Cemitérios – Territórios de Fé e Arte, dirigido por Marcos Rogatto, será exibido em uma sessão especial no dia 31 de agosto, às 18 horas, na Casa do Lago, localizado na Av. Érico Veríssimo, 1011 – Cidade Universitária, na Unicamp.
O documentário apresenta os cemitérios da Saudade (Campinas), da Consolação (São Paulo) e o Israelita de Cubatão, conhecido por Cemitério das Polacas, como ricos territórios que abrigam uma complexa mistura de histórias, paisagens e artes.
Após a sessão, haverá um bate-papo com o diretor, a produtora executiva e roteirista Patrícia Ogando e a Prof. de Multimeios Denise Carvalho, sobre a realização de documentários no Brasil e a importância desses cemitérios como um patrimônio cultural valioso a ser preservado.
Abordagem de Cemitérios – Territórios de Fé e Arte
Os cemitérios são muito mais do que locais de descanso final; eles são um patrimônio cultural material e imaterial que reflete as crenças, tradições e histórias de uma comunidade. “Cemitérios: Territórios de Fé e Arte” aborda tanto os aspectos estéticos e arquitetônicos dos cemitérios quanto as complexas relações do imaginário local em ritos devocionais. Aqui, as crenças religiosas se fortalecem na delicada interação entre vivos e mortos.
“O documentário retrata diferentes cemitérios e suas peculiaridades como arte tumular, presença dos “milagreiros” beatificados pela crença popular, rituais das religiões de matrizes africanas e segregação religiosa. São territórios ricos em história e importante legado que deve ser valorizado e preservado”, explica o diretor.
Os cemitérios de Campinas
O Cemitério da Saudade, em Campinas, é o maior cemitério municipal da cidade. Situado no bairro Ponte Preta, ele abriga mais de 3 mil sepulturas tradicionais e é marcado por notáveis elementos arquitetônicos de Ramos de Azevedo. O local, agora tombado como patrimônio, é o repouso final para figuras emblemáticas, como o escravo Toninho e a prostituta Maria Jandira, que, apesar de marginalizados em vida, agora atraem uma legião de devotos e recebem milhares de visitas anualmente.
Considerado um dos mais importantes locais da capital, o Cemitério da Consolação é conhecido pela sepultura de personalidades brasileiras, desde artistas e intelectuais até fazendeiros, comerciantes e industriais que fizeram parte de diferentes ciclos econômicos do Brasil. Este cemitério, também tombado como patrimônio, se destaca por sua impressionante arte tumular, que atrai curiosos e turistas. Esculturas e obras de arquitetura narram as histórias de muitos artesãos, imigrantes italianos e portugueses, que eram marmoristas em seus países de origem.
Já o Cemitério Israelita de Cubatão, datado de 1929, abriga lápides de mulheres conhecidas como polacas. Muitas dessas mulheres chegaram ao Brasil ainda jovens, com a promessa de casamento e segurança em uma nova terra. Infelizmente, ao chegarem, eram forçadas à prostituição na região portuária de Santos. Este capítulo obscuro da história é pouco conhecido, mas é resgatado no documentário.
Os personagens de Cemitérios – Territórios de Fé e Arte
Para além dos espaços-personagens de Cemitérios – Territórios de Fé e Arte, os mortos e os vivos que ocupam os cemitérios também são personagens interessantes, como o caso de Francivaldo Gomes, apelidado de Popó, um ex-coveiro que se tornou guia de visitas no cemitério da Consolação.
Com uma memória enciclopédica, ele encanta os turistas com suas visitas guiadas, compartilhando histórias biográficas relacionadas às ruas e avenidas da capital. Recentemente, o cemitério passou por mudanças na administração, mas Popó continua trabalhando lá, enquanto a transição ocorre. Com a privatização do serviço funerário do município de São Paulo, incertezas surgem, mas as visitas guiadas por Popó, que foram interrompidas por um período, continuarão até o final deste ano.
“Foi um desafio enorme selecionar o que colocar em somente 15 minutos de filme para atender o edital. Com o tanto de depoimentos, histórias e imagens a gente podia fazer um longa. Fora as histórias que a gente gostaria de aprofundar, outras pessoas para entrevistar. Esperamos, quem sabe, dar continuidade ao resgate dessas histórias em projetos futuros, para que as pessoas conheçam mais sobre esses patrimônios e a história“, explica a produtora executiva e roteirista Patrícia Ogando.