Desde sempre a intolerância e o preconceito são temas recorrentes em nossa sociedade, que ainda não aprendeu que, no fim das contas, todos iremos para o mesmo lugar, seja branco, negro, homossexual, bissexual, índio e etc. Mas por mais pessimista que possa parecer, reluto em acreditar que um dia isso mudará, pois antes disso acontecer, provavelmente, nossa raça já terá sido extinta.
Em ‘O Homem Elefante’, David Lynch (‘Eraserhead’) trata desse tema e mostra a real história de John Merick, um homem que nasceu com o rosto completamente desfigurado devido a uma rara doença. Ele é a atração principal num circo, mas após conhecer o Dr. Frederick Travis, sua vida muda e mesmo não tendo chances para recuperação da sua aparência, se sente digno ao ser tratado como humano.
No início da relação, o Doutor parece usar Merick para se auto promover (e talvez, em seu subconsciente, isso era o que ele realmente queria), mas acaba pegando um grande carinho e o adota como um filho. A primeira conversa entre os protagonistas causa certo incômodo, devido, talvez, ao enquadramento e a sutileza de Lynch em não revelar o rosto deformado, mas em se concentrar na persona de Anthony Hopkins para segurar a cena.
A maquiagem é perfeita e assustadoramente real – não envelheceu quase nada ao longo desses anos – e por alguma questão que jamais entenderemos, foi ignorada no Oscar. Outro ponto é a fotografia em preto e branco, que quase ganha vida própria, parecendo suja e mórbida, assim como o dia a dia de Merick no ato inicial.
Para finalizar, os créditos maiores vão para John Hurt, que desfila em tela todos os trejeitos do seu Homem-Elefante. Após Merick ler um trecho de Romeu e Julieta e ganhar um beijo, sentimos que havia um diretor que, desde aqueles tempos, esbanjava talento e vitalidade. Uma obra de rara beleza, que não se apega aos muitos clichês impostos pelo caminho.
Título Original: The Elephant Man
Ano Lançamento: 1980 (EUA / Reino Unido)
Dir: David Lynch
Elenco: Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft, John Gielgud, Freddie Jones, Hannah Gordon, Helen Ryan, John Standing
ORÇAMENTO: 5 Milhões de Dólares