Entrevistas

Estúdio Escola de Animação estimula jovens para o mercado de animação

zé brandão

No ano em que o Brasil será o país homenageado no célebre Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, na França, considerado o Oscar da Animação, o Estúdio Escola de Animação (EEA) se prepara para iniciar o sexto ano de atividades. Jovens entre 16 e 24 anos, do Rio e Grande Rio, podem concorrer a uma das 45 vagas que serão abertas em três turmas.

Em relação ao processo de desenvolvimento do gênero animação no Brasil, o organizador Zé Brandão comenta que “o crescimento que estamos vivendo nos últimos anos é algo sem precedentes. A animação brasileira hoje está em todas as plataformas. É sucesso de público, conquistando liderança de audiência, e é sucesso de crítica, vencendo diversos prêmios internacionais.

Por isso, batemos um papo com Brandão e outros 3 ex-alunos do Estúdio Escola de Animação. Confira tudo na íntegra!

Zé Brandão (organizador do Estúdio Escola de Animação)

CP: Como surgiu a ideia do Estúdio Escola Animação?

ZB: Hoje minha profissão é produzir desenhos animados. Quando eu era mais novo, pensando o que ia fazer da vida, essa ideia não passava pela minha cabeça. Quando a Baluarte (Gestora do Estúdio Escola) conversou comigo, pensando em desenvolver um projeto que envolvesse educação e cultura, achamos que seria uma oportunidade de proporcionar a jovens que estão decidindo sua profissão, uma experiência que demonstrasse o desenho animado é sim uma possibilidade real de ganhar a vida.

Alunos em sala

CP: Quantos alunos já passaram pela Escola? Existe algum tipo de acompanhamento aos alunos após o término destas atividades?

ZB: Desde 2012. Nas 5 edições que tivemos do Estúdio Escola, 207 alunos frequentaram o curso. Procuramos manter contato com nossos ex-alunos através de grupos online e até mesmo convidando para algumas atividades e trabalhos que possam surgir. Por exemplo, todas as imagens e vinhetas das chamadas para inscrição desse ano foram produzidas por ex-alunos do Estúdio Escola. Todos os monitores que auxiliam os trabalhos dos professores em sala são ex-alunos do Estúdio Escola. Se alguma produtora nos pede indicação de profissional ou estagiário, sempre indicamos alguém do curso.  

CP: Quais as aulas apresentadas por vocês nesta edição e quanto tempo tem o curso?

ZB: O curso tem uma duração de 5 meses com 2 aulas semanais de 4 horas cada. A carga horária total do curso é de pelo menos 180 horas. Nesse tempo dá para falar de muita coisa que envolve a produção da animação. Mas focamos principalmente nos princípios básicos da animação, ou seja, como produzir a ilusão de movimento e vida dos seus personagens, falamos de cenários, desenho de personagens, storyboard, edição e roteiro.  

CP: Passaram por muitos empecilhos para conseguirem desenvolver este projeto? (desde a questão econômica, passando pela escolha dos locais para as oficinas e etc.)

ZB: Tivemos algumas dificuldades, tanto é que no ano de 2015 não pudemos realizar o curso porque não conseguimos todo o patrocínio necessário. O curso é gratuito para os alunos, e ainda oferecemos transporte e alimentação. Sem patrocínio, não conseguimos fazer. Acho que essa é a maior dificuldade. Todo o resto são desafios que conseguimos sempre superar. O carinho de todos os envolvidos no projeto é muito grande. 

Aluna em sala

CP: Além de professores, acredito que vocês também tentem passar questões como ética, cidadania e etc., principalmente numa cidade onde a violência nas periferias é tão grande. Mas como vocês conseguem chamar atenção deles para irem estudar na escola?

ZB: Acho que nosso modo de transmitir valores é através do respeito, carinho e seriedade com que trabalhamos com eles, sempre valorizando aqueles que mais se esforçam ou encontram maiores dificuldades para frequentar o curso. Acho que dessa forma os valores são transmitidos naturalmente.

CP: Há planos para que esta ideia se propague para outros estados do país?

ZB: Sim, mas por enquanto ainda é um desejo a longo prazo.

CP: Para quem quiser participar, onde se inscrever?

ZB: É só entrar em www.estudioescola.com.br.  As inscrições vão até 25 de Março!

Ex-alunos do Estúdio Escola de Animação

Vitor Alves é estudante de Design e tem 19 anos. Iana Alves tem 23 anos e atualmente trabalha  na Globo.com como UX designer. E Luiza Esteves de 20 anos é tatuadora. Todos eles foram ex-alunos do Estúdio Escola e contaram um pouco de suas experiências para o Cinema e Pipoca!

Trecho das animações feitas pelos alunos

Cinema e Pipoca: Você já tinha ideia de como eram feitas as animações antes do curso?

Vitor Alves: Sim. Animação foi uma área que sempre me interessou, então eu desde pequeno já procurava saber mais como era feito, mas não num nível tão aprofundado.

Iana Alves: Eu tinha uma noção de como as animações tradicionais eram feitas, mas não conhecia o processo de produção comercial que ocorre nos estúdios hoje em dia. Foi super interessante perceber a diferença entre esses dois tipos de processo.

Luisa Esteves: Sabia muito pouco e na prática vi que era diferente do que eu achava que sabia.

CP: Da produção de qual curta você participou? E quanto tempo demorou  para que o projeto ficasse pronto?

Vitor Alves: Ratolactasia. Entre 3 e 4 meses.

Iana Alves: Participei do curta “Trevas à parte”, que levou cerca de 4 meses para ficar pronto.

Luisa Esteves: Taxidermia. Acho que demorou 7 semanas no total. Depois da pré produção, fizemos em 4 semanas.

Trecho das animações feitas pelos alunos

CP: Em todo este processo, o que é mais fácil e mais difícil de se fazer?

Vitor Alves: A parte mais fácil e divertida é criar, esse é o momento que nossas mentes são livres pra terem ideias novas. Cada um tem habilidades diferentes, justo por isso é difícil juntar tantas ideias de mentes diferentes para criar um roteiro que seja bom e depois animar de uma forma que tudo se conecte. Porém os professores são ótimos e souberam conduzir muito bem as turmas.

Iana Alves: Acho que o mais difícil é o roteiro. Estruturar a narrativa para que ela passe uma mensagem clara e que faça sentido através de imagens e sons em tão pouco tempo. Acho que nada foi incrivelmente fácil, mas o mais divertido pra mim foi o processo de animação em si. Trabalhar dentro do software para dar vida e personalidade aos desenhos.

Luisa Esteves: O mais fácil, pra mim, é inventar a estória. O mais difícil acredito que seja dar personalidade aos personagens.

CP: O que é o Estúdio Escola Animação para você?

Vitor Alves: Pra mim ele foi um guia muito especial nessa jornada de se tornar animador.

Iana Alves: O Estúdio Escola é uma oportunidade incrível para jovens experimentarem esse mercado que foge muito das carreiras tradicionais de hoje em dia. Graças a ele, eu e muitas pessoas pudemos ver que a animação é sim uma profissão e que é viável levar uma vida nesse campo.

Luisa Esteves: Um projeto lindo e inclusivo, que estimula jovens com potencial para um setor no mercado de difícil acesso, pois um curso de animação não está acessível ao bolso de todos.

Trecho das animações feitas pelos alunos

CP: Pretende seguir na carreira? E já tem planos para novas animações?

Vitor Alves: Sim, estou inclusive tentando estágio em alguns estúdios para continuar aprendendo e aperfeiçoando minhas habilidades. E tenho algumas ideias sim de novas animações, mas ainda são só ideias.

Iana Alves: Sim! Atualmente estou estudando mais a parte da animação 3D. Pretendo divulgar o portfólio e tentar vagas no futuro. Graças ao Estúdio Escola, tenho uma base muito boa, mas acredito que ainda preciso estudar muito para ser uma profissional na área. Tenho planos de um curta animado para o ano que vem, mas até o momento ele está em fase de pré-produção.

Luisa Esteves: Ainda não estou certa quanto a isso, mas com certeza me apaixonei ainda mais pelo mundo fantástico da animação e ainda tenho muitos projetos em mente pra dar vida aos meus personagens do meu universo onírico.

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