA PINTADINHA)
CÉSAR CABRAL (diretor de DOSSIÊ RÊ BORDOSA)
CARLOS REICHENBACH (diretor de FALSA LOURA)
CARLOS PRATES (diretor de CASTELAR DE NELSON DANTAS NO PAÍS DOS GENERAIS)
RICARDO DIAS PICCHI (diretor de SIMPLESMENTE, HILDA)
ROBERTO SANTUCCI, CLÁUDIO GABRIEL (respectivamente diretor e ator de ALUCINADOS) e equipe
MARCOS DE BRITO (diretor de OD OVERDOSE DIGITAL) e equipe
EDUARDO COUTINHO (diretor de JOGO DE CENA)
MICAEL LANGER e CALVITO LEAL (diretores de SIMONAL, NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI)
MARCELO REGINALDO DE MENEZES (diretor de A VACA) e equipe
GUILHERME DE ALMEIDA PRADO e ASSUNÇÃO HERNANDES (respectivamente diretor e produtora de ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA ?)
DANIEL RIBEIRO, DIANA ALMEIDA, DANIEL TAVARES e DIEGO TORRACA (respectivamente diretor, produtora e atores de CAFÉ COM LEITE)
LAIS BODANZKI (diretora de CHEGA DE SAUDADE)
TONI VENTURI (diretor de RITA CADILLAC – A LADY DO POVO)
MATHEUS ALBERTON (diretor INTERPOLAR)
JOSÉ MOJICA MARINS, PAULO SACRAMENTO, CAIO GULLAN (respectivamente diretor e produtores de ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO) e equipe
MÁRCIO RAMOS (diretor VIDA MARIA)
MARCOS CAMARGO, NANA YAZBER, LUCÉIA SÉRGIO e LAIS MARQUES (respectivamente diretor e atrizes de CODA)
Comentário sobre as obras do 1º Festival de Cinema de Paulínia
WALDICK SEMPRE NO MEU CORAÇÃO
PATRÍCIA PILLAR invoca toda experiência da telinha e, portanto, nos traz um trabalho correto, com momentos cômicos e dramáticos sobre a vida do cantor Waldick Soriano. Alguns diálogos soam forçado, mas dá oportunidade para nova geração conhecer um dos ícones da MPB.
NOTA:5,0
CAMINHOS DO TEMPO
Os atores são novatos, o orçamento baixo, num roteiro ultrapassado. Há alguns méritos interessantes no trabalho de SARA PEITROBOM MOURA, mas a naturalidade se esvai nos momentos dramáticos. A duração de 16 minutos oscila tremendamente, mas sabemos das dificuldades para realizar algo independente.
NOTA; 4,0
GALINHA PINTADINHA
Curta metragem coloridíssimo, rápido (apenas 3 minutos) e num tom infantil. A animação “estilo Flash”, bem como o traço cartunesco das galinhas, conseguem segurar a atenção. MARCOS LUPORINI (diretor) comentou sobre a pequena obra, que foi bem aceita pelo público presente.
NOTA: 5,0
PEQUENAS HISTÓRIAS
MARIENTA SEVERO tece quatro histórias cheias de fantasias que, ao mesmo tempo, estão misturadas numa fotografia interessante e nos faz viajar ao Brasil “multicultural”, com suas diferentes crenças, sotaques, alegrias e tristezas. Não é obra prima, mas as horas passam rápidas.
NOTA: 6,0
DOSSIÊ RÊ BORDOSA
O melhor Curta Nacional que o CINEMA E PIPOCA assistiu.Diálogos inteligentes, personagens que tiram gargalhadas em todos os 16 minutos de projeção, enfim, verdadeiro show de humor (as falas de Angeli são geniais).O diretor CÉSAR CABRAL e a equipe conseguem alto padrão em stop-motion. Excelente!
NOTA: 9,0
FALSA LOURA
CARLOS REICHENBACH começa num tom ameno e sem grandes novidades, vai fazendo-nos conhecer suas personagens. Mas do segundo ato, até seu final o longa desanda, as atuações terríveis de CAUÃ REYMOUND e MAURÍCIO MATTAR levam FALSA LOURA ao abismo sem fim das produções nacionais sem valor cultural. Uma pena.
NOTA: 3,0
CARLOS DE NELSON DANTAS NO PAÍS DOS GENERAIS
Documentário homenageando o cinema mineiro, usando seus nomes de maior influência: JOAQUIM PEDRO, ANDREA TONACCI, ALBERTO GRAÇA, bem como SCHUBERT MAGALHÃES. Com imagens incríveis, o diretor CARLOS PRATES peca apenas por não situar melhor os leigos, pois a salada de nomes e referências borbulham na tela do início ao fim da projeção.
NOTA: 5,0
SIMPLISMENTE, HILDA
Curta Metragem delicadíssimo dedicado à escritora Hilda Hilst, contado por MORA FUENTES (que viveu com ela na Casa do Sol). O diretor consegue, em 17 minutos, editar seu trabalho numa forma relevante, fechando um ciclo coerente no desfecho.
NOTA: 6,0
ALUCINADOS
Se DÔSSIE RÊ BORDOSA fora o Melhor Curta Nacional, ALUCINADOS enche os olhos na categoria Melhor Longa Metragem. Portanto, ROBERTO SANTUCCI e equipe deram aula de suspense, contrastando classes sociais, porém nunca caindo na pieguice.Esperamos ansiosamente pelo filme no Circuito Nacional e sua longa carreira na telona.
NOTA: 9,0
OD OVERDOSE DIGITAL
OVERDOSE DIGITAL se torna grande produção principalmente pela edição e montagem milimétricamente unidas. A tela sendo dividida como quebra cabeças, o mantém tremendamente angustiante. Funda isso ao competente elenco e, enfim, temos 16 minutos poderosos.
NOTA: 8,0
CHEGA DE SAUDADE
7 anos após BICHO DE SETE CABEÇAS, LAIS BODANZKI retorna num tom menos “underground”, provando que é uma diretora talentosa. Então, praticamente toda projeção passa-se dentro do clube da 3ª idade , que dá nome à produção. Várias histórias, dramas, alegrias e tristezas são contadas e a visão da velhice colocada como tabu a ser quebrado. Excelente.
NOTA: 7,0
RITA CADILLAC – A LADY DO POVO
Assim como em WALDICK SEMPRE NO MEU CORAÇÃO, este RITA CADILLAC – A LADY DO POVO oscila bastante, com depoimentos hora reveladores, hora de uma banalidade absurdamente incrível. Emoções, risadas, toda carreira estão reduzidas num documentário de 76 minutos. Pura Nostalgia.
NOTA: 6,0
INTERPOLAR
Homem catatônico e seus traumas, dramas e alucinações numa clínica psiquiátrica. Então, no melhor Curta Regional, MATHEUS ALBERTON (diretor) não polpa loucura, só seu desfecho decai levemente pelas atuações dos coadjuvantes.
NOTA: 6,0
ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO
JOSÉ MOJICA MARINS retorna ao cinema e usa claramente influências de JOGOS MORTAIS, O ALBERGUE, ABISMO DO MEDO. O filme em si é amontoado de clichês ultrapassados, sem roteiro, mas não me assustaria se fosse razoavelmente bem nas bilheterias.
NOTA: 6,0
VIDA MARIA
Curta Nacional delicado composto de animação expressiva, atrelado a um roteiro redondinho e feito para cair no gosto daqueles que acompanham a jornada da doce Maria. Além disso, destaco também o carinho dado no tratamento da ambientação, sintonizando espectadores rapidamente.
NOTA: 7,0
CODA
Delírio e rebeldia, bem como fantasias, se misturam neste pequena drama onde cada toque, torna-se turbilhão de emoções. Destaque grande à montagem extremamente enxuta e na forte presença das atrizes principais: NANA YAZBER, LUCÉIA SERGIO e LAIS MARQUES.
NOTA: 6,0
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