O Cinema e Pipoca entrevista o diretor Dante Vescio do terror nacional ‘O Diabo mora Aqui’ (que também tem Rodrigo Gasparini na cadeira de direção), que fala sobre quatro jovens que decidem passar uma noite em um casarão colonial e acabam envolvidos em uma luta entre forças ancestrais. Eles terão que lutar por suas vidas em uma guerra em que não importa quem vença, eles perdem.
Cinema e Pipoca: Fale um pouco sobre sua carreira, até chegar em ‘O Diabo Mora Aqui’.
Dante Vescio: Eu e o Rodrigo entramos na mesma turma no curso de cinema da FAAP e, logo de cara, descobrimos que tínhamos uma sintonia e um gosto por cinema muito parecidos. Dois moleques que aos 17, 18 anos já tinham visto a obra completa do Bergman, Tarkovsky, Polanski, Fellini e etc. mas com um tesão muito grande por cinema de gênero, e dentro do cinema de gênero, o terror. Fizemos uns curtas premiados durante a faculdade e depois, alguns juntos e outros não, mas a primeira decolada foi com a websérie de terror-comédia com zumbis Nerd of the Dead, que o Rodrigo produziu e foi um dos personagens principais e eu fui o primeiro assistente de direção. A websérie teve uma repercussão grande, levando em conta que foi feita por um grupo de “crianças”, sem nenhum tipo de apoio e/ou incentivo do governo, editais e coisas do tipo. Os quatro episódios tiveram centenas de milhares de views no youtube e participação especial do Danilo Gentili. Depois do Nerd of the Dead, a gente soube que o longa-metragem de terror The ABCs of Death 2, continuação do premiado e já meio cult The ABCs of Death, ia abrir uma competição internacional de curtas. A idéia da competição era que os interessados fizessem um curta de 3 minutos baseado na letra M (por exemplo M is for Murder, M is for Massacre, etc.) para concorrer a uma vaga nessa antologia de 26 curtas (um para cada letra do alfabeto) de diretores renomados do mundo inteiro, todos com a temática de terror, violência e por aí vai. Juntamos a mesma gangue que fez o Nerd of the Dead e, em um mês desde a primeira letra no roteiro até o filme finalizado no site da competição, fizemos o M is for Mailbox. Como era uma competição enorme, com milhares de curtas enviados do mundo inteiro por gente muito talentosa e equipes muito competentes, a gente não achava que ia ter muita chance, mas queríamos participar mesmo assim. No final das contas, M is for Mailbox foi um dos curtas mais assistidos, mais elogiados e mais comentados da competição, ficando em terceiro lugar entre os milhares de inscritos do mundo todo. Isso trouxe um pouco de visibilidade pra gente no mapa do cinema de terror mundial, conhecemos um monte de gente de vários países. Foi uma das melhores experiências da nossa carreira. No final de 2013, logo depois da competição, recebemos o convite do produtor Marcel Izidoro pra embarcar na jornada de dirigir um longa, que veio a se chamar O Diabo Mora Aqui.
CP: Quais as principais referências utilizadas na obra?
DV: É difícil falar sobre referências pra esse filme, porque de certa forma, tudo que a gente assistiu de terror até então (e foi muita, muita coisa) acabou inspirando a gente de algum jeito. Mas de forma geral, nos inspiramos muito em filmes de casas mal-assombradas dos anos 60, 70 e 80, como The Haunting, The Innocents, The Changeling e The Legend of Hell House, até alguns exemplares mais contemporâneos do gênero, como Os Outros e The Conjuring. Esses filmes nos inspiraram a criar uma atmosfera constante de tensão e suspensão. Em termos de estilo e estética, nos inspiramos muito no remake de Evil Dead, lançado em 2013. Esse filme foi a nossa principal referência em termos de visual e estilo de direção.
CP: Como surgiu a ideia do roteiro e em quanto tempo ele foi escrito?
DV: A idéia original do roteiro é do nosso produtor Marcel Izidoro, que há anos queria fazer um filme que trouxesse uma releitura moderna de algumas coisas do folclore brasileiro. Ele então chamou o nosso amigo Rafael Baliú (roteirista do Nerd of the Dead e do M is for Mailbox) pra transformar essa ideia numa história mais moderna e universal, sem perder esse toque de folclore brasileiro e um gosto da nossa cultura e história passada. A primeira versão do roteiro foi escrita em alguns meses, mas ele foi sendo sempre reescrito, durante a pré-produção e até mesmo durante as filmagens.
CP: Existe alguma intenção de colocá-lo em circuito nacional ou é algo fora de questão?
DV: Existe uma intenção, sim. Estamos conversando com algumas distribuidoras nacionais, mas nada fechado ainda. De uma forma ou de outra, o filme vai alcançar o seu público!
CP: Onde foram feitas as locações e como decidiram que ali seria o local ideal para as filmagens?
DV: Desde o início do processo já tínhamos a locação decidida. Essa locação é uma fazenda colonial, construída na época da escravidão, na cidade de Amparo, no interior de São Paulo. Ela é da família do nosso amigo Guilherme Aranha, que atuou no filme como primeiro assistente de direção e colaborador-chave na história do filme. Essa fazenda é quase como um personagem no filme. Por si só, ela já carrega muitas histórias, muito passado e é bem assustadora, o que foi ótimo pro filme.
CP: Como foram feitas as escolhas dos atores para cada personagem?
DV: Desde o começo, a gente decidiu procurar atores que, além de terem o perfil e o visual certo pros seus personagens, parecessem ‘gente como a gente’. Atores que trariam para o filme uma naturalidade na atuação e, com isso, criariam um elo mais forte com o espectador. Não tem nada mais irritante em um filme de terror do que um grupo de personagens que, ao invés de você torcer pra eles sobreviverem, você torce pra que eles morram, de tão chatos e superficiais que eles são. Queríamos evitar isso de qualquer jeito.
CP: Tem outros projetos engatilhados para um futuro próximo? Se sim, poderia nos falar um pouco sobre eles?
DV: Temos algumas ideias em mente, sim. Queremos continuar trabalhando dentro do cinema de gênero, seja de terror ou não. É a nossa principal paixão. Mas falando sobre um possível próximo filme, queremos muito jogar uma criatura famosa e terrível (um vampiro ou um lobisomem) na loucura e na psicose urbana que é a cidade de São Paulo.