Ainda Estou Aqui | Crítica
Não haveria momento melhor para o lançamento de Ainda Estou Aqui do que este. A extrema direita começa a retomar o poder e a fazer cada vez mais barulho, moldando um ataque severo às minorias, seja aqui no Brasil, nos Estados Unidos, com o retorno de Donald Trump e em outros pontos do mundo. E assim como sempre pontuo, é fato que a arte deve tocar em feridas e dar aquela chacoalhada nas pessoas, para que episódios como este, da Ditadura Militar, não voltem e nem sejam esquecidos.
Porém, o longa-metragem vai além, contendo um texto redondo, baseado no livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva, uma reconstrução de época minimalista (impressionante o que Walter Salles e os demais envolvidos conseguiram com pouquíssimo orçamento) e atuações de peso – mas disso falaremos em breve.
Lembrando que este drama familiar pode ser conferido e compreendido universalmente, pois dezenas de países já tiveram suas ditaduras. Nesse ínterim, Salles não foca na violência gráfica, mas tenta compreender as dores e o sofrimento da família Paiva e, em inúmeros trechos, isso causa mais agonia e revolta, justamente por conta desta escolha (veja a cena do DOI-CODI) e por avaliar que absolutamente ninguém estava a salvo – mesmo uma família da elite carioca como aquela.
Um elenco de peso em Ainda Estou Aqui
Se Selton Mello vai muito bem na pele de Rubens Paiva – ganhou até alguns quilos para interpretá-lo e ficou bastante parecido -, é Fernanda Torres quem dá o tom às duas horas e dezesseis minutos de filme. Sua Maria Lucrécia Eunice Facciolla não está o tempo todo lamentando e não tem grandes explosões de raiva, é uma mulher controlada e decidida a saber o que aconteceu com seu marido.
Central do Brasil mostrava um lado esquecido e até marginalizado de nosso país, mas dava um tom de ternura e um contexto familiar e Ainda Estou Aqui segue na mesma toada, sem cair em armadilhas e clichês que poderiam aparecer pelo caminho.
Décadas depois de todos os sequestros e assassinatos, militares ainda têm seus nomes expostos em ruas de diversas cidades e uma parte da população cita que era uma “época boa” para se viver. Então, se conquistarmos um Oscar, o gostinho será especial, mostrando que toda luta contra este sistema valeu e seguirá valendo a pena!
Obs.: Fique atento com a atuação de Fernanda Montenegro.
Onde assistir Ainda Estou Aqui?
- O filme está com horários e sessões em diversos cinemas do país
Sinopse de Ainda Estou Aqui
No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos – vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice – cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas – é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.
Nota Cinema e Séries: ★★★★★
Título Original: Ainda Estou Aqui
Ano Lançamento: 2024 (Brasil | França)
Dir: Walter Salles
Elenco: Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Otavio Linhares, Maeve Jinkings, Marjorie Estiano, Antonio Saboia, Camila Márdila
Confira outras resenhas AQUI!
Curiosidades de Ainda Estou Aqui
- Lançado no 95º aniversário de nascimento de Eunice Paiva, em 7 de novembro de 2024, marcando também o 60º aniversário do golpe militar de 1964 no Brasil.
- Fernanda Torres perdeu cerca de 10 kg para o papel, pois a personagem emagreceu muito durante os 12 dias em que esteve presa.
- Para o diretor Walter Salles, contar a história da saga da família Paiva foi uma missão pessoal, já que ele era amigo da família desde os 13 anos. Salles passou mais de quatro anos desenvolvendo o projeto.
- Este se tornou o 5º filme nacional a ser indicado na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira.
- A casa real onde a família Paiva morava ficava no bairro do Leblon (Avenida Delfim Moreira, 80) no Rio de Janeiro e foi demolida em 1983 para dar lugar a um edifício. As filmagens ocorreram no bairro da Urca.
- Esta foi a primeira colaboração entre Fernanda Montenegro e Walter Salles desde Central do Brasil (1998).
- Fernanda Torres e Salles já haviam trabalhado juntos em Terra Estrangeira (1995) e O Primeiro Dia (1998).
- Selton Mello ganhou 20 kg para o papel de Rubens Paiva.
- Fernanda Torres disse que o diretor Walter Salles cortou todas as suas cenas de choro no filme. Marcelo Rubens Paiva afirmou que sua mãe, Eunice Paiva, nunca chorava na frente da família e era muito contida.
- O filme foi gravado em 35mm, seguindo a ordem cronológica do roteiro.
- Nos recortes de Eunice no filme, há uma capa de revista Veja, com uma foto do verdadeiro Rubens Paiva.
- O diretor Walter Salles pediu às atrizes Luiza Kosovski e Valentina Herszage para decorarem seus próprios quartos de personagens. Elas tomaram várias referências de filmes e músicas dos anos 1970 para isso.
- Fernanda Torres afirmou que a decisão do diretor Walter Salles de filmar as cenas na mesma ordem do roteiro permitiu que os atores se unissem como uma verdadeira família e sentissem o crescente medo e opressão que os personagens viviam.
- Marcelo Rubens Paiva, autor do livro em que o filme se baseia, ficou tetraplégico em 1979, aos 20 anos, após mergulhar em um lago raso e fraturar a quinta vértebra cervical.
- Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello também estrelaram O Que é Isso, Companheiro? (1997), outro projeto sobre a Ditadura Militar.
- De acordo com Marcelo Rubens Paiva, este filme só foi possível porque a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff instalou a Comissão Nacional da Verdade, permitindo o acesso a documentos do governo militar. Foi através disso que Paiva conseguiu escrever o livro que originou o filme.
- É o filme mais barato dentre os 10 que estão concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, custando US$ 1,35 milhão, cerca de R$ 8 milhões.