O Auto da Compadecida 2 | Crítica
Quando fiquei sabendo que haveria O Auto da Compadecida 2 tive um misto de sensações. Primeiramente, porque seria difícil chegar na grandiosidade do primeiro projeto – e não teríamos o texto de Ariano Suassuna para se basear -, mas todo o time original voltaria, com destaque para o diretor Guel Arraes e Matheus Nachtergaele como João Grilo, Selton Mello como Chicó e Virginia Cavendish, como Rosinha, além da adição dos talentosos Taís Araújo como Nossa Senhora Aparecida, papel que foi eternizado por Fernanda Montenegro, Eduardo Sterblitch, Humberto Martins como Coronel Ernani, Luís Miranda e Fabiula Nascimento.
E logo nas primeiras cenas, há uma sensação estranha, pois a cidade é toda feita em estúdio, ao contrário da locação real e que também era uma personagem no original, passando pelo fundo verde horroroso e uma certa desconexão dos diálogos e das linhas narrativas, que tentam emular aquilo que Suassuna deixou, mas falham miseravelmente. Até mesmo a icônica frase: “não sei, só sei que foi assim”, é jogada de qualquer jeito, só para acariciar o fã nostálgico com migalhas.
Quem me acompanha sabe que não tenho problema algum com sequências, até por isso me diverti muito com Jurassic World, por exemplo. Mas mesmo nestes casos, precisamos notar que há respeito com o produto original e que os envolvidos desejem estar ali. O que acontece em O Auto da Compadecida 2 é que o longa metragem não tem alma, não tem ritmo, não tem a capacidade de sincronizar a dublagem (refeita em estúdio) com as falas dos personagens e isso, meu caro leitor, foi o que mais me irritou.
O Auto da Compadecida 2 e a redublagem de centavos
Você vai ao cinema ver um filme e não imagina que ficará diante de uma redublagem bizarra como essa. Num primeiro instante, achei que fosse algo pontual e que pequenos diálogos de Clarabela, vivida por Fabiula Nascimento, estavam fora de sincronia… até aí, ok. Mas o projeto segue e, em mais da metade dele, conseguimos notar claramente essa dessincronização (para minimizar isso, colocam, em certas passagens, os personagens de costas para a câmera. Desta forma o espectador não verá essa movimentação labial). E então, me pergunto: como deixaram isso passar? Não seria melhor refazerem essas cenas, mesmo que custasse um pouco a mais no orçamento final?
Se queriam apenas lucrar, a conta fechou com louvor, pois o projeto já arrecadou mais de R$ 60 milhões, contra R$ 18 milhões de seu orçamento. Mas, que tal se João Grilo não morresse novamente pelas mãos da mesma pessoa? Que tal se houvesse algo diferente de um julgamento tendo Aparecida como advogada de defesa e o demônio como advogado de acusação e Jesus como juiz? E se pudessem contratassem outros atores para viverem o demônio e Jesus Cristo, que na pele de Matheus Nachtergaele, com aquela maquiagem, penteado e figurino, poderiam me tirar risos, se eu não estivesse tão frustrado? Uma ou outra piada se salva, mas no cômpito geral, O Auto da Compadecida 2 parece ser uma brincadeira de mau gosto.
Onde assistir O Auto da Compadecida 2?
- O filme segue em diversas salas de cinema pelo Brasil
Sinopse de O Auto da Compadecida 2
Depois de 20 anos desaparecido, João Grilo retorna à Taperoá para se juntar ao velho companheiro Chicó e, após sua história de ressurreição ter se espalhado, é disputado como cabo eleitoral pelos dois políticos mais poderosos da cidade.
Nota Cinema e Séries: ★½
Título Original: O Auto da Compadecida 2
Ano Lançamento: 2024 (Brasil)
Dir: Guel Arraes, Flávia Lacerda
Elenco: Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Kauã Rodrigues, Taís Araújo, Luisa Arraes, Virginia Cavendish, Juliano Cazarré, Humberto Martins, Luis Miranda, Eduardo Sterblitch
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