Críticas

Terror em Shelby Oaks | Resenha | Vale a pena assistir?

Há um peso considerável quando um filme de terror vem acompanhado do nome Mike Flanagan, ainda que apenas como produtor. Afinal, Flanagan é sinônimo de horror inteligente, com atmosferas densas e personagens emocionalmente complexos — basta lembrar de A Maldição da Residência Hill e Doutor Sono. No entanto, em Terror em Shelby Oaks, esse selo de qualidade acaba sendo mais um chamariz de marketing do que um reflexo real do resultado final.

O longa, dirigido e escrito por Chris Stuckmann, até começa de forma promissora, mas perde o rumo à medida que tenta conciliar ambição autoral com fórmulas seguras de estúdio.

O primeiro ato de Terror em Shelby Oaks

O primeiro ato é, sem dúvida, o ponto alto da produção. Stuckmann abre a narrativa com uma sequência de found footage que remete diretamente a A Bruxa de Blair. Acompanhamos os últimos momentos de uma personagem desaparecida, e logo a estética muda para um formato quase documental, com entrevistas, depoimentos e materiais de arquivo que constroem o mito em torno dos misteriosos assassinatos de Shelby Oaks, uma pequena cidade americana. Essa abordagem híbrida, misturando realidade e ficção, cria uma aura de mistério. Há um senso de investigação jornalística e paranoia coletiva que prende o espectador — especialmente nos primeiros 40 minutos.

Outro acerto é o design de produção. pois as composições de câmera e a fotografia acinzentada lembram a Pripyat pós-Chernobyl, evocando aquele misto de fascínio e repulsa típico de cidades fantasmas. É um espaço que respira tensão, e o filme acerta ao explorar essa geografia como personagem. A sequência dentro do presídio, filmada em handcam, é um dos melhores momentos — claustrofóbica, imprevisível e angustiante.

E aí vem a metade do filme

Mas o problema é que Terror em Shelby Oaks não consegue sustentar essa força inicial. Quando a narrativa passa a acompanhar Mia Brennan-Walker (interpretada por Camille Sullivan), irmã da garota desaparecida, o roteiro começa a se fragmentar. A personagem até tem motivações compreensíveis — o luto e a culpa a movem —, mas suas atitudes beiram o ilógico. Ela toma decisões tão inconsequentes que acabam rompendo a imersão. O que era para ser uma busca desesperada pela verdade se transforma em uma sequência de escolhas para levar o roteiro adiante.

Esse desequilíbrio é agravado pela direção inexperiente de Stuckmann. Como ex-crítico de cinema, ele demonstra conhecimento teórico de gênero, mas carece de maturidade narrativa. Sabe-se também que, após a Neon comprar os direitos, houve injeção de verba e alterações significativas, incluindo um novo final e o aumento da violência gráfica. Quando ao segundo ponto, acho justíssimo, mas o desfecho é menos ousado, menos autêntico e, em última instância, menos memorável.

Apesar das falhas, o longa não é um desastre completo. O uso de câmeras subjetivas e edição de sons cria momentos de verdadeiro desconforto. Há também uma crítica sutil ao sensacionalismo digital, representada pelos “Paranóicos Paranormais”, o canal de YouTube que explora tragédias alheias em busca de audiência. Essa camada metalinguística é interessante e poderia ter rendido mais se o roteiro tivesse coragem de aprofundá-la.

No entanto, esses méritos isolados não salvam o filme de seu principal defeito: a falta de identidade narrativa. Terror em Shelby Oaks tenta ser ao mesmo tempo um mockumentary, um drama sobre trauma familiar e um terror sobrenatural, mas nunca escolhe qual dessas vozes quer seguir. O resultado é uma obra confusa, que perde força a cada tentativa de agradar todos os públicos.

E se Flanagan tivesse dirigido Terror em Shelby Oaks?

Se Mike Flanagan estivesse na direção, talvez o resultado fosse outro — mais coeso, mais emocional, mais maduro. Ainda assim, há talento em potencial, e é possível que Stuckmann, em um futuro projeto com maior liberdade criativa, consiga lapidar o que aqui aparece de forma dispersa.

Se vier uma sequência, será mais por interesse comercial do que por necessidade narrativa. E, sinceramente, talvez fosse melhor deixar Shelby Oaks e seus fantasmas descansarem em paz.

Pôster de Terror em Shelby Oaks
Pôster de Terror em Shelby Oaks

Onde assistir Terror em Shelby Oaks?

Sinopse de Terror em Shelby Oaks:

A busca desesperada de uma mulher por sua irmã há muito tempo perdida torna-se uma obsessão ao perceber que o demônio imaginário de sua infância pode ter sido real.

Nota: ★★½

Título Original: Shelby Oaks
Ano Lançamento: 2025 (EUA | Bélgica)
Dir.: Chris Stuckmann
Elenco: Sarah Durn, Camille Sullivan, Sloane Burkett, Brenna Sherman, Caisey Cole, Anthony Baldasare, Eric Francis Melaragni, Michael Beach, Emily Bennett, Ashleigh Snead

Curiosidades de Terror em Shelby Oaks

A campanha de financiamento coletivo de Terror em Shelby Oaks atingiu sua meta inicial de US$ 250 mil em apenas 24 horas.

Todas as metas estendidas — até US$ 1 milhão — foram alcançados antes do fim da campanha, que terminou com US$ 1.390.845 arrecadados de 14.720 apoiadores, tornando-se o filme de terror mais financiado da história do Kickstarter.

Cerca de oito meses após a Neon adquirir o longa, o estúdio financiou três dias de refilmagens que custaram mais de US$ 1 milhão, incluindo cenas mais violentas que não puderam ser feitas com o orçamento original.

O editor Brett W. Bachman (Mandy, Pig) foi contratado pela Neon para dar a Terror em Shelby Oaks uma edição mais “refinada e polida” após as refilmagens.

Em 2020, Chris Stuckmann citou o filme Caçada e elogiou a atuação de Camille Sullivan em um vídeo de seu canal. Anos depois, ela se tornou a protagonista de Terror em Shelby Oaks — um verdadeiro “momento de ciclo fechado” para o diretor.

As cenas do presídio foram filmadas na Ohio State Reformatory, também conhecida como Mansfield Reformatory, a mesma prisão usada em Um Sonho de Liberdade.

Os portões vistos quando Mia chega à prisão não são os originais — são um cenário remanescente do filme Força Aérea Um (1997), ainda preservado no local.

Em um dos pôsteres promocionais do filme mais de 14 mil pessoas que financiaram a obra foram incluídas como forma de agradecimento.

O termo “succubus” (súcubo) aparece como referência a uma demônia feminina que visita homens durante o sono, imobilizando-os e mantendo relações sexuais — o equivalente masculino é o “incubus”.

A atriz Emily Bennett, que interpreta a diretora do “filme dentro do filme”, é também uma diretora e roteirista de verdade, com trabalhos reconhecidos em festivais.

Apesar das refilmagens financiadas pela Neon, o projeto manteve seu espírito independente, com grande parte da equipe e elenco formada por profissionais que apoiaram o filme desde o início.

Eder Pessoa

Primeiro vingador do Cinema e Séries (antigo Cinema e Pipoca) e do Pipocast, sou formado em Jornalismo e também em Locução. Aprendi a ser ‘nerdzinho’ bem moleque, quando não perdia um episódio de Cavaleiros do Zodíaco na TV Manchete ou os clássicos oitentistas na Sessão da Tarde. Além disso, moldei meu caráter não só com os ensinamentos dos pais, mas também com os astros e estrelas da Sétima Arte que me fizeram sonhar, imaginar e crescer. Também sou Redator Freelancer.

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