O Oscar 2020 vem aí e eu ainda não vi A Vida Invisível, que é o representante brasileiro para a premiação mais conhecida e festejada da Sétima Arte (e desde já estou torcendo muito por ele), mas depois de conferir este projeto dirigido por Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, me vem um questionamento: Bacurau, o melhor filme nacional do ano?
É verdade que o longa não agradará a todos, pois tem um primeiro ato contemplativo e lento, inserindo o espectador àquele lugar em um take do planeta Terra visto do espaço, que vai se aproximando até chegar ao vilarejo. Esta contemplação, citada anteriormente, continua em momento específicos, como quando um caminhão levando água (que representa vida) atropela caixões no meio da pista ou quando as câmeras capturam uma mandíbula de tubarão no meio da terra batida.
Se Bacurau é o personagem principal, começamos a conhecê-lo melhor junto com Teresa, que retorna à cidade depois de vários anos. E todos ali têm um papel fundamental, uns por cuidarem da saúde dos moradores (papel de Sônia Braga, que se despe de qualquer vaidade para moldar uma mulher forte) e outros por protegerem os seus com unhas e dentes, enfim, é uma gama imensa de ótimos personagens… mesmo que um ou outro coadjuvante gringo tenha diálogos pouco naturais.
Além de resvalar em Glauber Rocha e no Cinema Novo, ainda toca em feridas expostas no Brasil atual, como a violência fora do eixo Rio-São Paulo, tratada com esforço mínimo pelas autoridades, o descaso em relação a cultura, educação e a nossa própria história (a cena dos livros amontoados trazidos num caminhão e jogados no meio da rua são provas de como tratamos algo tão essencial) e as condições pouco igualitárias para as cidades e vilarejos menores, que assim como ocorre no roteiro, são praticamente excluídas do mapa.
Quando chega o terceiro ato, com uma virada surpreendente, este faroeste moderno com pitadas de scifi, ganha contornos ainda maiores de gore, capitaneado com raça por Silverio Pereira. E quando os créditos aparecem, temos a seguinte frase: “a realização e distribuição desse filme gerou mais de 800 empregos diretos e indiretos. Além de ser a identidade de um país, a cultura é também indústria.”, ou seja, mesmo com governos autoritários e ditatoriais, precisamos lutar para que este legado se mantenha vivo e próspero… e obrigado Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles por não desistirem da gente!
Sinopse de Bacurau
Todos os membros da família Ki-taek estão desempregados e vivem numa casa caindo aos pedaços. Mas quando o filho começa a dar aulas para uma jovem de família de classe alta, uma esperança de rendimento regular é criada. E a partir deste primeiro encontro uma cadeia de trágicos incidentes terá início.
Título Original: Bacurau
Ano Lançamento: 2019 (Brasil | França)
Dir: Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Elenco: Bárbara Colen, Thomas Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles, Sônia Braga, Udo Kier
ORÇAMENTO: —
NOTA: 9,0